Luta social e soberania
Tiveram um particular significado as manifestações, celebrações e jornadas de luta, que decorreram por todo o País, neste ano em que se comemoram os 37 anos da revolução de 25 de Abril de 1974, tal como se recordou a alegria esfuziante do mar de gente que inundou as ruas de Portugal, nas manifestações em liberdade do 1.º de Maio que se seguiu, na consagração do derrube do fascismo e do triunfo da revolução.
Agora, em vez da alegria e da festa, predominou a preocupação, o protesto e a luta contra as políticas económicas e sociais que são responsáveis pelos cerca de 800 mil desempregados, pelo trabalho precário e mal pago, pelo agravamento insuportável das desigualdades, a diminuição drástica das funções sociais do Estado e o empobrecimento generalizado dos trabalhadores e trabalhadoras, reformados e reformadas, juventude e crianças, além de micro, pequenos empresários, comerciantes e agricultores que estão a ser sucessivamente proletarizados.
Entretanto, com a presença do grupo estrangeiro (FMI, BCE e Comissão Europeia) que, a pretexto da dívida pública que ajudaram a criar, deixam a pairar no ar novas ameaças dada a necessidade do financiamento de Portugal. Trata-se de uma ingerência inadmissível e de uma completa capitulação do governo do PS e do primeiro–ministro demissionário José Sócrates, que está a fazer o papel de simples capataz dos mercados financeiros internacionais.
Esta é uma situação das mais graves que o povo português já enfrentou, o que está a preocupar vastos estratos da população portuguesa, como tenho testemunhado nos inúmeros contactos mais directos com as pessoas, de diferentes zonas do País, com destaque para o Alto Minho, onde tenho a honra de encabeçar a lista da CDU ao círculo eleitoral de Viana do Castelo.
Por isso, impõe-se demonstrar, com toda a confiança, que existem alternativas a esta verdadeira política de desastre nacional, assente na rapina de recursos do País, dos trabalhadores, dos sectores económicos não monopolistas, dos reformados e pensionistas, das camadas mais débeis da população portuguesa.
É preciso demonstrar que a crise que estamos a viver foi provocada por aqueles a quem está a servir: o sector financeiro, os grupos económicos e os países mais ricos e desenvolvidos. Todos os indicadores o demonstram, incluindo os lucros elevados, nalguns casos os maiores de sempre, de grupos portugueses e estrangeiros, incluindo daqueles que teimaram em abrir os supermercados no 1.º de Maio, numa autêntica provocação aos trabalhadores.
Veja-se o que se passa com a dívida soberana em Portugal e noutros países de economias mais frágeis da zona euro, como a Irlanda e a Grécia. Continuam a pagar taxas de juro elevadíssimas para conseguir financiar-se, enquanto o BCE continua a emprestar dinheiro aos bancos privados a taxas de juros muito baixas, dinheiro esse que é, depois, utilizado para financiar os estados a taxas elevadíssimas, o que sobrecarrega os orçamentos nacionais e obriga a cortes em despesas e investimentos públicos e a aumentos de impostos, provocando, assim, uma transferência directa dos bolsos dos cidadãos para os lucros escandalosos do sector financeiro e dos respectivos banqueiros.
Ora, é necessário tornar claro que este é um roubo institucionalizado, uma agiotagem inadmissível, um processo que não pode continuar. Os trabalhadores, os reformados, a juventude, as mulheres, o povo português no seu conjunto não podem ser responsabilizados pelo pagamento de tais juros resultantes de um roubo institucionalizado.
Esta é uma questão fundamental da actual situação portuguesa e da própria União Europeia. Os dirigentes europeus que criaram a zona euro e os governantes e partidos portugueses que aceitaram tais medidas (PS, PSD e CDS), sem sequer ouvir o povo português, dado que, até hoje, não aceitaram realizar qualquer referendo, não podem continuar a fugir às suas responsabilidades.
Neste tempo de lutas, como as manifestações que a CGTP já convocou para 19 de Maio, no Porto e em Lisboa, é preciso afirmar que há outras alternativas. A União Europeia, que é um instrumento por excelência do capital, está a caminhar para um caminho perigoso de afirmação do capitalismo monopolista que só se consegue impor com um cada vez maior desvirtuamento da «democracia» formal.
Neste contexto, as eleições de 5 de Junho assumem particular significado, e o voto na CDU surge como a arma política que é preciso usar para derrotar estas políticas e contribuir para a mudança patriótica e de esquerda de que Portugal tanto precisa.