Defender o povo sírio

Ângelo Alves

O que se passa na Síria é um conflito militar, instigado a partir do exterior

A passagem de um ano sobre as primeiras manifestações na Síria contra o governo do presidente Bashar Al-Assad está a ser marcada por desenvolvimentos, factos e denúncias que dizem muito do que está realmente em causa naquilo a que erradamente se chama de «revolução síria».

Segundo relatos de vários meios de informação alternativos, chegaram nas recentes semanas a Amman (capital da Jordânia) cerca de 600 a 1000 membros pertencentes ao «Grupo Combatente Islâmico na Líbia» (a organização terrorista que se aliou à NATO na guerra da Líbia), sendo provável que na passada sexta-feira se tenham deslocado para a zona de fronteira com a Síria. Várias fontes indicam que nos últimos dias grandes quantidades de armamento estarão a ser enviadas a partir da Arábia Saudita para a Jordânia para armar esta «frente» do «exército livre sírio». Simultaneamente, e noutro ponto do «cerco» à Síria, chegam as notícias do envolvimento do exército turco no transporte de cerca de 2000 «combatentes» para um «campo de refugiados» na província de Hatay, uma zona de fronteira entre a Turquia e a Síria com acesso por mar a partir do Mediterrâneo. No seu conjunto estas movimentações elevam para cerca de 3000 a 4000 os elementos que constituem o chamado «exército livre sírio», um «exército» financiado directamente pelo Qatar e pela Arábia Saudita, apoiado pelo governo turco e que, segundo os próprios, terá recebido armamento e sistemas de defesa aérea dos EUA e da França. Ou seja, uma força de agressão contra o povo sírio criada, treinada e financiada pelo imperialismo e seus aliados na região e constituída por mercenários, personagens e organizações terroristas.

Simultaneamente e na «frente interna» intensifica-se a vertente abertamente terrorista da insurreição armada e prova-se a conexão entre terroristas e forças especiais estrangeiras. Se já não bastassem as sucessivas denúncias de que algumas das atrocidades atribuídas às forças de segurança sírias teriam sido praticadas exactamente pelos mercenários infiltrados no território que depois, com a ajuda de canais como a CNN ou a AlJazeera, os transformaram em actos do exército sírio, os acontecimentos dos últimos dias são altamente elucidativos de até onde estão dispostos a ir aqueles que, dentro e fora da Síria, querem à lei da bala, da bomba e da desinformação submeter um país soberano e operar mais um «regime change».

Os quatro atentados terroristas levados a cabo no passado fim de semana em Damasco, Allepo e na estrada Damasco-Daraa perto de Kherbet Ghazaleh, mataram, no seu conjunto, mais de 30 pessoas, fizeram cerca de duas centenas de feridos e destruíram uma importante ponte ferroviária do país. Eleva-se assim para uma dezena o número de atentandos de grandes dimensões na Síria desde Dezembro do ano passado. Atentados que como vários especialistas não se cansam de afirmar, são impossíveis de serem organizados por um qualquer grupo de «opositores». São, como vários afirmam, levados a cabo por mercenários profissionais afegãos, líbios, turcos, jordanos (entre outros), recrutados pelo Qatar com dinheiro saudita e treinados e dirigidos por forças especiais francesas, britânicas, sauditas e do Qatar. Mercenários municiados com o armamento e material explosivo infiltrado a partir do exterior e que segundo especialistas militares árabes se contabiliza já na ordem das 30 mil armas de fogo de vários calibres e tipos, a que se somam cerca de 300 toneladas de explosivos.

É mais do que óbvio que o que se vive na Síria não é uma revolução e muito menos um esmagamento militar de uma revolta popular pacífica. Não! Isso é o que a propaganda imperialista quer fazer passar a exemplo do que fez na Líbia. O que se passa na Síria é um conflito militar, instigado a partir do exterior e levado a cabo por aqueles para quem os justos anseios do povo sírio de mais justiça e democracia servem apenas para justificar mais uma guerra de agressão já em curso.




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