«40 anos a cantar o povo e a liberdade»
Cerca de duas centenas de pessoas participaram, quinta-feira, no Auditório da Junta de Freguesia do Feijó, numa iniciativa para assinalar os 40 anos de carreira de Luísa Basto.
Um percurso de coerência e dignidade
Esta não foi uma homenagem, antes um convívio, com grande fraternidade e amizade com o PCP e o ideal comunista. «Não estamos aqui para homenagear, mas para conviver com ela, e ela connosco», afirmou, na ocasião, Jerónimo de Sousa, que valorizou o «percurso percorrido por uma pessoa com uma notável sensibilidade artística complementada com uma voz extraordinária, ambas ao serviço da mais nobre de todas as causas». «Um percurso de coerência e dignidade, iniciado no tempo do fascismo e que percorreu o tempo novo da Revolução de Abril, que prossegue neste tempo velho de contra-revolução, e que continuará por Abril de novo. Um percurso que o poder instalado tudo tem feito para silenciar, porque o incomoda haver quem cante o povo e a liberdade», criticou.
O Secretário-geral do PCP fez ainda um resumo do percurso da vida de Luísa Basto, intimamente ligado à memória do Alentejo e das lutas heróicas do povo alentejano ao longo dos tempos. «Lutas por melhores jornas e por melhores condições de trabalho, incorporando sempre a consigna "a terra a quem a trabalha" e tendo sempre presente o objectivo do derrubamento do fascismo; lutas que sempre tiveram o PCP a organizá-las e a dirigi-las e nas quais os militantes comunistas, profundamente identificados com os anseios e aspirações do povo, se assumiram sempre na vanguarda», sublinhou, constantando que o Alentejo «era, naturalmente, um autêntico viveiro de quadros comunistas muitos dos quais iriam fazer parte do corpo de funcionários clandestinos do Partido».
Foi o caso de José Pulquério e Ursúla Machado - operários agrícolas de Vale de Vargo, pais de Luísa Basto - que em 1957 mergulharam na clandestinidade, ficando com a responsabilidade de assegurar o funcionamento de uma tipografia onde o Avante! era impresso - e levaram com eles a filha, então com 10 anos de idade.
«É obvio que viver numa casa clandestina, colocava exigências de defesa que não eram compatíveis com a existência, ali, de uma criança. E, como regra geral acontecia nestas circunstâncias, o Partido tratou da ida da Luísa para a União Soviética, no quadro da solidariedade sempre manifestada pelo PCUS para com os comunistas portugueses e para a luta do povo português contra o fascismo», disse Jerónimo de Sousa, dando conta que ali, na pátria do socialismo, Luísa Basto «tirou o seu curso de canto e música, que logo colocou ao serviço da luta do Partido», editando, em meados dos anos 60, um disco com várias canções de luta, entre elas o «Avante, Camarada».
Avanço do processo revolucionário
Entretanto, por cá, em Portugal, a luta continuou «Rumo à Vitória» até ao 25 de Abril de 1974, com o derrubamento do governo fascista pelo MFA. «Ora, num tempo assim, os intelectuais, os poetas, os romancistas, os pintores e escultores, os artistas, os músicos, os cantores, não tinham mãos a medir: aos milhares, eles foram intervenientes directos no processo revolucionário, levando a sua arte, as suas obra, os seus espectáculos, os seus poemas, as suas canções a todo o País e, assim, dando o seu precioso contributo para o avanço do processo revolucionário em curso», descreveu o Secretário-geral do PCP, lembrando que, mesmo depois da contra-revolução, se continuou a cantar «o povo e a liberdade», a «luta» e o «futuro».
«De então para cá, a luta continua - com objectivos que são, na sua essência, os mesmos que motivaram a luta no tempo sinistro do fascismo ou no tempo luminoso da Revolução: a liberdade, a justiça social, a independência nacional, a paz e a amizade entre os povos, o socialismo», frisou, deixando um abraço «solidário e fraterno» a Luísa Basto.
José Casanova
«Derrotar a cambada»
O Avante! da semana passada veio acompanhado por um DVD, editado pelo PCP - o qual foi apresentado no Auditório da Junta de Freguesia do Feijó - que fala de Luísa Basto, da sua vida, da sua luta, das suas canções.
José Casanova, director do órgão central do PCP, lembrou, na sessão - onde foram interpretados três temas do reportório da cantora - que Luísa Basto anda há «40 anos a cantar o povo e a liberdade» e que a essa intervenção «juntou uma dedicada militância no seu Partido de sempre: o PCP».
«Tudo isto faz dela - além de uma intérprete excepcional, com uma voz de eleição e com um notável critério de selecção de textos - um exemplo de coerência e de verticalidade que é necessário sublinhar», valorizou, lembrando que «"cantar o povo e a liberdade" não é o que está a dar no tempo que vivemos».
«Bem pelo contrário», continuou, alertando que «neste tempo impressivamente marcado pelos efeitos nefastos de 34 anos de política de afronta aos interesses dos trabalhadores, do povo e do País», o que está a dar, o que dá, «é cantar contra o povo e contra a liberdade - isto é: o que está a dar, o que dá fabulosos jobs a todos os boys e a todas as girls que se perfilem perante a política de direita, é cantar a velha cantiga dos interesses dos grandes grupos económicos e financeiros».
José Casanova sublinhou ainda que quando se canta «o povo e a liberdade», como Luísa Basto o faz, é, só por si, «um acto de coragem - uma coragem como a do trabalhador quando afirma o seu direito ao trabalho com direitos».
«E agir de acordo com o que se diz - isto é, cantar, mesmo, o povo e a liberdade - é a suprema coragem de olhar de frente para a cambada dominante, enfrentá-la e, cantando, derrotá-la - tal como faz o jovem com emprego precário que, sabendo que no dia seguinte pode ser despedido, mesmo assim adere à greve geral», afirmou, terminando: «Neste DVD registamos alguns momentos do longo percurso de canções e de luta que tem sido a vida da Luísa, ao mesmo tempo que manifestamos à camarada e à intérprete, a amizade e a admiração do colectivo partidário comunista. Nada disto vale dinheiro – mas tudo isto vale o que nenhum dinheiro do mundo pode comprar.»