As panelas

Henrique Custódio

Quando se ultimava a entrada de Portugal na CEE, o PCP advertia que tal entrada do nosso País nesta agremiação dos poderosos da Europa era como a história da panela de barro a juntar-se às panelas de ferro – ao primeiro chocalhar, a de barro ficava em cacos.

O PCP acrescentava vaticínios igualmente precisos: ataques ferozes às conquistas sociais e económicas conquistadas com a Revolução de Abril e à própria independência nacional, definida e consagrada na Constituição portuguesa.

Hoje em dia isto parece surpreendemente esquecido por tudo e por todos, embora saibamos que os mais ferozes opositores que combateram estes avisos do PCP se lembram muito bem disso – tão bem, que os seus actuais esforços continuam a procurar que ninguém o recorde, nem mesmo os comunistas.

Um desses ferozes opositores da época foi Mário Soares, que anatemizou o mais que pôde as advertências do PCP, enquanto se esforçava por impor ao País a ideia de que a entrada «nas Europas» era não só a única, como a «melhor saída» para Portugal.

Desde então, o PS e o PSD têm-se aplicado a cumprir os ditames de Bruxelas.

Com os famosos «fundos» que, nas duas últimas décadas, têm jorrado regularmente para Portugal, a UE concretizou os seus dois primeiros objectivos em relação ao nosso País.

Primeiro, desmantelou a quase generalidade do aparelho produtivo nacional, de forma sistemática e organizada: pagando o abatimento da frota pesqueira, a destruição da nossa agricultura, a alienação do grosso da nossa indústria pesada, desde o sector siderúrgico ao naval.

Segundo, promovendo a construção maciça e aparentemente desbragada de novas autoestradas e vias rápidas, que facilitassem a entrada das suas exportações.

Internamente, isto foi aproveitado às mãos-cheias pelos governos do PSD e do PS, que assim podiam propagandear «desenvolvimento» e fartura, enquanto novos grupos económicos se formavam à volta de construtoras a receber à tripa forra a construir estradas.

Foram os tempos em que Cavaco Silva afirmava, perante o encerramento da nossa siderurgia e com uma arrogância inacreditável, que «não fazia mal, pois havia muito aço em Espanha e mais barato».

Nos últimos anos, e sob o pretexto ignóbil de uma «crise» que os especuladores bolsistas provocaram e os povos estão a pagar, a UE decidiu apertar o garrote a Portugal sob a capa de uma «ajuda» que nos põe a resvalar para uma inexorável ruína.

Agora, até vozes no PS e no PSD já se erguem a denunciar o que rejeitaram veementemente em relação à UE quando o PCP, há mais de 20 anos, o proclamava aos quatro ventos.

Entretanto, o negócio da UE – feito para que as «panelas de ferro» dominassem a Europa – esboroa-se a olhos vistos, enquanto o bando de irresponsáveis que nos desgoverna insiste na obediência canina ao desastre que as troikas vão impondo.

O tempo é de luta aberta e acesa contra o capitalismo, confirmadamente irreformável. A denúncia das panelas, do PCP há 20 anos, são um excelente ponto de partida.



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