Pentágono e CIA em íntima colaboração

Miguel Urbano Rodrigues

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O general David Petraeus despediu-se em Cabul das tropas de ocupação dos EUA com um discurso cauteloso. Vai assumir a direcção da CIA.

A cerimónia quase coincidiu com a despedida, nos EUA, do director da CIA, Leo Panetta, transferido para secretário da Defesa.

Os media estado-unidenses derramaram elogios sobre ambos.

Petraeus é apresentado como um estratega muito dotado, um soldado-intelectual, quase um pensador. Estudou em Princeton, é mestre em Relações Internacionais, leccionou em academias militares e escreveu ensaios e livros de que muitos falam e poucos leram. Em artigos apologéticos chamam-lhe «o pacificador do Iraque», não obstante a resistência à ocupação americana aumentar a cada mês naquele país.

Leo Panetta foi nomeado para dirigir o Pentágono como prémio pelo papel que desempenhou como cérebro e coordenador da operação concebida pela CIA para assassinar Bin Laden numa cidade do Paquistão

Quando Petraeus assumiu o comando no Afeganistão após o afastamento do general Stanley Mc Chrystal – demitido por criticar Obama – fixou dois objectivos principais: ganhar a guerra e criar um exército afegão capaz de «garantir a segurança» no país. Nem um nem outro foram atingidos.

Transcorridos dois anos, as áreas sob controlo da resistência aumentaram e os atentados terroristas são agora mais frequentes. As tropas dos EUA e da NATO pouco saem de Cabul e das capitais das províncias, e os comboios de abastecimento vindos do Paquistão são frequentemente atacados na travessia das montanhas.

Respondendo a Petraeus, o seu substituto, o general John Allen, pronunciou um discurso que caiu mal em Washington. Aconselhou civis e militares a não alimentarem ilusões. Esclareceu que «o terrorismo no país é uma realidade» e o horizonte se apresenta carregado de ameaças e desafios.

Quanto ao exército afegão, a esperança de Petraeus também não se confirmou. A realidade desmentiu as previsões. Até The New York Times reconhece que os soldados fogem ao combate, as deserções aumentam e a infiltração dos talibãs alastra, atingindo os comandos. O assassínio recente em Kandahar do irmão de Hamid Karzai por um homem da sua confiança comprovou essa evidência.

Nos comentários à ida de Petraeus para a CIA e de Paneta para secretário da Defesa, os media de referência estado-unidenses chamam a atenção para o facto de a decisão do presidente Obama tornar transparente a íntima colaboração hoje existente entre a CIA e o Pentágono (odiario.info, 19.7.2011).

No Afeganistão e no Paquistão a maioria dos bombardeamentos são agora realizados pelos drones, os aviões sem piloto. A guerra está a assumir um carácter cada vez mais electrónico. É a CIA, a partir dos EUA, quem define quase sempre quais os alvos a atingir. As operações são montadas em computadores, a milhares de quilómetros de distância das aldeias atacadas. O balanço dos «erros» é pesado: centenas de camponeses, mulheres e crianças têm sido abatidos nesses bombardeamentos criminosos.

Os governos afegãos e paquistanês, reflectindo a pressão popular, sentem a necessidade de denunciar essas chacinas. Os porta-vozes do Exército e da Força Aérea, rotineiramente, lamentam e anunciam a abertura de inquéritos rigorosos. Mas não há notícia de qualquer punição.

O general David Petraeus declarou que pretende aperfeiçoar o sistema. Como? Numa entrevista à Newsweek informou que vai reforçar a contratação de agentes e informadores da CIA em países da Ásia Central.

Entretanto, Obama aproveita todas as oportunidades para afirmar que os EUA vão honrar o compromisso de retirar todas as suas tropas do Afeganistão até final do próximo ano, transferindo as «suas responsabilidades» para as Forças Armadas daquele país. Não diz, porém, que os soldados norte-americanos estão a ser substituídos em ritmo acelerado por mercenários recrutados entre a escória social estado-unidense e latino-americana.

A nomeação do general Petraeus para director da CIA e a de Leo Panetta para secretário da Defesa confirmam o óbvio.

A estratégia das guerras imperiais dos EUA implica uma colaboração cada vez mais profunda entre a CIA e o Pentágono. Com a total aprovação do presidente Barack Obama, Prémio Nobel da Paz.



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