O «caminho» de Seguro

Carlos Gonçalves

Resultado de meses de estudo e cuidadosa preparação, o PS tem em marcha uma operação de branqueamento da sua brutal responsabilidade no afundamento do País e de distanciamento do governo de serviço ao pacto de agressão, roubalheira e declínio nacional, de que é co-autor. Como era expectável, trata-se de uma operação de marketing e encenação, de factos mediáticos e retórica, urdida na direcção do PS, com o empenho dos seus aliados – a UGT, de todas as concertações com o capital e algumas farroncas, Soares e Alegre, «o roque e a amiga» de todas as pantominices, e a loja maçónica de alguns ex-militares de Abril e Novembro – e, já agora, com a cobertura tática do BE, sempre pronto para o talk show do «que está a dar».

A operação visou radicalizar a guerra verbal com o Governo PSD/CDS, o «pior de sempre». Como se nesta política de direita e de recuperação contra revolucionária, cada governo não fosse sempre pior do que o anterior – e como se um putativo futuro governo PS/Seguro, não viesse a ser ainda pior do que o actual – é assim a lógica da política de direita e da crise globalizada do capitalismo.

O PS segurou as dificuldades internas e passou à fase de «violenta» abstenção, perdão «oposição» – esta política é um «desvio neoliberal», de «austeridade excessiva» e «insensibilidade social» e não há investimento para criar emprego. «Esse não é o nosso caminho», concluiu Seguro – e o capital financeiro tremeu com tanta «bravura».

Claro que o PS negociou o pacto de agressão e não se distanciou, nem do que está, nem de futuras «operações de resgate», claro que está «contra», mas votou o tratado de sujeição nacional, e agora (re)propôs uma adenda, a «segunda oportunidade» ao Governo, claro que, «com objecções», apoiou o pacote laboral e viabilizou os orçamentos e que quer «consensualizar» a extinção de freguesias e as «reformas estruturais», claro que a «criação de emprego» é uma agenda a que Merkel já condescendeu e que P. Coelho apoiou, porque é preciso salvar a face a Hollande e isso nada altera no rumo de extorsão do pacto de agressão. Mas o PS/Seguro afirma solene que não vai pelo caminho do PSD/CDS.

Será que alguém descobre uma diferença de substância?



Mais artigos de: Opinião

S(ó)ares

A eleição do senhor Hollande como presidente de França provocou no Partido Socialista um verdadeiro frenesim, que seria patético se não fosse grotesco. O pontapé de saída foi dado por Mário Soares – quem mais havia de ser? – em entrevista ao jornal i,...

A luta é o caminho!

Ainda que partindo de situações diferenciadas, as repercussões dos resultados das recentes eleições realizadas na Grécia e em França – pelo que expressam de justa rejeição das políticas da União Europeia e de não...

Sem <i>Pingo</i> de vergonha

Mascarada como uma inédita campanha de marketing, a acção do Pingo Doce do primeiro dia do mês constituiu uma tão pensada, quanto miserável, operação política e ideológica. Uma operação concebida ao milímetro, articulada como os...

O cavaco, o cherne e o coelho

Existe um fórum «informal» chamado Conselho para a Globalização, constituído pela COTEC sob o alto e sempre brilhante patrocínio de Cavaco Silva. Esteve reunido em Cascais, com o objectivo de trocar opiniões sobre o seu tema e «em última análise,...

Ruptura patriótica e de esquerda!

O tempo que vivemos é um tempo de grande confronto de interesses entre a classe que domina e os dominados – os trabalhadores e o povo. É um tempo em que apesar do esforço do poder dominante, com os seus instrumentos de dominação política, economia, social, cultural e ideológica, as massas trabalhadoras lutam em defesa dos seus direitos concretos no trabalho, na saúde, na educação, na habitação, na cultura.