Cambalacho
O famoso BPN - «Banco Português de Negócios» - foi finalmente vendido a privados.
Para compor o ramalhete, tem-se polvilhando o assunto com alguns acessórios: a troika tinha ordenado um prazo para a concretização da venda do BPN («Deus super omnia», pois claro), havia de repente «vários pretendentes» aparentemente «a degladiar-se» e, finalmente, a coisa afunilou-se numa rápida sucessão de reuniões do ministro Gaspar, o das Finanças, para ponderosamente «decidir» a quem entregar «a jóia».
E a venda concretizou-se. Viva a venda! ~gritam ou sugerem os arautos do reino, todos, de qualquer modo, em «tom pianinho» como lhes mandam, que isto de negócios da banca é para tratar com discrição.
Apesar de tudo, nas primeiras páginas, e a galope, foram «elencados» (como agora se diz) alguns pormenores algo desconfortáveis para o ministro Gaspar.
Por exemplo, que o Governo decidiu entregar o BPN ao BIC – consórcio bancário dito «angolano» -, que oferecia 40 milhões de euros, acompanhados da exigência do despedimento de metade dos 1500 trabalhadores do BPN, tudo feito e pago pelo Governo português, em detrimento de uma outra oferta: a de «um consórcio de investidores» portugueses, que oferecia 100 milhões de euros e a garantia da manutenção de todos os postos de trabalho do BPN.
Perante tais ofertas, o Governo preferiu entregar «a prenda» ao grupo BIC, argumentando que «era a melhor solução para proteger os interesses dos investidores».
Vê-se: segundo os jornais, antes do fecho do negócio com o BIC as Finanças terão de «recapitalizar» o BPN com 550 milhões de euros (para além de pagarem as indemnizações dos despedimentos de metade dos trabalhadores).
É claro que tão presumível cambalacho desencadeou protestos, e o que se ergueu à luz do dia tinha à frente o banco Montepio, que pelos vistos encabeça a oferta mais alta e exige explicações por ter sido preterido.
Não as terá – até porque as «explicações» já correram e dizem, sobretudo, que o grupo BIC «é dominado por angolanos» (refere-se a filha do presidente dos Santos, que se tornou «magnata» com os petróleos do país), o que pode dar-lhe a «respeitabilidade dos milhões», mas não explica a feroz sovinice da proposta que apresentou.
Mas também notícias houve – e depressa desapareceram - «explicando» que por trás do BIC estava igualmente Américo Amorim, o corticeiro a quem o Governo Sócrates alcandorou a «homem mais rico do País» com as acções da Galp.
Naturalmente, o corticeiro Amorim também pode ser agraciado com o respeitoso zelo do actual Governo. E ficar com o BPN por umas lentilhas.
Assim entretidos, já ninguém fala do BPN como a gigantesca fraude posta ao lombo do País, ao «salvar-se» um banco falido por gestões criminosas (de que ninguém foi condenado), enterrando nele 2400 milhões de euros (os sindicatos bancários falam em «5000 milhões, pelo menos»), nacionalizando-lhe os prejuízos, não tocando nos vastos bens e vendendo-o agora ao desbarato, por um preço corrente na compra de jogadores de futebol.
Há aqui, de facto, um enorme cambalacho – mas o desastre começou na «salvação»...