Lei antiterrorista é arma contra os trabalhadores
Organizações políticas e sociais paquistanesas exigem a libertação de seis sindicalistas, condenados a 590 anos de prisão por violação da legislação antiterrorista em vigor no país.
A mensagem é clara: pode acontecer o mesmo a quem defenda os seus direitos
Ali Kamboh, Babar Randhawa, Fazal Elahi, Rana Riaz, Mohammad Malik e Asghar Ansari, sindicalistas no centro industrial têxtil de Faisalabad, o maior do país, foram acusados de atacarem e incendiarem uma fábrica, e de agredirem o proprietário. De acordo com informações publicadas pela Inter Press Service (IPS 24.04.2012), os sindicalistas negam qualquer responsabilidade nos factos que lhes são imputados, ocorridos a 20 de Julho de 2010, e defendem que as autoridades judiciais os condenaram sem terem feito prova material ou testemunhal da sua culpa nos incidentes.
Ainda segundo a mesma agência noticiosa, o recurso apresentado a um tribunal de Lahore tarda em ser apreciado, pelo que, a par do apelo à solidariedade e denúncia internacional do caso, organizações como o Partido do Trabalho do Paquistão e o Movimento Qaumi de Trabalhadores (LQM) continuam a exigir a libertação dos detidos e prosseguem a campanha nacional em sua defesa.
Para o Dia do Trabalhador, o LQM convocou uma manifestação de protesto em Faisalabad, iniciativa de luta que será igualmente aproveitada para reforçar o fundo de solidariedade que o movimento dinamiza, e que, mensalmente, reverte para as famílias dos detidos, que passam sérias dificuldades económicas.
O caso remonta a 2010, quando mais de uma centena de milhar de operários têxteis entraram em greve por aumentos salariais na cidade, considerada a Manchester do Paquistão. A fábrica em causa sofreu um pequeno incêndio, mas os grevistas garantem que tal foi desencadeado pelos seguranças às ordens dos proprietários.
Não obstante, os sindicalistas referidos foram condenados a 590 anos de cárcere sob a acusação de, entre outros crimes, instalação do medo, destruição de propriedade e sequestro, crimes abrangidos pela chamada legislação antiterrorista.
Para o porta-voz do LQM, Farooq Tariq, a mensagem é clara: «se isto pode suceder a dirigentes, então pode acontecer também a todos os trabalhadores que ousem defender os seus direitos», disse em declarações à IPS.
Estima-se que na região de Faisalabad estejam concentradas 200 das 300 mil unidades fabris do sector têxtil paquistanês, sobretudo pequenas ou familiares. A maioria dos trabalhadores não aufere um rendimento fixo – isto apesar do reconhecimento recente do Sindicato dos Trabalhadores Têxteis como interlocutor –, mas variável consoante a produção, a qual, por seu lado, depende também do fornecimento de energia eléctrica, uma vez que os cortes de corrente são diários e podem prolongar-se por diversas horas.