Para tentar meter medo
Os trabalhadores das três fábricas de Setúbal do Grupo Portucel – Soporcel têm estado em luta em defesa dos seus direitos contidos no Acordo de Empresa (AE) e por aumentos salariais. A administração do grupo, aproveitando o caminho aberto pela alteração da legislação laboral que o Governo pretende impor, denunciou o AE, invocando dificuldades do mercado mundial do papel.
Tem sido uma luta extraordinária: não só pela unidade revelada na adesão (nas greves dos dias 1 e 3 de Abril, a paralisação da produção foi a regra e a administração só conseguiu manter a produção numa das três fábricas no último dia, substituindo ilegalmente um trabalhador em greve), mas extraordinária também pelos objectivos. Os trabalhadores exigem não só a manutenção do AE existente, como reivindicam que este seja aplicado a todos os trabalhadores do Grupo.
A Portucel, grupo que teve no ano de 2011 um lucro de 196 milhões de euros e um aumento de vendas em mais de 7%, tem assumido como estratégia a criação de «novas» empresas, como a Headbox, a ATF, a Ema 21 e a Aborser, nas quais os trabalhadores recebem menos salário com menos direitos. É para os trabalhadores dessas empresas que se reivindica o alargamento da aplicação do AE, num magnífico exemplo de unidade entre trabalhadores com vínculos, salários, direitos e experiências tão distintas.
Foi neste contexto que no passado dia 9 um dos dirigentes do SITE-Sul recebeu na fábrica a visita de dois agentes da PSP. Segundo a denúncia do sindicato e da União dos Sindicatos de Setúbal, os agentes da polícia queriam recolher informações sobre a deslocação dos trabalhadores para a porta do hotel lisboeta onde se reuniu a Assembleia-geral de accionistas no dia seguinte. Estranho é irem ao local de trabalho do dirigente, quando a informação sobre a acção foi dada às autoridades pela FIEQUIMETAL, ainda por cima alegando que o tinham visto a falar da acção em entrevista à SIC...
A resposta a esta tentativa de intimidação a fazer lembrar outros tempos foi pronta: eram muitas dezenas os trabalhadores à frente da Assembleia-geral de accionistas, mais ainda no plenário na empresa que decidiu a continuação da luta. Que vai continuar!