Coragem, determinação e confiança

Paulo Raimundo (Membro da Comissão Política do PCP)
Daqui a poucas horas, milhares de trabalhadores encontrarão na adesão à greve geral a forma de expressar a sua indignação e protesto face ao rumo de desastre nacional que está em curso e, em particular, às suas consequências concretas na vida de cada um.

Os trabalhadores organizados constituem uma força imensa

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Daqui a poucas horas, serão milhares os trabalhadores que farão uma greve que é sua, construída a pulso por todos e por cada um, definida em milhares de plenários realizados e que enfrentou e enfrenta todas e diversas forças antigreve, que nestes momentos sempre se conjugam. Há razões para não apoiar os objectivos e não aderir à greve?

Há, as razões dos que querem que os outros possam vir a trabalhar 12 horas por dia sem receberem nada por isso, dos que já estão a ver os seus cofres a encher com os cortes em 50 por cento no pagamento das horas extraordinárias.

Há, as razões dos que olham para os milhares de desempregados como forma de pressão e mão-de-obra disponível para o aumento da exploração, dos que pagam aos trabalhadores precários menos 40 por cento do que aos trabalhadores efectivos e que vêem no alargamento para 18 meses nos contratos a prazo e na generalidade da precariedade mais uma boa oportunidade.

Há, as razões de quem pretende despedir quando e como lhe interessar e pagando menos indemnização, as razões de quem encontra no aumento da exploração, no roubo dos salários e dos rendimentos uma boa forma de manter e fazer crescer os seus lucros.

Há, as razões dos que se opõem há mudança de rumo e que todos os dias nos procuram fazer crer que não há outro caminho que não o da austeridade, que nos apelam ao conformismo e a baixar de braços, que nos tentam convencer de que não há dinheiro, ao mesmo tempo que os recursos nacionais vão direitinhos para a banca e para o grande capital.

Há, as razões daqueles para quem não há sacrifícios, não há medidas austeras. Para quem o empobrecimento, a exploração, o aumento do custo de vida, as privatizações, a destruição da educação pública e do Serviço Nacional Saúde e o ataque aos direitos de quem trabalha significam o melhor caminho do reforço das suas contas bancárias. Para estes e para os seus lacaios, não há razões para fazer, apoiar e aderir à greve.

Todos eles estão contra os objectivos da greve geral, tal como estiveram contra todas as lutas pelos aumentos salariais e pelos direitos, tal como tudo fazem para travar a luta contra o encerramento de serviços de saúde, aumento dos preços dos transportes, cortes nos salários, subsídios, reformas e pensões, combustíveis, portagens, propinas, taxas moderadoras, contra todas as lutas que ponham em causa os seus projectos, interesses e objectivos.

 

Tempo de corajosas opções

 

Para este combate entre interesses antagónicos todos os trabalhadores, e em particular as novas gerações, estão convocados. Os milhares que ocupam um posto de trabalho permanente mas cujo vinculo é precário ou recibo verde; que enfrentam os brutais aumentos dos custos de vida e da habitação; que são alvo de cortes na protecção social e abono de família; que têm de recorrer a dois e três empregos para terem dinheiro para sobreviver; que, sem alternativa, têm que regressar a casa dos pais; que perante uma política de intensificação do desemprego, da precariedade e da injustiça são empurrados a abandonar o País.

Todos são chamados para a greve geral numa grande manifestação de coragem dos que têm que perder um dia de salário hoje para o poder defender todos os dias no futuro. Uma demonstração de determinação dos que enfrentarão hoje a chantagem do desemprego e da precariedade para amanhã não serem despedidos sem justa causa e com uma mão atrás e outra à frente.

Este é um momento de fazer corajosas opções em função dos diferentes interesses que estão em jogo, uma opção de engrossar uma luta que não termina amanhã, pelo contrário, uma luta que encontra numa grande greve geral com fortes expressões de rua um novo fôlego para se intensificar e multiplicar.

Uma luta que terá continuidade dia 28 quando, na Assembleia da Republica, se discutir na generalidade o pacote laboral; no dia 31 de Março quando os jovens trabalhadores voltarem às ruas de Lisboa numa manifestação de afirmação de que querem trabalho e exigem direitos; uma luta que se travará sector a sector, empresa a empresa, local de trabalho a local de trabalho, derrotando todas e cada uma das medidas do pacote laboral.

Vale a pena lutar. Os trabalhadores organizados e o desenvolvimento da sua luta constituem uma força imensa de resistência e de conquista. Uma força imensa que no passado derrotou anteriores pacotes laborais. Com confiança, coragem e determinação, com a força da luta colectiva derrotaremos mais esta ofensiva.



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