Discrepância curiosa
O Movimento 15 de Maio – que no último fim-de-semana levou um mar de gente à praça Puerta del Sol, em Madrid, num gigantesco protesto popular –, recebeu o inesperado apoio de Joseph Stiglitz, o economista norte-americano laureado com o Prémio Nobel e que já foi um destacado dirigente do Banco Mundial.
As imagens de Stiglitz de megafone em punho estão disponíveis na Internet para quem queira assistir à lição que o professor dedicou às massas. Cativado pela «energia reconfortante» do M-15, Stiglitz disse que «a crise revelou que os mercados pouco regulados não são justos nem estáveis»; que «é evidente que a economia de mercado não está a funcionar como devia»; e que trocar as «más ideias» por «boas ideias» vai ser «uma luta difícil, porque as más ideias estão assentes no discurso económico dominante». Apesar das dificuldades, o professor considera que temos agora «uma grande oportunidade para unir a ciência económica com o compromisso e a justiça social e conseguir assim uma nova economia», pelo que deseja a «maior das sortes» ao M-15.
Não estando ainda claro o que terá levado este Nobel da Economia ao fórum de Madrid, salta à vista uma discrepância que não é de somenos: Stiglitz falou de crise numa mega manifestação que teve como lema «Não é uma crise, é o sistema». O que é no mínimo curioso.
Mais desemprego, menos subsídio
O número total de desempregados não pára de subir e as perspectivas para o futuro próximo são negras – o ministro das Finanças Vítor Gaspar declarou há dias que a taxa oficial vai ultrapassar os 13 por cento e que não deverá recuar antes de 2013 –, mas são cada vez menos as pessoas a receber subsídio de desemprego. De acordo com os dados oficiais, a Segurança Social assegurava em Junho o pagamento de 286 863 prestações de desemprego, menos 19,2% do que no ano passado. Aquele número inclui os que nesse mês começaram a receber subsídio (13 650 novos desempregados), bem como os que passaram a receber o subsídio social de desemprego.
Comparando o total de prestações com o número de desempregados registados nos centros de emprego (518 795), verifica-se que 45 por cento dos desempregados não recebe qualquer subsídio. Esta diferença, brutal, é ainda maior se se tiver em consideração os dados do Instituto Nacional de Estatística, segundo os quais a população desempregada no primeiro trimestre do ano ascendia a 688,9 milhares de pessoas (uma taxa de desemprego de 12,4 por cento).
Entretanto o valor médio do subsídio de desemprego baixou em Junho para 527,94€, menos cinco euros do que há um ano.
Não satisfeito com esta situação, o Governo quer mais e até aos desempregados vai roubar no subsídio de Natal.
Banqueiros queixosos
Afinal os banqueiros já não gostam do plano da troika. Os presidentes dos cinco maiores bancos (BCP, Santander Totta, BPI, BES e CGD), num coro bem afinado, vêm agora dizer que o plano para o sector financeiro «não tem sentido» e por isso «deve ser repensado». O que dava mesmo jeito, dizem, era que a linha de capitalização de 12 mil milhões de euros servisse para o Estado pagar o que deve aos bancos. Ficavam felizes, garantem.