Este beco tem saída…

Aurélio Santos

Ao desnorte do discurso politico do PSD na campanha eleitoral, seguiu-se a acção bem determinada deste Governo de cortar os dedos para salvar os anéis, vertendo o sangue de quem trabalha e produz para salvar os interesses de quem especula.

Exemplo desta orientação é o caso BPN. Quem deveria ter fiscalizado a gestão do Banco e não o fez (B. Portugal), tendo como responsável o seu Governador, recebe como «punição» a nomeação para vice-Presidente do BCE. A administração do BPN autora da gestão fraudulenta, ainda não foi julgada, nem condenada, nem punida. Do erário público saem mais de 3 mil milhões de euros (cerca de 300 euros por cidadão) para «salvar» o Banco que agora é vendido em super saldo por 40 milhões de euros, isto é, por pouco mais de 1% do que já nos custou a todos. Não há discurso que consiga iludir nem os factos, nem a «cor» da austeridade do Governo PSD/CDS.

Infelizmente, a maior parte dos economistas e fazedores de opinião têm vindo a público, em exaustivos debates, para apresentar estas decisões como «inevitáveis», escondendo a sua cegueira ideológica, a sua opção pelos interesses e a ganância de uns quantos em detrimento das expectativas e legítimos direitos da maioria.

Deliberadamente voltam as costas para a porta e dizem depois que «não há outra saída».

Mas esta «austeridade» agora invocada não caiu do céu.

Foi politicamente decidida.

Não aconteceu.

Decidiu-se que acontecesse.

Para fazer da União Europeia um instrumento de desconstrução social da Europa. Para dar uma mão ao capitalismo imperialista, a braços com a concorrência de outros capitalismos que têm surgido nas últimas décadas em outros pontos do globo, antes espaços férteis de exploração do capitalismo monopolista.

A União Europeia tornou-se uma selva. Não a selva de Rudyard Kipling onde há regras para matar. Mas uma selva onde se espera que obediente e silenciosamente nos deixemos condenar à morte.

O lobo, quando tem fome, esquece o seu medo, torna-se veloz, e parte pela floresta, tornando-se temível.

Nós também podemos escolher: morrer como escravos ou viver como homens livres que somos.

A escolha é nossa.



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