Líbia – uma guerra perdida?

Ângelo Alves

As potências agressoras estão inquietas com a «baixa performance» do CNT

Os recentes acontecimentos na Líbia revelam a natureza, objectivos e métodos da agressão em curso. Mas são também prova das reais dificuldades do imperialismo em submeter a Líbia e aí instalar uma colónia do século XXI.

Se já abundavam sinais da falta de credibilidade e legitimidade dos chamados «rebeldes» - bem como das suas, no mínimo, duvidosas ligações internacionais e métodos - o assassinato do «comandante das tropas do conselho nacional de transição da Líbia», Abdel Younes, (ex-ministro do interior do Governo líbio que se passou para o lado dos «rebeldes») veio lançar ainda mais luz sobre a farsa em que consiste o chamado «Conselho Nacional de Transição» (CNT).

O acontecimento é demonstrativo do grau de rivalidade e de «guerrilha» que reina entre os diferentes grupos do lado «rebelde». Rivalidades que tendo origem nos reais objectivos desta agressão – o controlo dos recursos naturais da Líbia e o roubo dos seus milionários fundos soberanos – e nas características dos diferentes grupos envolvidos na operação de agressão externa, são também expressão das rivalidades e contradições entre as potências estrangeiras agressoras, tanto mais evidentes quanto maiores as suas dificuldades em alcançar os objectivos e calendários militares, estratégicos e políticos pré-definidos para esta guerra de agressão.

 

O assassinato do «comandante» das «tropas rebeldes» pelos seus próprios homens (mais exactamente pela brigada destacada para assegurar a sua segurança na deslocação da frente de Brega para Bengasi); as versões contraditórias de várias figuras do CNT sobre os acontecimentos, e as notícias da infiltração de homens leais ao Governo líbio na estrutura militar dos «rebeldes» através de uma suposta brigada da «oposição» concretizando uma operação de libertação de 300 prisioneiros do quartel-general dos «rebeldes» em Bengasi, são factos que demonstram bem o grau de resistência e de operacionalidade das forças governamentais e simultaneamente a desorganização e fragilidade do CNT - a farsa que o governo português, numa vergonhosa decisão contrária à Constituição da República e à Carta da ONU acaba de reconhecer como «autoridade governativa legítima da Líbia».

As potências agressoras estão inquietas com a «baixa performance» dos seus «peões»Liam Fox, que publicamente reconheceu o «potencial terrestre muito limitado» dos «rebeldes», ou o «raspanete» enviado por Mark Toner, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, a «pedir» à liderança da «oposição» para «trabalhar de forma transparente e unida» e a «advertir o Conselho para se lembrar de que representa todo o povo Líbio».

 

Mas que não haja ilusões. Com o aproximar do fim do segundo prazo definido pela NATO para o fim das «operações militares»; com a evidente capacidade de resistência das forças governamentais e com o crescente apoio popular à unidade contra a agressão externa, tudo indica poder assistir-se durante o mês de Agosto a uma brutal intensificação da chacina e dos crimes da NATO. Isto, enquanto que por debaixo do pano prosseguem por um lado negociações e o estudo de uma retirada militar, e por outro as sucessivas tentativas de assassinar Kadhaffi ou de tentar a deserção e traição do núcleo duro do Governo e do Exército líbios.

O ataque da NATO a uma manifestação de civis em Al-Sabaa; o bombardeamento da televisão líbia; do aeroporto civil de Tripoli ou de um hospital perto da cidade de Misrata, são apenas alguns dos exemplos do terror que as potências agressoras acossadas pelo espectro de mais uma possível derrota militar, podem criar. É altura então de intensificar a luta pelo fim imediato dos bombardeamentos, pela defesa da paz, da independência, soberania e integridade territorial da Líbia.



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