Pressão imperialista cresce
Os observadores das Nações Unidas ainda não foram capazes de determinar os contornos e a autoria do mais recente massacre na Síria. Não obstante, o governo sírio continua sob intensa pressão mediática e diplomática por parte do imperialismo.
Rússia e a China rejeitam uma intervenção estrangeira
A responsabilidade pela chacina ocorrida quarta-feira, 6, na aldeia de Mazraat Al-Qubeir, na província de Hama, continua por atribuir, esclareceram os observadores das Nações Unidas que, sexta-feira, 8, se deslocaram ao local. «As circunstâncias não estão claras. O número, nomes e outros detalhes das vítimas não estão confirmados», explicaram os emissários da ONU em nota divulgada à comunicação social. Apesar da incerteza, o massacre é atribuído ao regime sírio e a acusação é amplamente divulgada.
Damasco, por seu lado, refuta qualquer responsabilidade. O embaixador da Síria nas Nações Unidas precisou que o massacre de civis ocorreu cinco horas antes dos confrontos com grupos armados. No mesmo sentido, a televisão estatal síria, citada por agências noticiosas, denuncia que em Al-Qubeir, como em acontecimentos semelhantes ocorridos nos últimos meses, os cadáveres evidenciam sinais de execução.
A cadeia pública reproduz ainda relatos de habitantes da aldeia que afirmam que os autores são um bando de cerca de 500 homens (Reuters 08.06).
A versão contrária dá a voz a supostas testemunhas oculares que garantem que o exército cercou e atacou Al-Qubeir, na sequência do que entraram na localidade milicianos pró-governamentais. Estas descrições, tornadas públicas por agências como a AFP, terminam amiúde com acusações aos observadores da ONU – «os observadores foram chamados mais de 30 vezes mas não vieram» – e incitações à violência: «Aqui todos dependem do Exército Sírio Livre (ESL). A comunidade internacional abandonou-nos». O ESL repetiu a semana passada que não vai cumprir o plano Annan e tudo fará para «defender os civis».
Uma nota da Lusa, datada do passado dia 8, acrescenta ainda que os «milhares de sírios» que se manifestaram nesse mesmo dia contra Al-Assad pediam «armas ao estrangeiro».
O facto é que os observadores das Nações Unidas tiveram muitas dificuldades para aceder a Al-Kubir, alegadamente obstaculizados pelo exército e por populares, mas são os próprios quem admite que não sabem qual a razão, escusando-se a apontar o dedo às autoridades sírias.
Mais contundente foi o relato do repórter do Chanel 4, publicado no The Guardian. Alex Thompson denunciou que elementos do ESL dispararam contra o seu carro quando acompanhava uma caravana de observadores em direcção a Al-Qubeir.
Por outro lado, a agência SANA reproduziu uma alegada conversa telefónica entre insurrectos em que se fala na fabricação de um massacre em Al-Haffeh com difusão garantida no ciberespaço. No sábado, 9, o exército sírio impediu que a destruição do hospital regional e da sede do governo de Al-Haffeh assumisse outras proporções, quiçá semelhantes às ocorridas em Houla e Al-Qubeir.
Barbárie em preparação
Reagindo aos acontecimentos da semana passada, a Rússia e a China insistiram na rejeição de uma intervenção estrangeira. Moscovo apelou mesmo à realização de uma conferência internacional para resolver o conflito e responsabilizou as potências imperialistas pela violência.
«O que ocorre é uma consequência das acções dos que não suspendem o financiamento dos bandos armados ilegais, que recrutam mercenários, ajudam-nos a atravessar a fronteira e brincam com diferentes tipos de extremistas para a consecução dos próprios fins políticos», disse o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov (Lusa 09.06).
Em contraposição, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, acusou Damasco pelo massacre na província de Hama e repetiu o apelo a uma imediata transição do poder, a começar pela renúncia de Bashar Al-Assad. O guião observado na Líbia é evidente.
A cadeia síria Addounia denuncia que se prepara uma operação de sabotagem com o objectivo de substituir os canais sírios por emissoras piratas. Antes, já os jornalistas sírios haviam repudiado o corte das emissões para os países do Golfo (Telesur 04.06).
Tal como ocorreu na Líbia, a Al Jazeera e a Al Arabiya são acusadas de fabricar e manipular imagens. O embaixador sírio nas Nações Unidas insistiu neste ponto e a agência SANA e canais televisivos sírios divulgaram amplas provas.
Para além da manipulação dos massacres, outras informações avolumam as preocupações sobre até onde pode chegar o imperialismo na sua sanha criminosa. Segundo vários meios de comunicação social, os sublevados detêm armas químicas oriundas da Líbia. Estas armas estarão a ser testadas na Turquia, afirmam, entre outras, a agência Fars, a fim de serem usadas brevemente contra a população síria e culpar o regime.
A campanha de preparação de uma acto indiscritível é de tal forma cerrada e, simultaneamente, uma hipótese assustadoramente verosímil, que o número dois do exército israelita não hesitou em assegurar que o regime sírio possui, nada mais nada menos, do que «o maior stock de armas químicas do mundo» (Lusa 11.06).