Melhores salários só pela luta
Mesmo quando a crise lhes dá lucros maiores, há empresas que negam aumentos salariais. A Galp Energia, por exemplo, propõe mais um por cento para os trabalhadores... e mais 20 por cento para os accionistas.
O combate decisivo trava-se nas empresas
Inicialmente, as administrações da Petrogal e da Gás de Portugal pretenderam até que não houvesse qualquer actualização salarial em 2012, mas acabaram por reagir à disponibilidade de luta manifestada nos plenários de trabalhadores, no início de Março. A Fiequimetal/CGTP-IN e os seus sindicatos nas empresas do grupo decidiram avançar com o protesto púbico de terça-feira, após mais uma reunião nacional de representantes, para demonstrarem que não há justificação para recusar a actualização das remunerações. Como foi referido nos documentos divulgados à comunicação social e nas intervenções dos dirigentes, frente às Torres de Lisboa, a Galp Energia fechou 2011 com resultados muito positivos, destacando-se os 433 milhões de euros de lucros e o crescimento das vendas em 20 por cento. Por outro lado, os gastos com pessoal caíram 28 milhões de euros e não ultrapassam dois por cento do total dos custos.
Depois de administradores terem saudado a boa performance do grupo, foi anunciado que o montante destinado a distribuição de dividendos será 20 por cento superior ao do ano passado.
Nesta situação, a resposta sindical é intensificar a mobilização dos trabalhadores para a greve geral, a 22 de Março, e para desenvolver a luta nos locais de trabalho das diferentes empresas do grupo, de modo a alcançar uma actualização salarial justa e impedir as perdas muito mais agravadas que resultariam das alterações ao Código do Trabalho.
Precisamente para confrontarem as associações patronais e as empresas, rejeitando o boicote da negociação dos contratos colectivos e exigindo actualização salarial imediata e horários compatíveis com a vida pessoal, a Fesaht/CGTP-IN e os sindicatos da hotelaria e similares decidiram realizar ontem, em Lisboa, concentrações de trabalhadores junto às sedes da AHRESP e do Grupo Pestana Pousadas e frente à Pastelaria Versailles.
Confrontados com o bloqueio da negociação pela associação patronal AIC (cristalaria) e com a decisão da Vista Alegre Atlantis de não aumentar salários, os trabalhadores da fábrica de Alcobaça decidiram, em plenário, fazer greves parciais e sequenciais, desde a passada segunda-feira e até dia 23, reclamando mais 4,5 por cento, com um mínimo de 30 euros mensais.
Dirigir as reivindicações à associação patronal e também às administrações das empresas é a orientação da Fectrans/CGTP-IN para os trabalhadores do transporte pesado de passageiros, depois de a Antrop ter decidido dar por encerrado o processo negocial, sem aceitar aumentos salariais. A posição patronal foi declarada na segunda reunião negocial, a 6 de Março.
A federação, que tinha já acusado a Antrop de estar à espera da revisão do Código do Trabalho, deu dois exemplos do que as alterações representariam, apenas considerando a redução do pagamento do trabalho extraordinário: um motorista da Vimeca, com um vencimento de 674 euros, perderia mais de cem euros por mês, enquanto um motorista da Scotturb, com um salário de 610 euros, ficaria a perder 75 euros por mês.
No sector da grande distribuição comercial – e apesar dos lucros das cadeias de super e hipermercados –, a associação patronal APED defendeu o congelamento de salários e graves modificações no clausulado, que o CESP/CGTP-IN recusou. Os representantes patronais decidiram suspender as negociações, alegando que querem ver o que resultará da revisão do Código do Trabalho.
Já o Grupo Zara (Inditex), com lucros a subirem dez por cento no final de 2011, está a tentar reduzir os salários através do encurtamento dos horários de trabalho. O CESP denunciou que isto é ilegal e está a ser feito num clima de grande intimidação, sob ameaças de despedimento e transferência.
Empobrecimento
«Não queremos empobrecer a trabalhar» – assim resume o CESP a situação dos trabalhadores das IPSS, das misericórdias e dos armazéns de produtos alimentares. Neste último caso, as associações patronais enjeitaram o compromisso que assumiram em Julho, na fase de conciliação, e querem que o sindicato faça a negociação salarial em conjunto com a UGT (que em 2006 aceitou um novo clausulado, retirando vários direitos, mas que não se aplica aos associados do CESP). Nas IPSS e misericórdias, grande parte dos trabalhadores recebe o salário mínimo nacional ou pouco mais – e fica no limiar da pobreza, após os descontos.