«Entalado» está o povo

Jorge Cordeiro

A moção de cen­sura apre­sen­tada pelo PCP e o ob­jec­tivo que lhe está as­so­ciado – uma clara exi­gência de rup­tura com a po­lí­tica de di­reita e com a acção des­trui­dora do Go­verno e de re­jeição do pacto de agressão – cor­res­pon­derá como nunca às as­pi­ra­ções da ge­ne­ra­li­dade dos tra­ba­lha­dores e do povo por­tu­guês. Uma moção que dando ex­pressão ao sen­ti­mento de in­qui­e­tação e de in­dig­nação, rom­pendo com o manto de ilu­sões todos os dias es­pa­lhado, des­mon­tando os fan­ta­si­osos «su­cessos» ven­didos pelo Go­verno, tra­zendo do céu para a terra a dura re­a­li­dade com que o País está con­fron­tado, con­tribui para que mais por­tu­gueses tomem cons­ci­ência de que, se o País já não está à beira do abismo como há dias afirmou o pri­meiro-mi­nistro, é porque já se deu o passo em frente e nele já se caiu.

Per­cebe-se o in­có­modo de muitos. Como me­lhor se per­cebe o ar­senal de ar­gu­mentos ar­re­mes­sados contra o PCP. Ino­por­tuna, bramam uns para, sob mal ama­nhados pre­textos, es­con­derem o seu in­có­modo pelo que a moção pode re­pre­sentar de obs­tá­culo ao pros­se­gui­mento de uma ofen­siva que, di­zendo cri­ticar, as­piram que pros­siga sem so­bres­saltos; ir­res­pon­sável, bramam ou­tros para, a pre­texto de uma ale­gada «de­ses­ta­bi­li­zação» e «crise po­lí­tica» que a sua apro­vação sig­ni­fi­caria, verem as­se­gu­rada a es­ta­bi­li­dade que de­sejam para pros­se­guir a sua ofen­siva po­lí­tica que está a ar­rastar, essa sim, para uma crise sem pre­ce­dentes a vida de mi­lhões de por­tu­gueses e a si­tu­ação eco­nó­mica e so­cial; mera jo­gada tác­tica, bramam uns e ou­tros para, pro­cu­rando negar a di­mensão de co­e­rência e de­ter­mi­nação que a moção en­cerra, in­si­nuar que ela se des­tina não a in­ter­romper o ca­minho para o de­sastre mas sim a uma hi­po­té­tica in­tenção de «en­talar o PS». Tran­qui­lizem-se as almas: para lá da mania das gran­dezas de quem possa, jul­gando-se o centro do mundo, julgar que tudo é feito a pensar em si, a ver­dade é que ali, no PS, nin­guém se deixa en­talar. Ali mora quem está, so­bre­tudo, dis­posto a con­ti­nuar a en­talar a vida dos tra­ba­lha­dores e do povo por­tu­guês, de braço dado com o Go­verno na con­cre­ti­zação do pacto de agressão que subs­creveu e em­pe­nha­da­mente con­cre­tiza, po­sição en­tre­meada a es­paços com umas abs­ten­ções vi­o­lentas e umas ri­dí­culas ame­aças opo­si­ci­o­nistas.



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