Rotunda democrática

Jorge Cordeiro

Rotunda será, por definição, um espaço onde se circula simulando movimento em dado sentido ainda que sem aparente direcção. Ou, por empírica observação ao alcance do senso comum, aquele espaço privilegiado para se pode andar às voltas sem se perceber, até dado momento, para onde se pretende ir. Será certamente a pensar na citada figura que o PS proclamou em termos de ameaça dirigida ao Governo aquilo que designa, ainda que por manifesta inexactidão, como «ruptura democrática» quando, em rigor, o que os dirigentes do PS terão desejado anunciar seria quanto muito uma reinventada «rotunda democrática».

Em boa verdade, presente no conceito «democrático» de ruptura que o PS agita, está aquele andar à roda, aquele simular de movimento em dado sentido para, na primeira distracção dos que o observam, adoptar a direcção de sempre. Assim tem sido em todas as situações e circunstâncias. Seja nos tempos de hoje, com aquele simular de divergência a propósito das alterações à legislação laboral ou do tratado europeu de submissão nacional em que, depois de dadas as devidas voltas em torno das questões, aí temos o PS em proclamada ruptura «democrática» a abraçar com os partidos do Governo os projectos comuns que os une. Seja aqueles outros em que, brandindo por aí a ameaça de uma qualquer ruptura «democrática» com os que hoje põem em causa a Segurança Social, o Serviço Nacional de Saúde ou a escola pública, se dão as voltas suficientes para que, estonteados com o movimento, poucos recordem que em cada um dos ataques dirigidos pelo actual Governo contra estes direitos está lá a mão precursora do PS a desbravar o caminho que agora outros continuam. Seja ainda naquele mais impressivo rasto deixado na sua curta história de vida em que o PS, sob a proclamada dimensão «democrática» de um alegado socialismo que simula, circula sem parar, volta sobre volta, nessa imensa rotunda da política de direita que lhe pulveriza a credibilidade, nega a razão e desmente a sua própria denominação.



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