Este parte, aquele parte..
Dentro de três dias João parte para a Suíça. Vai com o irmão mais velho, aproveitando a viagem de volta entre o Natal e o Ano Novo e juntar-se-á a mais três rapazes lá da aldeia que partiram no Verão. Aos 27 anos, os dois últimos no desemprego, cansou-se de procurar aquilo que há muito por aqui não existe. Parte sem qualquer certeza, mas sempre adianta a ideia: «ou era agora ou já não era».
A decisão há muito que estava tomada e apenas não tinha sido concretizada antes porque lá fora as coisas não são hoje o que já foram noutros tempos e a crise, essa, é do sistema e está a alastrar por toda a Europa. Espera-o agora um contrato de seis meses como operário da construção civil, um inverno rigoroso, um quarto em casa do irmão e, na pior das hipóteses, estará de volta ainda antes do Verão.
João, seguirá o exemplo de muitos dos seus compatriotas ao longo das últimas décadas. Não como qualquer devir colectivo, mas como resultado das duras e cruéis circunstâncias que empurram todos os anos milhares de homens e mulheres para longe de muito do quanto gostam. Aos que partem para a construção civil, a hotelaria ou a agricultura, juntam-se agora os engenheiros, os informáticos, os enfermeiros, entretanto formados com a massificação do ensino, mas para os quais não há lugar, num país em acelerado ritmo de destruição.
Para o nosso País tal realidade tem sido reflexo do processo de dependência e atraso a que só a Revolução Abril foi capaz de fazer frente. Nem o papel de válvula de escape no plano social – pelo qual o actual Governo anseia – nem as «remessas de emigrantes» no plano económico, conseguem anular a dimensão trágica que resulta para Portugal da saída em massa do seu mais importante recurso: os trabalhadores. Uma saída de recursos, que se junta à entrega de empresas e sectores estratégicos (por via das privatizações) ao capital estrangeiro, ao pagamento de milhares de milhões de euros de juros, à fuga de capitais (lucros, rendas e juros) que o pacto de agressão, em grande medida, veio acelerar.
Tal como o João, muitos dos jovens que estão a sair não vão à procura do paraíso. Fogem, isso sim, da agressão, do inferno em que ameaçam transformar as suas vidas.