Comunistas de Lisboa preparam VII Assembleia Regional

Encontrar caminhos para resistir e avançar

A VII Assembleia da Organização Regional de Lisboa do PCP, marcada para 5 de Novembro, no Pavilhão do Casal Vistoso, será realizada num momento intensíssimo da luta de massas. Ana Lourido, Luís Caixeiro e Luís Fernandes, da DORL e do Comité Central, não vêem isto como um problema, mas como uma oportunidade para comprovar na prática as decisões e reflexões aí assumidas.

A VII AORL contará com mais de 900 delegados

Avante!: Quais os objectivos centrais definidos para esta assembleia?


Luís Caixeiro:
O lema da assembleia, Contra o capitalismo, democracia e socialismo – Reforçar o PCP, que resultou de uma ampla discussão colectiva, expressa o contexto em que estamos a preparar a assembleia e a ideia de que o reforço do Partido e da sua ligação às massas são elementos fundamentais e determinantes para a tarefa maior do Partido – a derrota do capitalismo e a construção do socialismo. Os grandes objectivos que colocamos à assembleia são o reforço do Partido e da sua ligação às massas e o alargamento da luta.

Estamos a procurar construir a assembleia centrando a nossa discussão em dois aspectos mais concretos: a organização do Partido nas empresas e locais de trabalho, dando uma atenção muito grande à célula; e as fórmulas de organização para fazer frente à realidade actual dos locais de trabalho.

 

Ana Lourido: Este documento (projecto de resolução política) é diferente de outros que fizemos para assembleias anteriores. Optámos por não fazer uma caracterização tão aprofundada das questões sociais, fixando-nos mais nas nossas dificuldades e nas medidas para as ultrapassar. A assembleia esteve marcada para Maio (foi adiada devido à realização de eleições antecipadas em 5 de Junho) e estamos a prepará-la desde o ano passado. Desde então, deu-se um salto qualitativo muito grande na ofensiva, em todas as áreas. O documento tenta retratar isso e as nossas dificuldades.

 

Que dificuldades são essas?

AL: As dificuldades não são todas nossas, partem em primeiro lugar da realidade concreta em que actuamos, mas temos que procurar saber quais os nossos principais obstáculos para os podermos superar. Queremos levar isto à discussão das organizações, para que elas próprias identifiquem os seus principais problemas e encontrem as soluções adequadas.

 

LC: As dificuldades são reais: destruição do aparelho produtivo fortíssimo que aqui havia, com grandes concentrações de operários; desregulamentação dos horários; externalização de serviços; proliferação de empresas de aluguer de mão-de-obra; a precariedade; a ideologia dominante; o papel da UGT em alguns sectores...

 

Que medidas são propostas para as contrariar?

LC: Há que definir as nossas prioridades de intervenção. Ao nível sectorial, das grandes empresas, da concentração de mão-de-obra juvenil, tomando as medidas de quadros necessárias. E depois há ainda a questão do conteúdo da intervenção das células de empresa. Sente-se uma grande necessidade, por parte dos camaradas, em discutir o que é que nós, como organização do Partido dentro da empresa, temos que fazer, qual o nosso papel. E daí passar à organização e à intervenção.

 

Luís Fernandes: um ponto específico no projecto de resolução política dedicado ao trabalho organizativo para responder a estas novas realidades. O Partido tem que encontrar novas fórmulas de organização que se adaptem a elas. Apontamos caminhos que, não sendo novos, devem merecer uma atenção especial por parte das organizações do Partido: criar células com camaradas dispersos; fazer do contacto individual uma linha de trabalho importante; trabalhar com um ou dois militantes de uma mesma empresa; contactar com os militantes no seu local de residência ou nos seus locais de encontro, se isso for mais fácil.

Apontamos ainda para a necessidade de dar uma ainda maior dinâmica à intervenção em sectores como as grandes superfícies, a limpeza, a portaria e vigilância, os centros de contacto, para todas essas novas áreas que crescem e têm hoje muitos milhares de trabalhadores.

 

As eleições obrigaram ao adiamento da assembleia de Maio para Novembro. A situação económica e social que vivemos não constitui igualmente um obstáculo à sua preparação?

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LC: Vamos realizar a assembleia num ponto intensíssimo da luta de massas. Em Setembro, tivemos uma multiplicação muito significativa de lutas no distrito, com um conjunto largo de quadros do Partido a dedicar-lhes uma grande atenção. A perspectiva que temos para o mês de Outubro é de intensificação desta mobilização dos trabalhadores.

Podíamos encarar isto como uma dificuldade, mas preferimos olhar para esta situação como uma oportunidade: no momento em que estivermos a tomar as decisões teremos uma realidade que está em transformação e que nos estará a provar ou a negar a análise que estaremos a fazer e as medidas que estaremos a assumir.

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AL: A preparação da assembleia é um processo que está em curso, mas temos para já 215 reuniões marcadas, e muitas serão ainda agendadas. Serão eleitos 796 delegados, na proporção de um delegado por 20 militantes. Com os delegados por inerência, participarão na assembleia mais de 900 delegados.

