A questão que se coloca:

Ruptura patriótica e de esquerda!

João Dias Coelho (Membro da Comissão Política)

O tempo que vivemos é um tempo de grande confronto de interesses entre a classe que domina e os dominados – os trabalhadores e o povo. É um tempo em que apesar do esforço do poder dominante, com os seus instrumentos de dominação política, economia, social, cultural e ideológica, as massas trabalhadoras lutam em defesa dos seus direitos concretos no trabalho, na saúde, na educação, na habitação, na cultura.

A verdadeira ruptura surgirá da luta organizada das massas

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É um tempo em que as forças políticas que se tem alternado no poder – PS, PSD e CDS – por muito que escondam a verdadeira natureza de classe da sua política que vem destruindo o que foi conquistado pela força da luta pelos trabalhadores e do povo, ela é posta à evidência pelo mal que tem causado e causa à maioria do povo. Vivemos um tempo de empobrecimento geral da maioria do povo e de enriquecimento de uns quantos, em que as forças políticas que nos têm governado são causa e efeito dos males que nos assolam. Um tempo em que o poder do capital à escala nacional e transnacional, dominando o poder político em cada país e os instrumentos de coordenação por si criados à escala europeia e mundial, revela em toda a sua dimensão o ódio de classe, encontrando, como sempre encontrou, na exploração o instrumento de sobrevivência do sistema capitalista, que se apresenta como o «fim da história».

Este sistema, que sobrevive à custa da exploração de milhões de seres humanos e que encontra nos partidos do sistema – sejam eles social-democratas ou sociais cristãos no nome, socialistas na palavra ou na sigla – os instrumentos para enganar o povo e manter-se no poder político enquanto instrumento fundamental para a perpetuação dos interesses dos grandes grupos económicos e financeiros – o capital monopolista.

Não chegam os gritos de alma por parte de quem tem partilhado o poder de forma alternada, mas que tanto mal tem feito ao País e ao povo. E que agora, de forma calculista e oportunista, uns procuram segurar-se no poder o maior tempo possível para destruir o máximo possível; e outros procuram captar para si o descontentamento das massas para regressar de novo ao poder. Não para trilhar um caminho de justiça social, mas para assegurar o prosseguimento da exploração.

 

Revoluções e rupturas

 

O anúncio da revolução de veludo feito pelo PSD e CDS no dia 25 Abril mais não é que a destruição dos valores e conquistas da Revolução de Abril consagrados na Constituição, e o anúncio assanhado da ruptura democrática do PS, feito no mesmo dia, sendo vazio de conteúdo, procura esconder o comprometimento com o pacto de agressão em curso que uns e outro assinaram

Revolução e democracia: duas palavras que bebem no sentir do povo, mas que não têm – porque não podem ter quando expressas pelas forças da contra-revolução – o sentido que o povo lhes dá.

Não chegam os laivos de indignação fingida perante a realidade brutal de alargamento do desemprego, da amargura, do desespero, da miséria e da fome de milhares de famílias, quando ao mesmo tempo geram com a sua política de classe as condições para que isso aconteça. Perante o estado a que o País chegou, não chegam soluções paliativas enroladas em conversa fiada para garantir o sistema.

Fiéis servidoras do capital sem rosto ou com rosto mas sem pátria, ainda que com nuances na forma de aplicarem a receita do capital, todos partilham do sentido da destruição dos direitos conquistados e do aumento da exploração como elemento chave para o aumento da riqueza de uns poucos como Belmiro de Azevedo, Alexandre Soares dos Santos, Américo Amorim, Ricardo Espírito Santo Salgado e quejandos, a quem este poder político tem servido e serve inteiramente: E que, por isso, não pode servir os interesses da classe e das camadas que, sendo atingidas pela sua política, se lhe opõem.

 

Organização e luta


O que hoje está em causa é o regime consagrado na Constituição. Um regime que consagra direitos políticos, económicos, sociais e culturais, o direito a uma vida digna e dignificante que tem vindo a ser destruído pelos sucessivos governos da política de direita que dominam o poder há quase 36 anos.

Ontem como hoje, a questão que se coloca é pôr no poder gente séria e honesta, gente que esteja com os trabalhadores e o povo, que promova a justiça social, o desenvolvimento livre e soberano do País. Ao fim e ao cabo, gente patriótica e de esquerda, capaz de promover uma efectiva ruptura e que, no quadro da Constituição da República, promova uma nova política.

Esta sim, será a verdadeira ruptura que o o povo reclama e exige com a sua luta de todos os dias nas empresas e na rua. Esta ruptura sim, abrirá caminho a um Abril novo. Mas para que a esta ruptura se concretize é preciso luta e mais luta organizada com um sentido de transformação social, é preciso um Partido Comunista cada vez mais forte. E não declarações bombásticas vazias de conteúdo por parte dos partidos da burguesia, que apenas servem o perpetuar do sistema de exploração e humilhação dos trabalhadores e do povo.



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