Alianças PS e PSD conduziram o País ao abismo
Perante a demissão do Governo e a previsível realização de eleições legislativas antecipadas, o PCP afirma que não basta mudar de protagonistas – do que o País precisa é de uma mudança de política.
Dar a palavra ao povo através de eleições
Com o chumbo do PEC 4 na Assembleia da República e o anúncio de demissão do Governo, a «melhor saída» para a crise política é «dar a palavra ao povo através de eleições». Foi esta a mensagem principal que o PCP transmitiu ao Presidente da República, na audiência de dia 25 de Março, afirmou aos jornalistas Jerónimo de Sousa.
O Secretário-geral, que encabeçava a delegação do PCP composta ainda pelos membros da Comissão Política Jorge Cordeiro e Fernanda Mateus, precisou que «tendo em conta que o Governo se demitiu e conduziu a esta situação pantanosa» a melhor saída será a consulta ao povo. Sobre a data para o sufrágio, o dirigente comunista considerou que deve ser dado tempo para o «esclarecimento, para a mobilização dos portugueses», propondo como data possível o dia 5 de Junho. Mas, salientou, a definição da data compete sempre e apenas ao Chefe de Estado.
O Secretário-geral do Partido deixou ainda um alerta relativamente aos «problemas burocráticos» que impediram muitos eleitores de exercer o seu direito de voto nas últimas presidenciais. E salientou que mesmo em gestão o Governo deverá assegurar que não se repitam.
Em resposta aos jornalistas, Jerónimo de Sousa chamou a atenção para o que considera uma «política de identificação do PS com o PSD naquilo que é negativo para os trabalhadores e para o povo», afirmando mesmo que o PSD concordava com as propostas do Governo. Aliás, acrescentou, houve «alianças sucessivas do PS com o PSD para fazer aprovar as medidas dolorosas que levaram o País a este estado».
Jerónimo de Sousa rejeitou ainda a ideia de que o recurso à chamada «ajuda externa» seja inevitável, para mais nas «condições leoninas» em que foi accionada noutros países, como a Grécia ou a Irlanda. «Consideramos que há outro caminho», assegurou, nomeadamente aumentando a criação de riqueza e a produção nacional.
A vítima é o povo
Dois dias antes, conhecida a rejeição do PEC 4 por todos os partidos da oposição parlamentar e do anúncio de demissão do primeiro-ministro, Jerónimo de Sousa afirmou aos jornalistas que as medidas que o Governo propunha em mais este PEC eram «profundamente injustas, de retrocesso social e declínio nacional» e foi por essa razão que os comunistas as chumbaram. Mas, ressalvou o dirigente do PCP, a situação social em que o País se encontra demonstra que a «vítima não é o primeiro-ministro, a vítima tem sido o povo português».
Jerónimo de Sousa afirmou ainda que o que se exige, para além da substituição do Governo, é a «mudança de política», pois a que vinha sendo seguida há mais de 30 anos era o «caminho para o desastre». Em sua opinião, a realidade social e económica do País demonstra o «falhanço dos sucessivos PEC e das medidas draconianas tomadas no Orçamento do Estado» e revela mais do que isso – que a política de direita «está esgotada». Os comunistas consideram que «não há solução apenas com uma mudança de Governo».
Encontro com PEV
Já na segunda-feira, 28, delegações do PCP e do PEV estiveram reunidas para abordar aspectos da situação política, económica e social do País. Como afirmou à imprensa Jerónimo de Sousa (que encabeçou a delegação, composta ainda por Jorge Cordeiro, da Comissão Política, e José Neto, do Comité Central) estes encontros são «normais e naturais» entre partidos que partilham há vários anos um percurso próximo, reconhecendo que atingem neste momento uma outra actualidade, tendo em conta a possibilidade real de eleições antecipadas.
O Secretário-geral do PCP considerou ainda de «grande valor» a experiência da CDU que, para além do PCP e do PEV, integra a associação Intervenção Democrática e «milhares e milhares de independentes que se identificam com o espaço democrático» que a coligação representa. Lembrando que a reedição da CDU para as próximas eleições é uma decisão que compete às direcções dos respectivos partidos, Jerónimo de Sousa afirmou que, da parte do PCP, não há qualquer obstáculo à coligação.
A delegação do Partido Ecologista «Os Verdes» era composta por Manuela Cunha e José Luís Ferreira.