Governo de Boc demite-se
O primeiro-ministro romeno, Emil Boc, anunciou, na segunda-feira, 6, a demissão do seu Governo, em funções desde 2008, justificando a decisão com a necessidade de «aliviar a situação política e social no país».
Contestação social abana poder político romeno
Desde 12 de Janeiro que milhares de romenos contestam nas ruas as novas medidas antipopulares, anunciadas como contrapartida de um novo empréstimo do Fundo Monetário Internacional.
Pediam a demissão de Boc e do presidente Traian Basescu, o principal responsável pelas políticas da equipa democrata-liberal. E, sobretudo, o fim da «cura» de austeridade, aplicada desde 2008, quando o país recebeu o primeiro pacote de ajuda do FMI (20 mil milhões de euros), que parece ter chegado aos limites.
Perante uma explosão social sem precedentes, depois do golpe que derrubou o regime socialista no final de 1989, Basescu prometeu desistir do projecto de lei da Saúde, que previa, entre outros, a privatização do serviço móvel de urgências médicas.
Mas o clamor das ruas manteve-se, obrigando-o, duas semanas depois, a sacrificar Boc, numa aparente cedência aos manifestantes, para lhes apaziguar a fúria, criando a impressão de uma mudança, para que tudo fique na mesma.
Logo o presidente romeno indigitou um outro seu homem de mão para a chefia do Governo. Trata-se do historiador Mihai-Razvan Ungureanu, de 43 anos, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros de 2004 a 2007, e actualmente chefe dos serviços secretos no exterior, controlados directamente por Basescu.
Contudo, a eficácia da manobra não está garantida. Os protestos continuam na capital romena e noutras regiões, apesar das temperaturas gélidas que afectam o país. As razões de fundo mantêm-se intactas: a população luta para sair da miséria.
Balanço desastroso
O balanço dos últimos anos é desastroso do ponto de vista económico e sobretudo social. Num país onde o salário médio não vai além de 350 euros, os duros cortes salariais de 25 por cento, impostos aos funcionários públicos, o aumento do IVA de 19 para 24 por cento, o congelamento das pensões e a redução dos subsídios de desemprego em 15 por cento, colocaram a maioria das famílias numa situação próxima da indigência.
Agora, o FMI insiste na liberalização do sector energético até 2017 e no aumento das tarifas da electricidade e do gás; o anúncio das medidas desencadearam uma nova vaga de protestos.
Com eleições legislativas previstas para o fim do ano, o crescente descontentamento social começou a reflectir-se no interior do próprio Partido Democrata Liberal (PDL). Vozes destacadas vieram a público pedir a cabeça de Boc, transformado em bode expiatório pela acentuada queda de popularidade do PDL, em mais de 20 pontos percentuais. O nervosismo atacou também os seus aliados de Governo, do pequeno partido UDMR da minoria húngara, que ameaçavam romper a coligação.
Na oposição, sociais-democratas e liberais afirmam que «não vamos aceitar um primeiro-ministro nomeado por Basescu», como declarou o presidente do Partido Liberal, Crin Antonescu, para o qual só há uma solução: «eleições antecipadas» (Le Monde, 06.02). Também os sociais-democratas, liderados por Victor Ponta, reclamam eleições antecipadas. O novo primeiro-ministro dispõe agora de dez dias para apresentar o seu governo e obter o aval do parlamento.