Entre ameaças e ilusões
Apesar das inaceitáveis pressões, a maioria do eleitorado grego voltou a rejeitar, dia 17, os partidos favoráveis à aplicação do memorando da troika. Juntos, a Nova Democracia e o PASOK somaram menos de 42 por cento dos votos.
Por uma curta margem, a Nova Democracia (ND) venceu o duelo com a coligação Syriza: a primeira obteve 29,66 por cento dos votos e 129 deputados, a segunda, 26,89 por cento e 71 deputados.
As ameaças vindas de fora, e amplificadas pelos partidos do memorando e pela generalidade dos meios de informação, levaram a uma maior concentração de votos no partido da Antonis Samarás.
Por seu lado, o sentimento generalizado de rejeição às políticas de austeridade traduziu-se numa notória subida da Syriza, coligação que pretendia «rasgar» o memorando e nacionalizar a banca, ao mesmo tempo que prometia a manutenção do país na zona euro e na União Europeia.
De resto, foram os únicos partidos a subir em percentagem e em deputados em relação às eleições de 6 de Maio, quando obtiveram, respectivamente, 18,85 por cento e 108 deputados e 16,78 por cento e 52 deputados.
Porém, ao contrário das eleições anteriores, a subida dos conservadores e o facto de serem a força mais votada, tendo por isso direito ao bónus de 50 deputados, tornam possível a formação de um governo com o apoio dos sociais-democratas do PASOK.
Apesar de ter baixado em percentagem e em deputados (12,28% e 33 deputados contra 13,18% e 41 deputados em 6 de Maio), o número de eleitos do PASOK é suficiente para garantir uma maioria com a ND no parlamento composto por 300 assentos.
A eles poderão somar-se a Esquerda Democrática, cisão da Syriza e do PASOK, (6,26% e 17 deputados, contra 6,10% e 19 deputados, em 6 de Maio) ou os Gregos Independentes, cisão da ND (7,51% e 20 deputados, contra 10,60 % e 33 deputados).
Por seu turno, o partido neonazi «Aurora Dourada» manteve a votação, mas perdeu eleitos (6,26% e 17 deputados, contra 6,10% e 19 deputados). Quanto ao Laos, antiga cisão da ND, que já tinha sido irradiado no parlamento, baixou para 1,59 por cento, contra 2,9 por cento, em Maio.
Comunistas resistem
Fortemente atingido pela polarização do discurso em torno de ameaças e ilusões, o Partido Comunista da Grécia (KKE, na sigla grega) viu a sua votação declinar para 4,5 por cento, contra 8,48 em 6 de Maio, e o seu grupo parlamentar passar de 26 para apenas 12 deputados.
Como lembrou a secretária-geral, Aleka Papariga, os comunistas estavam conscientes de que, para o partido, «estas seriam as eleições mais difíceis e mais complexas dos últimos 40 anos».
No entanto, acrescentou, «o KKE preferiu contar a verdade ao povo sobre o carácter da crise e os possíveis resultados dos desenvolvimentos negativos da eurozona, quanto ao carácter da União Europeia, quanto à necessidade do cancelamento unilateral da dívida, à necessidade da desvinculação da UE e da luta pelo poder da classe trabalhadora».
PCP solidário
Numa declaração de Pedro Guerreiro, membro do Comité Central, emitida no domingo, 17, o PCP considera que os resultados das eleições gregas traduzem «a condenação dos partidos responsáveis pelo programa de destruição social que está a ser imposto à Grécia pela União Europeia e pelo FMI, expressa na redução da percentagem obtida pela Nova Democracia e pelo PASOK em 2009 (77%) com o resultado agora obtido (cerca de 42%).»
O PCP assinala ainda que «tais resultados – em particular, os da Nova Democracia –, são inseparáveis da gigantesca operação de chantagem sobre o povo grego e testemunham até onde pode conduzir a ingerência e a pressão ilegítima do grande capital e das instituições ao seu serviço».
Reiterando a sua solidariedade com os trabalhadores, o povo e os comunistas gregos, o PCP salienta que «os resultados do Partido Comunista da Grécia não poderão ser considerados sem ter em conta as condições difíceis em que os comunistas travaram este acto eleitoral, marcado pela descarada ingerência nos assuntos internos da Grécia e por enormes pressões bipolarizadoras».
Ainda em vésperas das eleições, dia 14, o Secretariado do CC do PCP dirigiu uma mensagem de solidariedade ao CC do Partido Comunista da Grécia, condenando «a descarada ingerência imperialista» e «as pressões» sobre o povo e reafirmando «a activa solidariedade do PCP com o PCG num momento difícil e exigente da sua luta».
A mensagem recordava que esta solidariedade foi recentemente expressa pelo secretário-geral do Partido, Jerónimo de Sousa, na grande manifestação/comício realizada em Lisboa a 26 de Maio.