Entre amigos

Jorge Cordeiro

As palavras são como as cerejas, a seguir a uma, outra vem. Assim se explicará que, na afável conversa entre entrevistado e entrevistador a que foi submetido, entre a promessa anunciada de mais medidas de austeridade e juras de fidelidade aos novos colonizadores do País, Passos Coelho não tenha contido aquele irreprimível desejo de expressar a imensa estima que tem «pelo seu amigo Seguro». Qualquer coisa que acompanhando-os desde os tempos em que exercitavam já aqueles duelos oposicionistas entres «jotas» siamesas, conhece agora, na sua união de facto em torno do programa de agressão, novas razões de estima e mais reforçados laços de comprometimento.

Assim se compreenderá melhor este negócio de amigos que, construído em redor de fraternas conversas, ganhou em expressão pública aquela pitada de alegadas desavenças a que Seguro e Passos se prestaram para iludir o que os une. Primeiro, pela voz de Seguro aquela previsão, de indesmentível rigor matemático, sobre os 0,001% de probabilidade que o Orçamento do Estado do seu amigo Passos teria de ser chumbado pelo PS, em si mesmo reveladora em idêntica proporção do que o País poderia esperar em matéria de oposição vinda daquelas bandas; depois, aquela ameaça de confrontar o seu amigo Passos com essa inovação, a que designou por «abstenção violenta», que por si só é demonstrativa, pela genialidade política e teórica que encerra, até onde estes negócios entre amigos podem aguçar o engenho e alimentar a imaginação; e por último, mas o não menos importante, aquela rábula sobre folgas orçamentais, a ajustada proporção do que deveria ser roubado aos portugueses e outras elevadas discordâncias, que Seguro foi ensaiando para acabar por dar no que se previa: num roubo dos subsídios aos trabalhadores e aos reformados onde lá estão com toda a nitidez as impressões digitais do líder do PS que, lado a lado com as do seu amigo Passos mais as dos amigos comuns que no estrangeiro os aconselham, o compromete e faz cúmplice deste Orçamento desgraçado.



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