 

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LF: Agora há que desenvolver a eleição dos delegados e a discussão do documento, que nós procuramos que seja ligada à realidade de cada organização, analisando-se e tomando-se medidas para que o trabalho do Partido avance. E tudo isto terá que ser feito em simultâneo com o desenvolvimento da actividade política do Partido. Estivemos empenhados na manifestação de dia 1 e agora vamos preparar a semana de luta de 20 a 27 de Outubro.


«É preciso mais para dar combate à ofensiva»

 

Para além da prioridade dada às células e à intervenção nas empresas, o projecto de resolução política dá um grande destaque às «alianças sociais básicas» e ao «alargamento da frente social de luta»...


AL: No documento damos uma atenção especial à organização e intervenção nas empresas e locais de trabalho, mas há outras camadas que precisamos de trazer para a luta. No que respeita aos intelectuais e quadros técnicos, demos passos importantes: destacámos quadros, criámos Partido e interviemos em diversos locais de trabalho da comunicação social ou das artes e espectáculos. Também houve desenvolvimento da luta nos micro, pequenos e médios empresários, enquanto que nos agricultores há atrasos maiores. Mas é preciso muito mais para dar combate a ofensiva que aí está.

 

LF: No que respeita aos micro, pequenos e médios empresários, houve de facto avanços, nomeadamente em períodos eleitorais. Mas falta-nos caminhar muito no que diz respeito a esta camada e há atrasos significativos que temos que superar. A juventude e os reformados são outras áreas a que temos que dar outra relevância e temos que dar passos mais significativos.

Há uma decisão do Congresso e uma decisão do Comité Central, designada Avante! Por um PCP mais forte, da qual chamamos a atenção para quatro linhas essenciais: células de empresa; recrutamento; quadros; juventude.

 

No que respeita à juventude, voltamos à questão da organização no local de trabalho, pois são das camadas mais afectadas pela precariedade...


LC: Não temos a ideia de que a precariedade seja exclusivo das novas gerações. É hoje um problema de todos os trabalhadores. Mas afecta-as de forma particular, até por serem as que se vão manter por mais tempo nos locais de trabalho. Além disso, não trazem uma memória histórica da luta e da resistência, pois essa memória foi cortada com os encerramentos e despedimentos nas grandes unidades industriais. Estão a construir a sua experiência de luta a partir do zero.

 

LF: Há também um trabalho que é preciso desenvolver a partir das pequenas lutas em torno de problemas concretos: centros de Saúde, escolas, transportes, segurança. São problemas a que as organizações do Partido nos diversos sítios não podem ser alheias e têm que intervir sobre eles.

Destaca-se ainda o trabalho político unitário do Partido, o nosso contacto com homens e mulheres (que normalmente só contactamos em períodos eleitorais, mas que pretendemos generalizar) ouvindo as suas opiniões transmitindo-lhes as nossas posições. Damos ainda importância à nossa acção institucional, ao trabalho dos eleitos nas mais diversas áreas.


Grandes avanços

 

Que balanço fará a direcção cessante da actividade do Partido no distrito nos últimos quatro anos e meio?


LF: Temos que inserir a nossa intervenção na acção mais geral do Partido. Houve que dar resposta ao desenvolvimento da luta (e houve duas greves gerais neste período), às várias eleições, às iniciativas nacionais do Partido. E entendemos que demos uma boa resposta a essas tarefas.

Do ponto de vista orgânico, houve grandes avanços. Realizámos mais de duas centenas de assembleias de organização; criámos novas células; destacámos mais camaradas para os trabalho com as empresas; autonomizámos a organização dos professores do Sector Intelectual, dando uma maior atenção às células e aos camaradas desta área; criámos células dos reformados dos sectores profissionais.

 

AL: Nestes últimos quatro anos e meio foram responsabilizados mais de mil novos camaradas, 35 por cento dos quais com menos de 35 anos. E foram feitos 1509 recrutamentos. Valorizamos ainda a nossa acção em diversos sectores, como o das grandes superfícies comerciais, onde chegámos a criar células e a contribuir para o desenvolvimento de lutas nesse sector.

 

LC: Outro elemento de reforço que me parece importante é o facto de termos funcionalizado uma série de jovens operários. Num partido comunista, em que o papel do colectivo é que determina, os quadros funcionários têm um papel muito importante.

 

É, portanto, um balanço positivo?


LF: Naturalmente que temos ainda muitas insuficiências. Temos, por exemplo, que dar maior autonomia ao Partido no que respeita à sua capacidade financeira, tendo mais camaradas a pagar quotas. Também não estamos satisfeitos com a venda do Avante!. E temos também a noção de que estamos muito longe do que é necessário no que respeita à participação de camaradas nas acções de formação. Mas demos passos significativos nos últimos anos: entre 2007 e 2010 passaram cerca de 500 camaradas por cursos de formação e cerca de 2 mil por outro tipo de acções, como debates.



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