A régua e esquadro

Pedro Guerreiro

Assalto aos milhares de milhões do fundo soberano da Líbia está em marcha

A situação na Líbia, assim como o conjunto de acções que visam possibilitar a agressão militar do imperialismo a este país têm tido rápidos e contraditórios desenvolvimentos nos últimos dias.

Os preparativos militares, as medidas e sanções políticas e económicas e a orquestrada e monumental campanha de desinformação estão montadas. Para finalizar o cenário, faltará a decisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas que suporte e branqueie a agressão militar, eufemisticamente designada de «zona de exclusão aérea».

Face às questões colocadas por alguns países sobre quem protagonizará e como será implementada a agressão – a dita «zona de exclusão aérea» –, responde o embaixador francês que não as entende, afirmando que o Conselho de Segurança «não é um quartel-general» e que «este Conselho deve dar autorização política e depois os países devem trabalhar juntos para a impor». Ou seja, os EUA e seus aliados apenas pretendem obter mais um «cheque em branco» das Nações Unidas para o que constituiria o primeiro passo de uma escalada de guerra que, mais tarde ou mais cedo, se lhe seguiria.

O imperialismo procura agir em múltiplas frentes, incluindo a instrumentalização da ONU (registe-se, com os «prestimosos» serviços de Ban Ki-moon, seu secretário-geral), para a concretização dos seus intentos nesta estratégica região, ao mesmo tempo que brande o «pedido» da maioria dos países da Liga Árabe (com a oposição da Síria e da Argélia) de imposição da dita «zona de exclusão aérea», silencia a rejeição desta pela União Africana e boicota activamente as tentativas de mediação e solução pacífica do conflito na Líbia.

É de salientar que entre os que mais clamam pela escalada de agressão à Líbia conta-se os regimes opressores, aliados dos EUA na região, como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, que não hesitaram em enviar tropas para apoiarem a repressão contra o levantamento popular no Bahrein (onde se localiza a base da V Esquadra dos EUA).

Os próximos dias serão determinantes para o desfecho do primeiro acto da tentativa em curso de domínio imperialista da Líbia (da totalidade do seu território ou impondo a sua divisão) e dos seus enormes recursos naturais (como o petróleo e o gás). Entretanto o autêntico assalto aos milhares de milhões do fundo soberano da Líbia está em marcha, os EUA, sempre na linha da frente no que toca ao saque dos povos, anunciaram já o «congelamento» de cerca de 30 mil milhões de dólares da Líbia.

Os EUA e as grandes potências capitalistas da União Europeia, fomentando contradições e divisões no mundo árabe e tentando utilizar em seu proveito legítimas aspirações populares, procuram, com o apoio de regimes que lhe sejam cúmplices e subservientes, ditar a ordem, se necessário a canhoeira, afinal como quando foi definida, a «régua e esquadro», a partilha colonial do continente africano na Conferência de Berlim, concluída em 1885.

Na Líbia – como a Palestina, o Líbano, a Jugoslávia, o Iraque, o Afeganistão e tantos outros exemplos comprovam –, o imperialismo acena cinicamente com preocupações humanistas e a dita «ingerência humanitária», apenas para, semeando a morte e a destruição, assegurar a exploração dos povos e dos seus recursos.

Às forças da paz e anti-imperialistas cabe rejeitar e denunciar qualquer agressão imperialista contra este país – que, em primeiro lugar, representaria um acto contra todos aqueles que na Líbia e no Mundo Árabe lutam pelos seus direitos, a democracia, a soberania e a paz – e pugnar pela resolução pacífica e política do conflito, sem ingerências externas.



Mais artigos de: Opinião

Haja sensibilidade!

De acordo com os jornais, o Governo/PS decidiu reparar um gravíssimo erro cometido no Orçamento do Estado. A matéria em questão prende-se com a alteração da taxa do IVA, num sector considerado prioritário, passando-o de 23 por cento para a taxa reduzida de 6 por cento....

Um voto revelador

«Solicita à UE e à comunidade internacional que tomem todas as medidas possíveis para isolar completamente Kadhafi e o seu regime a nível nacional e internacional; (…) nenhuma opção prevista na Carta das Nações Unidas pode, por conseguinte, ser...

Nas nossas mãos

«Os proletários da capital no meio dos desfalecimentos e das traições das classes governantes, compreenderam que para eles tinha chegado a hora de salvar a situação tomando em mãos a direcção dos negócios públicos...». Faz 140 anos que o...

Nas ruas

«Precários nos querem, rebeldes nos terão!», avisava um pano na gigantesca manifestação da «Juventude à rasca» que, no passado sábado, desaguou no Rossio, em Lisboa, uma concentração de 180 mil pessoas protestando contra o Governo e as...

Três empresas, três razões para lutar

No distrito de Coimbra, à semelhança do resto do País, é evidente a ofensiva do Governo PS, em aliança com o PSD e o apoio de toda a direita e do grande capital. Esta ofensiva está bem patente nos três exemplos de mecanismos de aumento da exploração dos trabalhadores usados em três empresas no distrito.