Erro ou gralha

Francisco Mota

-------- Mensagem Original --------

PARA CONHECIMENTO DO CAMARADA FRANCISCO MOTA

NO ARTIGO DESTA SEMANA EM "OS RICOS..." ESTÁ ESCRITO NA FRASE ABAIXO

COLADA:<uma grama>

ADMITO SER UMA GRALHA. ADMITO SER UM ERRO.

A GRALHA É UMA QUESTÃO DE REVISÃO E REVISOR, O ERRO FICA AQUI

CORRIGIDO. NO SISTEMA DE PESO «GRAMA» É MASCULINO POR ISSO SE DIZ O

QUILO - GRAMA E ASSIM PARA TODOS OS MÚLTIPLOS E SUBMÚLTIPLOS.

GRAMA SUBSTANTIVO FEMININO É UMA RIZOMATOSA,ESPONTÂNEA E PREJUDICIAL À

AGRICULTURA E TERMO MUITO USADO POR BRASILEIROS PARA DESIGNAR O

RELVADO DOS ESTÁDIOS DE FUTEBOL. («o gramado»).

Gosto muito dos e deste artigo publicado esta semana!

Um abraço

José da Cruz Boavida

...empregado e ficou com os olhos nele: mulato, um metro e noventa,
sem <(uma grama)> de gordura e com os peitorais

O que os leitores têm aqui é o texto de um e-mail chegado à redação do Avante!. Está assinado por José da Cruz Boavida, de quem só sei ser leitor do Avante! e seguramente camarada do PCP. É a ele que me queria dirigir.

Querido camarada José da Cruz

Não percas mais tempo na tua dúvida. É claramente um erro meu, ter escrito «uma grama» e não «um grama». Não há outra possibilidade. Escrevo habitualmente muito rápido tentando que a ideia base que quero comunicar não se me perca pelo caminho, como tantas vezes acontece. Daí ter usado a forma errada por causa do peso da vox populi, que quase sempre diz «uma grama». E como eu, toda a cadeia de pessoas que leram o texto, acabando na redação do jornal, que deixou passar a «gralha» sem a corrigir. Mas a culpa é minha desde o princípio.

A tua explicação, didática e completa, não sobra, porque assim sabemos que não podemos escrever sem ter cuidado com as patadas na gramática.

Diria que quando descreves a grama como uma rizomatosa com que se fazem os campos de futebol, imediatamente a minha atenção saltou para o facto de essa grama, que tu dizes prejudicial para a agricultura, seria muito bem usada no pastoreio, livre e democrático, dos nossos governantes, banqueiros, presidentes de companhias públicas e privadas, com o Amorim à frente, na sua qualidade de «trabalhador» mais rico de Portugal. Também se lhes podia juntar uma boa quantidade de «independentes jornalistas» que fazem tudo para não perder o emprego e além disso são mais papistas do que o papa. Pensarás: é muita gente para uns campos de futebol. Mas eu digo-te: não te esqueças da barbaridade de estádios construídos para o europeu de 2004, alguns deles, para cúmulo, construídos onde já havia estádios que foram destruídos para fazer outros no mesmo sítio. Que contentes estavam todos: o primeiro ministro, o governo, os dirigentes dos clubes e os seus amigos construtores e até a dona Rita Sampaio com a sua camisa metade verde, metade vermelha, que tantos suicídios provocou entre os desenhadores de moda. Pôr esta gente a pastar pouparia ao País uma grande quantidade de alimentos e ocupava-lhes o tempo que normalmente usam para fazer decretos que afundam o País e sobretudo os trabalhadores, com ou sem emprego. Que te parece? Não digo gramaticalmente, mas como ideia para atacar o défice e repartir o peso das cargas nas contas do Estado. Portanto passemos de teoria «o governo que vá pastar!» à prática «os que mandam, estão hoje a pastar em Alvalade.»

Para te agradecer a tua atenção aos textos que publicamos, vou dar-te uma receita que, exemplo do mais pobre da cozinha pobre é fantástica no seu sabor e facilidade de confecção. Chama-se «sopas de feijão-preto» e era comida nas casas dos agricultores, no tempo das sementeiras (ou seja, mais ou menos nestes meses de Novembro-Dezembro) pelos patrões-trabalhadores e mais algum contratado para as tarefas da época. Comia-se, noite escura, por volta das 6 ou 7 da manhã, antes de sair para os campos a lavrar e semear. Na minha zona, Alto Alentejo, fazia-se assim: cozia-se na véspera uma quantidade suficiente de feijão frade (aqui conhecido por feijão-preto) com bastante água. Na madrugada seguinte fazia-se um refogado com cebola, alho, pimento, louro e eventualmente um tomate. Numa travessa de barro grande, dispunha-se várias fatias de pão (sopas) para cobrir bem a travessa (chamada barranhão, porque, como os porcos, toda a gente comia da mesma travessa, não havendo portanto pratos). Volta-se a aquecer os feijões e o caldo onde cozeram. Mistura-se o refogado com os feijões e o caldo. Uma vez bem ligado tudo, deita-se sobre as «sopas» de pão, que se embebem do líquido. Aqui está. Tudo saboroso, cheio de hidratos de carbono que o corpo levaria umas horas a gastar, mesmo com o esforço duro que ia começar. Estômago confortado e quente para umas temperaturas baixas e muitas vezes com chuva. Era duro? Claro que era duro! Mas as pessoas tinham que vender a única mercadoria que tinham para sobreviver: a sua força de trabalho.



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