Contra a política de direita

Ampliar a luta de massas, reforçar o PCP

Jaime Toga (Membro da Comissão Política)

Escudando-se no pacto de submissão assinado com a troika, o Governo PSD/CDS, o PS e o Presidente da República estão profundamente empenhados em avançar «rápido e em força» com as privatizações. Os exemplos da alienação das golden share e da escandalosa entrega ao desbarato do BPN são a expressão do que se pretende com o processo de privatizações em curso: entregar ao grande capital, a preço de saldo, as alavancas do País.

É possível mobilizar o descontentamento e a indignação para a luta organizada

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Não sendo um processo novo, pela sua dimensão, está em causa a total alienação de muitos sectores estratégicos da nossa economia e da soberania nacional. Apesar das contradições, os capitalistas vão-se posicionando na corrida, escolhem os seus rostos (ou «testas de ferro»), promovem as alianças que melhor servem os seus interesses e procuram tirar proveito de um governo ao serviço dos seus interesses de classe, mas afirmando frequentemente a defesa dos interesses do País ou de uma determinada região.

Foi precisamente a pretexto da defesa do Norte que há cerca de um mês o presidente da Associação Empresarial de Portugal (AEP), José António Barros, reclamou a gestão regionalizada do Aeroporto do Porto. Em abono da verdade, diga-se que não foi o primeiro a fazê-lo. Antes, já a Sonae, a Soares da Costa, tal como o PS, o PSD, o CDS e o BE tinham admitido esta hipótese. Mas foi José Sócrates que lançou o repto em 2007, ao apelar às «forças do norte» que apresentassem propostas nesse sentido.

O argumento do presidente da AEP reside no facto de o Aeroporto do Porto estar a financiar os outros aeroportos do País. Mas esta preocupação com as contas da ANA surge só após a gestão pública, integral e global da empresa ter investido a quase totalidade dos 400 milhões de euros públicos na unidade do Porto. Antes deste investimento público, os ditos agentes económicos da região não queriam um aeroporto que muitos caracterizavam como apeadeiro.

Para perceber melhor o interesse, importa dizer que o Aeroporto do Porto é rentável, capaz de gerar grandes lucros. É o aeroporto que mais tem crescido em número de passageiros e aquele que, fruto dos 400 milhões de euros públicos, mais pode crescer nos próximos anos sem necessitar de outros investimentos.

Então, se funciona bem, se tem crescido, se tem potenciado o desenvolvimento económico e o crescimento do Turismo… será caso para perguntar porquê mudar a gestão do Aeroporto do Porto? Porque é que não se preocuparam com as contas do Aeroporto do Porto antes do investimento de 400 milhões de euros? Porque é que escondem nesta discussão que foram os restantes aeroportos a financiar este investimento, por via de uma gestão integral e global?

O sector da Aviação Civil e do Transporte Aéreo tem de ser visto de forma integrada e só uma estratégia pública nacional pode explorar e reverter para o desenvolvimento do país todas as potencialidades dos vários Aeroportos. Por isso, privatizar a ANA e a TAP é um crime que merecerá a oposição e o combate dos trabalhadores e do seu Partido de classe, mesmo que o assalto a estas (e/ou a outras empresas) seja preparado em surdina e tentando evitar a luta e a contestação, como tentam fazer a propósito da alteração à legislação laboral.

 

Disponibilidade para a luta

 

A resposta dada pelos trabalhadores à semana de luta convocada pela CGTP-IN, em vários distritos, de 11 a 16 de Julho; a concentração realizada no dia 28 de Julho frente à Assembleia da República, contra a liberalização dos despedimentos; ou o protesto contra o aumento dos preços dos transportes do passado dia 1 de Agosto foram expressão da disponibilidade dos trabalhadores e do povo, bem como um compromisso com a luta que há-de prosseguir, denunciando os responsáveis pelo estado do País e pela política de direita (PS, PSD, CDS, Presidente da República) e afirmando a necessidade – e a possibilidade – de construção de uma alternativa consubstanciada na Constituição da República Portuguesa, nos valores da democracia política, económica, social e cultural, da soberania nacional, e da luta por uma sociedade livre da exploração.

Promovendo a denúncia e o esclarecimento, é possível mobilizar o descontentamento e a indignação para o protesto e a luta organizada, afirmando simultaneamente o PCP e as suas propostas, atraindo outros para este projecto transformador. É este o papel dos comunistas.



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