Comentário

A «via diplomática» da UE

Inês Zuber

Image 9646

No site do Parlamento Europeu (PE) pode ler-se num título: «Eurodeputados apoiam novas sanções ao Irão e avisam contra nova escalada», a propósito de uma resolução aprovada no passado dia 2 de Fevereiro sobre o Irão, em plenário do PE. Se quem escreveu o título (e o texto) tivesse algum rigor jornalístico, teria mencionado que a dita resolução não foi subscrita (nem votada favoravelmente) pelo GUE/NGL, grupo no qual os deputados do PCP se integram, mas sim pelos restantes grupos políticos (direita, liberais, sociais-democratas, conservadores, verdes). O texto em causa é o respaldo do PE à decisão do Conselho Europeu de aprovar novas sanções unilaterais contra o Irão que incluem o embargo europeu de petróleo iraniano e a proibição de transacções da UE com o Banco Central iraniano, medidas que nada têm de original, sendo apenas a réplica europeia das sanções já decididas pelos EUA. Nesta resolução, o PE diz «apoiar o empenho do Conselho na procura de uma solução diplomática para a questão nuclear iraniana». Sim, é estranho, mas a maioria dos deputados do PE consideram que impor um bloqueio que pretende asfixiar o sistema económico e financeiro do Irão (a UE compra 18 por cento da exportação de petróleo iraniano) e cujas consequências incidirão em primeiro lugar nas condições de vida do povo iraniano, é uma forma «simpática» e «diplomática» de estabelecer diálogo. É evidente que seja inaceitável, para os responsáveis europeus, perante tão «diplomática» abordagem dos EUA e da UE, que o governo iraniano tenha respondido com a ameaça de encerrar o estreito de Ormuz, por onde passa cerca de 20 a 30 por cento do petróleo transportado por mar. É que as medidas da UE são sempre «diplomáticas», já as respostas do Irão consistem em «provocações» merecedoras de repúdio e condenação. Ora, para combater essa «ameaça» de quem não tem direito a resistir a estratégias imperialistas, segundo a maioria dos deputados europeus, os EUA e países da UE foram «obrigados» – mas, sempre, «diplomaticamente» – a enviar enormes contingentes navais, como a V Esquadra, para a costa marítima iraniana.

Sejamos claros. Qual é a parte desta triste «estória» que a humanidade não conhece já? Ter um pretexto para tentar que a opinião pública «aceite» uma possível intervenção militar que satisfaça as ambições imperialistas dos EUA e da UE? Não foi a alegada existência de armas de destruição maciça que pretendeu «justificar» a invasão dos EUA e da Grã-Bretanha ao Iraque, à margem de qualquer decisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas? Mais tarde, o próprio vice-secretário da Defesa da administração Bush, Paul Wolfowitz, confessou que o motivo que conduziu a uma ocupação que fez mais de um milhão de mortos, a maioria civis, foi a existência de petróleo iraquiano. No Afeganistão, a «luta contra o terrorismo» foi o motivo apresentado pelos EUA que queriam aqui pregar, mais uma vez, a sua «moral democrática». Mas, coincidentemente, o Afeganistão tornou-se novamente, por estes tempos, o país monopolista na produção mundial de ópio. E, mais recentemente a Líbia. Aqui, mais uma vez, os EUA, com o apoio da França e da Grã-Bretanha, papaguearam acerca da necessidade de uma curta «intervenção humanitária». Afinal, os devastadores bombardeamentos da NATO destruíram cidades e aldeias líbias durante mais de sete meses. E ainda antes de ter acabado a guerra, já os agressores imperialistas discutiam como distribuir o saque, ou seja, o petróleo e o gás líbios.

Hoje, no Irão, é o pretenso perigo de desenvolvimento de armas nucleares – nunca confirmado pela Agência Internacional de Energia Atómica – que tenta justificar, por parte dos EUA e UE, a imposição de sanções e de movimentações militares provocatórias. Mas como a história nos ensina e nos torna previdentes, temos por certo que, para lá de evidentes interesses geoestratégicos no contexto do projecto do «Grande Médio Oriente», as verdadeiras ambições dos EUA e da UE no Irão residem no facto de este ser o segundo país produtor de petróleo da OPEP e nos negócios lucrativos que uma guerra pode trazer, sobretudo, em tempos de crise.

As preocupações dos responsáveis e dos deputados europeus acerca de possíveis projectos nucleares é, curiosamente, muito «selectiva». É uma preocupação que visa alguns países mas jamais potências nucleares como a França, Inglaterra, os EUA ou Israel.

Quanto a nós, continuamos, como sempre, a defender e a lutar pelo desarmamento e fim das armas nucleares e de destruição maciça, pelo cumprimento das determinações da Carta das Nações Unidas, pelo respeito pela soberania e igualdade dos povos, pelo direito a viver em Paz. Mas sem hipocrisias.



Mais artigos de: Europa

Governo de Boc demite-se

O primeiro-ministro romeno, Emil Boc, anunciou, na segunda-feira, 6, a demissão do seu Governo, em funções desde 2008, justificando a decisão com a necessidade de «aliviar a situação política e social no país».

Paleckis absolvido

Algirdas Paleckis, líder da Frente Popular Socialista da Lituânia, foi absolvido, dia 18 de Janeiro, pelo 1.º Tribunal do Distrito de Vílnius, no processo em que era acusado de «negação da agressão soviética em 1991».

Contra a desregulamentação laboral

Trabalhadores noruegueses dos diferentes sectores cumpriram, dia 18 de Janeiro, uma greve geral em protesto contra o projecto governamental de transposição para a legislação nacional da directiva da União Europeia sobre trabalho precário. Apesar de a população...

Regras da «concorrência» abatem <i>Malév</i>

A companhia aérea de bandeira da Hungria suspendeu as operações, dia 3, por insolvência financeira, um mês depois de a União Europeia ter obrigado a empresa a devolver ao Estado ajudas no montante de 88 mil milhões de forints (300 milhões...

Grécia voltou a parar

A Grécia ficou praticamente paralisada, na terça-feira, 7, pela greve geral convocada pelos principais sindicatos do país para protestar contra um novo pacote de medidas de austeridade, que está a ser negociado com os credores internacionais. A primeira paralisação geral...