Greve histórica na República Checa

Prova de coragem

A greve de 16 de Junho dos trabalhadores dos transportes urbanos e ferroviários checos foi uma luta de grau superior que fez soar as campainhas de alarme do capital.

Governo intimidou população e ameaçou trabalhadores

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A direita viu-a como uma greve de todo o mundo do trabalho. E com razão, até porque se seguia a outras lutas vibrantes noutros sectores. Por isso houve farsa, comédia, tragédia, chantagem e ameaças; mas no outro lado não faltaram coragem, solidariedade, unidade e determinação.

Inicialmente convocada para 13 de Junho, segunda-feira, a greve, que teve o pleno apoio do Partido Comunista da Boémia e Morávia e da Confederação das Uniões Sindicais da Boémia e Morávia, abalou a direita e o seu governo.

O ministro das Finanças requereu a interdição da jornada de luta, o que foi atendido pelo Tribunal da Cidade de Praga, num veredicto, divulgado sábado, 11, que levantou um coro de protestos até entre eminentes juristas.

Em causa, o direito constitucional à greve. O Tribunal não hesitou em lançar mão de normas que nada têm a ver com o direito à greve. A impostura foi desmascarada e isso acabaria por isolar ainda mais o governo e a direita e granjear novas simpatias para os trabalhadores em luta.

 

Intimidação fracassa

 

Num ambiente já inflamado, as uniões dos sindicatos dos transportes adiam a greve para 16 do mesmo mês, derrotando os intentos da direita.

No dia 13, o presidente da República, Václav Klaus, toma a iniciativa do ataque contra os trabalhadores. Declara que o governo tem de ser mais resoluto contra a greve e que este e o presidente da Câmara Municipal de Praga deveriam alugar todos os autocarros privados que houvesse no país e mandar passear os trabalhadores. Durante o desvario ainda recomendou aos empregadores que se vissem livres dos trabalhadores que aderissem à greve. Um magistrado de Praga viria a considerar as recomendações de Klaus como irreais.

Para o presidente, um protesto contra as chamadas «reformas», em defesa da Segurança Social e do sistema de Saúde públicos, pelo direito a pensões condignas e contra o aumento da idade de aposentação (partidos da direita no governo querem elevá-la para 70 anos!) era demasiado, era política.

Tentar atemorizar a população e denegrir os trabalhadores foi uma constante naqueles dias alucinantes. Aos vitupérios da propaganda habitual, também conhecidos entre nós, juntou-se a novidade de «a greve prejudicar a remuneração do capital das empresas» de todos os sectores e de os trabalhadores «quererem lançar o país na situação da Grécia».

O Município de Praga veio dizer que alugar autocarros privados teria um efeito praticamente nulo. «A realidade é tal que nem todos os autocarros privados das regiões em volta [de Praga] conseguiriam assegurar os transportes urbanos na capital».

O dia 16 de Junho ficou na história da luta dos trabalhadores checos. Foi uma jornada memorável. Os comboios praticamente não circularam e nas grandes cidades e na Região de Ústí a greve teve um enorme êxito. Nestas zonas com uma elevadíssima concentração urbana e um denso sistema ferroviário, parte significativa da actividade económica, das escolas e dos serviços públicos paralisou.

O êxito da greve pode medir-se pelos dados divulgados pela Empresa de Transportes de Praga (DPP). Às 17 horas, hora de ponta, circulavam 104 eléctricos (27%) e estavam paralisados 278 (73%); circulavam 97 autocarros da DPP e 65 autocarros de outras operadoras (162 autocarros, 19%) e ficaram nos terminais 698 viaturas (81%).

Às 23 horas circulavam apenas 19 por cento dos eléctricos e 26 por cento dos autocarros escalonados normalmente para aquele horário. No Metro, a greve foi a 100 por cento durante 24 horas. Foi a primeira vez que tal aconteceu.



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