Quando é preciso ganhar as eleições e algo mais...
À medida que se aproxima a data das eleições presidenciais – 7 de Outubro – e aparece cada vez mais nítida a vantagem de Hugo Chávez sobre o candidato da reacção – hoje anda acima dos 25 pontos – cresce a preocupação da sociedade venezuelana sobre as intenções da oposição de criar uma situação de instabilidade no caso, mais do que provável, de uma nova derrota eleitoral. Capriles Radonski, apesar de todo o apoio financeiro que tem ao seu dispor e de uma capacidade demagógica claramente inesgotável – depois de satanizar as «missões» bolivarianas, agora diz-se partidário delas e que até devem ir mais longe; depois de escarnecer de tudo o que é bolivariano e de ter apoiado a eliminação, durante o golpe de estado de Abril de 2002, da palavra «bolivariana» do nome oficial da Venezuela, agora declara despudoradamente que também é «bolivariano» – não despega. O seu «autocarro do progresso» – recomendação de marketing vinda de algum vendedor de banha da cobra – está sem gasolina e isso quando ela é ridiculamente barata na Venezuela. Luis Enrique Alcalá, sociólogo e analista político abertamente identificado com a direita, admite-o de forma nítida quando escreve que o candidato «necessita mais do que um tal “autocarro do progresso” que não produz entusiasmo e se dirige inercialmente para um barranco». E vai mais longe: «se a aposta da oposição venezuelana fosse a de trocar oportunamente o autocarro por um avião, o seu único motor, o candidato único que elegeu a 12 Fevereiro, parece não produzir o impulso suficiente». E é aqui que reside o perigo deste processo eleitoral. Ao ver-se perdida, de uma oposição que se nega a dizer publicamente que respeitará os resultados eleitorais e que tem a triste tradição histórica de os não respeitar, pode e deve esperar-se tudo, desde a denúncia de uma alegada fraude a algo de muito pior.
Hugo Chávez cria Comando antigolpe
«A conspiração está em marcha» afirmou o presidente venezuelano numa intervenção transmitida recentemente pela rede de rádio e televisão. E acrescentou que a tarefa do momento «não se trata de ganhar as eleições» mas de «neutralizar o plano fascista a partir de agora». Neste sentido, anunciou a criação de um «comando antigolpe» de Estado capaz de lidar não só com «problemas de ordem pública» mas também da «economia e outros âmbitos da vida nacional», para fazer frente a «esta burguesia que se julga acima da Constituição, acima das leis». É nesta mesma ordem de ideias que se deve entender a denúncia, feita por um alto líder do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), Diosdado Cabello, sobre a existência de uma aliança macabra de banqueiros e industriais – o Grupo dos 15 – dispostos a qualquer acção fora da lei para derrocar o governo bolivariano. Duas opções principais estão sobre a mesa da oposição reaccionária e ambas apontam para a desestabilização do ambiente político. Uma delas seria, como já vem sendo costume, denunciar uma alegada fraude eleitoral e apresentá-la no seio da Organização de Estados Americanos – instância internacional tradicionalmente enfeudada a Washington – omitindo que o sistema eleitoral venezuelano, totalmente automatizado e um dos mais modernos do mundo, está blindado contra qualquer tipo de chapelada. A outra, igualmente macabra mas por outras razões, poderia incluir a substituição de Radonski como candidato – por inservível para os propósito da reacção – e mesmo a sua eliminação física, crime que seria atribuído às forças progressistas para criar um clima de violência que justificasse uma intervenção estrangeira encabeçada pelos Estados Unidos.
Presidente Santos caiu em desgraça
Apesar de o presidente colombiano já ter dado suficientes provas – basta recordar os «falsos positivos» – de que é claramente um homem da direita, a oposição não lhe perdoa o «pecado» de ter declarado ao El País (Espanha) e à Time que tinha rezado pela saúde de Chávez, que a estabilidade interna da Venezuela era «importante para toda a região», e que o preocupava que essa estabilidade pudesse terminar. A oposição reagiu de imediato com um comunicado rejeitando a declaração e «denunciando» que Hugo Chávez apoia o movimento guerrilheiro que leva mais de 50 anos de luta contra a oligarquia colombiana.
Para ela era preferível a belicosidade do narcotraficante Uribe, porque lhe abria a possibilidade de uma agressão militar contra o seu próprio país.