O capitalismo não tem solução

Com a luta, os trabalhadores hão-de derrotá-lo!

João Dias Coelho (Membro da Comissão Política)

O ca­pital que tantas lá­grimas chora na época na­ta­lícia pelos po­bres e coi­tados, não ab­dica de ex­plorar sempre até à me­dula aqueles que só dis­põem da sua força de tra­balho. O prin­cípio da ex­plo­ração está na na­tu­reza do ca­pital, que vê na força de tra­balho a sua fonte prin­cipal de en­ri­que­ci­mento. A venda da força de tra­balho é o único meio que os tra­ba­lha­dores têm para so­bre­viver e é por isso que o ca­pital cada vez mais a des­va­lo­riza.

A luta or­ga­ni­zada dos tra­ba­lha­dores é o motor da trans­for­mação so­cial

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Num tempo de crise global do sis­tema ca­pi­ta­lista em que se con­firma mais uma vez a te­oria mar­xista, de­sen­vol­vida no sé­culo XIX e com­pro­vada na prá­tica, sobre a baixa ten­den­cial da taxa de lucro, o ca­pital pro­cura re­cu­perar par­celas per­didas – bai­xando sa­lá­rios, rou­bando sub­sí­dios, au­men­tando o tempo de tra­balho, re­du­zindo ao mí­nimo o pa­ga­mento do tra­balho su­ple­mentar, li­qui­dando di­reitos, anu­lando apoios so­ciais, au­men­tando os im­postos sobre os já ma­gros ren­di­mentos do tra­balho, des­truindo a con­tra­tação co­lec­tiva.

No quadro da com­pe­ti­ti­vi­dade inter-im­pe­ri­a­lista, o ca­pital, no «de­ses­pero» de apro­veitar ra­pi­da­mente a ac­tual cor­re­lação de forças re­sul­tante do de­sa­pa­re­ci­mento da URSS e do so­ci­a­lismo como sis­tema mun­dial, pro­cura ace­lerar ainda mais o pro­cesso de con­cen­tração e cen­tra­li­zação ca­pi­ta­lista em cada país e à es­cala trans­na­ci­onal, au­men­tando a ex­plo­ração e o do­mínio e co­lo­ni­zação das eco­no­mias mais frá­geis e pe­ri­fé­ricas.

É neste con­texto que se in­sere a re­cla­mada ace­le­ração do pro­cesso fe­de­ra­lista na UE como ele­mento chave para salvar a Eu­ropa do ca­pital, com a in­tro­dução da cha­mada go­ver­nação eco­nó­mica, que colhe o apoio do PS, do PSD e do CDS e de gradas fi­guras da nossa praça. Neste plano en­quadra-se também o BE, com o seu sen­tido fe­de­ra­lista.

Esta é mais uma ex­pressão da ten­ta­tiva de au­mentar ainda mais a perda de so­be­rania dos países mais frá­geis no plano da sua ca­pa­ci­dade de de­cisão e da sua es­tru­tura pro­du­tiva, im­pondo re­gras dra­co­ni­anas no plano fiscal e so­cial de forma a ga­rantir a so­bre­vi­vência dos mais fortes. Os se­nhores do ca­pital que do­minam a UE falam cada vez menos no mi­ti­gado mo­delo so­cial eu­ropeu. A sua pre­o­cu­pação está cen­trada nas fi­nanças e na sal­vação do euro como ins­tru­mento de con­fronto nas re­la­ções de troca e de es­pe­cu­lação fi­nan­ceira entre as su­per­po­tên­cias que se di­gla­diam entre si na par­tilha do mundo e que, para isso, querem es­ta­be­lecer uma es­pécie de cordão sa­ni­tário em torno dos países mais fortes para a de­fesa do euro e das suas eco­no­mias.

 

A luta não pára

 

Como Lé­nine es­creveu em 1915, no seu ar­tigo Sobre os Es­tados Unidos da Eu­ropa, do ponto de vista das con­di­ções eco­nó­micas do im­pe­ri­a­lismo, isto é, da ex­por­tação de ca­pi­tais e da par­tilha do mundo pelas po­tên­cias co­lo­niais avan­çadas e ci­vi­li­zadas, os «Es­tados Unidos da Eu­ropa, sob o ca­pi­ta­lismo, ou são im­pos­sí­veis ou são re­ac­ci­o­ná­rios». «Os Es­tados Unidos da Eu­ropa, no ca­pi­ta­lismo, equi­valem ao acordo sobre a par­tilha das co­ló­nias. Mas no ca­pi­ta­lismo é im­pos­sível outra base, outro prin­cípio de par­tilha que não seja a força.»

A re­a­li­dade está a con­firmar tal aná­lise, pois apesar do es­forço imenso para ocultar a na­tu­reza da UE, mas­ca­rando-a como a Eu­ropa dos povos, a ver­dade é que ela é uma cri­ação do ca­pital trans­na­ci­onal eu­ropeu para servir os seus pró­prios in­te­resses.

Na ver­dade, im­porta per­guntar porque é que há crise. Porque é que há so­bre­pro­dução mun­dial, quando a po­pu­lação cresceu, as ne­ces­si­dades de con­sumo au­men­taram e a fome mata mi­lhões de seres hu­manos. Tal facto re­sulta de uma in­justa re­par­tição da ri­queza, de uma ordem eco­nó­mica in­ter­na­ci­onal in­justa, de­sa­jus­tada da re­a­li­dade e das ne­ces­si­dades dos povos, mas que serve in­tei­ra­mente o ca­pital à es­cala mun­dial – que re­parte (com­pe­tindo entre si) as partes do globo onde pode captar mais e mais lucro.

En­quanto uns con­ti­nuam a acu­mular ri­queza à custa da ex­plo­ração dos tra­ba­lha­dores, dos povos e na­ções, através da ocu­pação ter­ri­to­rial mi­litar e eco­nó­mica, ex­plo­rando ri­quezas na­tu­rais que não são suas, ou­tros – os tra­ba­lha­dores e os povos – morrem de fome e de mi­séria.

O ca­pi­ta­lismo não tem so­lução, não é re­for­mável, nem hu­ma­ni­zável. Ele re­siste na sua agonia. Mas um dia os tra­ba­lha­dores e os povos, com a sua luta or­ga­ni­zada, hão-de der­rotá-lo. Eles sabem, em­bora o ne­guem, que o motor da trans­for­mação so­cial é a luta or­ga­ni­zada dos tra­ba­lha­dores e dos povos. Luta que não pa­rará en­quanto houver in­jus­tiça, fome e mi­séria. Luta de re­sis­tência que in­cor­pora ele­mentos de ofen­siva e de trans­for­mação so­cial e que co­nhece no nosso País e no mundo avanços e pro­gressos e na qual o nosso Par­tido as­sume o seu papel de van­guarda.



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