Nos bastidores da «crise»
«Todo o poder de decisão das multidões depende de uma maioria ocasional, superficial, instalada na base da sua ignorância dos segredos da política… Assim, a Nova Ordem aposta na fome crónica e na fraqueza dos operários, para que tudo os escravize à vontade dos que mandam e de forma a que fiquem sem poder, força e energias para se oporem às nossas intenções» (Protocolos dos Sábios de Sião)
«A finalidade da justa ordem social é garantir a cada um, no respeito do princípio da subsidiaridade, a própria parte dos bens comuns... Só através da caridade iluminada pela luz da razão e da fé é possível alcançar os objectivos do desenvolvimento» (Caritas in veritate, Bento XVI)
«O descontentamento popular perante os actuais desenvolvimentos nos planos das relações laborais, segurança social, serviços públicos, como também nos planos das incontroladas injustiças e violências nacionais e internacionais, encontrará forma de traduzir-se em acção» (Imperialismo: seus limites e alternativas, Rui Namorado Rosa, 2004)
Os capitalistas vivem em sobressalto. Foi-se a arrogância e a euforia dos banqueiros. Os padres, quando falam em «crise» tocam a rebate mas o som que extraem é o do «toque a finados». Entretanto, multiplicam-se os escândalos públicos e o tão badalado aparelho de Estado capitalista estremece e declina aceleradamente.Degrada-se nas bolsas o valor do euro e do dólar. Também a palavra se desvaloriza. O crédito do palavreado que enche o ouvido cai a pique na opinião pública que pouco a pouco vai entendendo a natureza corrupta dos governantes e o pavor que lhes inspira a possibilidade de uma reacção das massas exploradas.
Ninguém, é certo, pode estabelecer calendários para as fases futuras desta dramática situação. Ou, inclusivamente, pode antecipar as dimensões da tragédia que se desenha. Quando se vê acossado, o capitalismo mostra as garras. É um animal feroz.
O que também aumenta, a par do desemprego e da pobreza, é a confusão geral. O euro tem dez anos de idade e já está de rastos. Prometeu a prosperidade e conduziu à miséria dos povos. Gerou fortunas brutais entre os ricos e os especuladores. Escavou um fosso social ainda mais profundo e mistificou o Estado dito democrático.
Este é um esboço possível das chagas produzidas pelo neoliberalismo global.
O mundo em que vivemos
Segundo afirmam analistas, o euro é europeu e o capitalismo é global. Mas a diferença é irrelevante. Tudo está nas mãos da banca que prospera ao sabor das bolsas de valores e cujos capitais – estatais, privados ou mistos – são sagrados. Em todo o mundo, menos de 1% das empresas financeiras controlam 40% dos bens produzidos. Junte-se a este montante astronómico os lucros reais obtidos pelos offshores, pela economia paralela, pelo mundo do crime, pela especulação, pelos mercados paralelos, pelas engenharias financeiras, etc. Teremos então formado uma ideia – ainda que incompleta – das dimensões do roubo mundial a que muitos ainda assistem como vítimas passivas.
No outro pólo alastra a mancha negra da fome e da miséria. Mesmo nos países mais desenvolvidos, o desemprego atinge 50 milhões de trabalhadores. Há muito mais do que 60 milhões de pobres em todo o mundo ocidental. As estruturas do Estado social são sistematicamente destruídas pelo neoliberalismo.
Isto não pode continuar assim.
A Igreja faz pesquisa e sabe que a passividade das massas não é eterna. Que ela própria tem uma imagem a defender junto da humanidade e que não será intervindo directamente ao lado dos exploradores que conseguirá reforçar a sua influência entre as populações. As sortes, porém, estão lançadas. O Vaticano traçou para si um caminho irreversível.
A Igreja portuguesa (aquela que, naturalmente, está para nós em primeira linha) é um exemplo deste efeito paralisante que rouba aos gigantes a noção da sua fragilidade. As hierarquias eclesiásticas, para garantirem um lugar entre os mais ricos, calam-se perante o crime, a brutalidade, a injustiça e a corrupção. São agentes activos do que acontece em Portugal e no mundo. Isto é, valem-se de um sistema iníquo para consolidarem, em plena crise, os seus patrimónios.
Se o Patriarcado negar que assim é, então aqui fica uma proposta: que divulgue voluntariamente contas honestas das verbas fabulosas que lucra com a especulação financeira, os jogos bolsistas, os offshores, o imobiliário, as isenções fiscais da Concordata, etc., etc.
Os católicos deveriam lutar pelo acesso a estes esclarecimentos elementares.