Controladores aéreos fecham aeroportos em Espanha

Estado de emergência contra grevistas

O go­verno es­pa­nhol de­cretou, no sá­bado, 4, o es­tado de emer­gência em res­posta à greve não de­cla­rada dos con­tro­la­dores aé­reos, que pro­vocou o en­cer­ra­mento de todos os ae­ro­portos du­rante 24 horas.

Go­verno co­loca pro­fis­si­o­nais sob re­gime mi­litar

Image 6256

A greve sur­presa dos con­tro­la­dores aé­reos co­meçou na sexta-feira, 3, quando, a meio da tarde, co­me­çaram a aban­donar os seus postos de tra­balho evo­cando ra­zões de saúde. Um a um, todos os ae­ro­portos de Es­panha en­cer­raram, obri­gando as com­pa­nhias aé­reas a deixar os aviões em terra.

Mais de 600 mil pas­sa­geiros foram afec­tados por este pro­testo la­boral iné­dito pelas suas di­men­sões e con­sequên­cias. Sem pre­ce­dente foi também a re­acção do go­verno, que co­locou os ae­ro­portos sob au­to­ri­dade mi­litar e de­cretou o es­tado de emer­gência, pela pri­meira vez desde a morte do di­tador Franco, para forçar os tra­ba­lha­dores a re­gressar ao seu posto de tra­balho.

Sob ameaça de san­ções pe­nais, e in­for­mados de que se en­con­travam sob re­gime mi­litar, a meio da tarde de sá­bado, os con­tro­la­dores co­me­çaram a ocupar os seus postos, re­a­brindo pro­gres­si­va­mente o es­paço aéreo. Do lado do go­verno, o mi­nistro do In­te­rior, Al­fredo Pérez Ru­bal­caba, rugia de fúria: «Isto não vol­tará a acon­tecer. Ha­verá con­sequên­cias».

E, de facto, as per­se­gui­ções aos gre­vistas co­me­çaram logo na ma­dru­gada de sá­bado por via penal. Em Ma­drid a po­lícia en­trou num hotel para iden­ti­ficar os tra­ba­lha­dores que se ti­nham ali reu­nido. A pro­cu­ra­doria abriu de se­guida os res­pec­tivos pro­cessos. Mais de 100 con­tro­la­dores foram con­vo­cados para prestar de­cla­ra­ções du­rante esta se­mana. 


Ra­zões da greve 

 

A greve ocorreu dois dias após o anúncio da pri­va­ti­zação de 49 por cento da AENA, o or­ga­nismo que hoje gere os 24 prin­ci­pais ae­ro­portos es­pa­nhóis, a par de ou­tras pri­va­ti­za­ções, caso da so­ci­e­dade es­tatal das lo­ta­rias e apostas, e de me­didas anti-so­ciais como o fim do sub­sídio de 429 euros para de­sem­pre­gados de longa du­ração, criado em Agosto de 2009 para ate­nuar as con­sequên­cias do co­lapso do mer­cado de tra­balho.

To­davia, o con­flito co­meçou, há mais de um ano, quando o go­verno se propôs al­terar as con­di­ções de tra­balho dos con­tro­la­dores. As hos­ti­li­dades foram abertas pelo or­ga­nismo gestor dos ae­ro­portos, que acusou a classe, ao todo cerca de 2500 pro­fis­si­o­nais, de au­ferir ren­di­mentos muito acima dos seus co­legas de ou­tros países eu­ro­peus, anun­ci­ando uma re­or­ga­ni­zação do sector para re­a­lizar eco­no­mias.

De­pois desse ataque, em De­zembro de 2009, as torres de con­trolo co­me­çaram a res­sentir-se de falta de efec­tivos. Foi o pró­prio go­verno a dar conta de que es­tava em curso uma série de «greves en­co­bertas».

Na ver­dade, em vez de pro­curar ne­go­ciar um novo acordo co­lec­tivo, Ma­drid impôs por via de des­pa­chos e de­cretos novas re­gras que re­ti­raram di­reitos e agra­varam as con­di­ções de tra­balho.

Pri­meiro en­tregou à AENA a gestão do con­trolo do trá­fego aéreo, que es­tava até aí nas mãos dos pró­prios pro­fis­si­o­nais. A se­guir al­terou uni­la­te­ral­mente as re­gras de apo­sen­tação, de­sig­na­da­mente o di­reito à re­forma aos 52 anos de idade com 100 por cento do sa­lário. Pouco tempo de­pois, a AENA, que passou a poder de­ter­minar as con­di­ções la­bo­rais, de­cide re­duzir as re­mu­ne­ra­ções.

Já em plena época de Verão, os con­tro­la­dores re­correm ao ab­sen­tismo como forma de luta, uti­li­zando as normas do re­gu­la­mento que lhes per­mitem au­sentar-se sempre que não se sintam em con­di­ções ade­quadas. Surgem grandes per­tur­ba­ções no trá­fego que obrigam as com­pa­nhias a can­celar nu­me­rosos voos.

Re­cor­rendo sempre a me­didas au­to­ri­tá­rias, o go­verno ameaça subs­ti­tuir os pro­fis­si­o­nais de baixa por con­tro­la­dores mi­li­tares. E como se não bas­tasse, aprova o au­mento da jor­nada de tra­balho para 1670 horas anuais, ou seja, um acrés­cimo de 80 horas.

Em res­posta, 98 por cento dos con­tro­la­dores au­to­rizam o seu sin­di­cato a con­vocar uma greve. No en­tanto, a data da pa­ra­li­sação não chega a ser anun­ciada. Em Se­tembro, as partes re­tomam as ne­go­ci­a­ções sobre o novo acordo, mas o diá­logo volta a ser rom­pido no início de Ou­tubro. Re­co­meçam então as per­tur­ba­ções no es­paço aéreo que cul­mi­naram com o caos pro­vo­cado no úl­timo fim-de-se­mana.



Mais artigos de: Europa

Acesso comprometido

De­pois dos pro­testos de 10 e 24 de No­vembro, os es­tu­dantes vol­taram a sair às ruas do Reino Unido, no dia 30, anun­ci­ando novas ac­ções para esta se­mana contra os cortes e au­mentos das pro­pinas.

Estudantes bloqueiam cidades

No dia em que o parlamento italiano discutiu e aprovou a reforma do sistema universitário, centenas de milhares de jovens organizaram bloqueios em todas as principais cidades italianas. Várias estações ferroviárias, estradas e auto-estradas em cidades como Milão, Turim,...

Greve na <i>Finnair</i>

O pessoal de cabina da companhia aérea finlandesa está em greve desde dia 30 de Novembro, em protesto contra a alteração das condições de trabalho. Desde então mais de 920 voos foram anulados, afectando 46 700 passageiros, segundo dados da administração. Os...

Alemanha veta obrigações europeias

Num artigo publicado, na segunda-feira, 6, no jornal britânico Financial Times, o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, e o ministro italiano das Finanças, Giulio Tremonti, defendem a emissão de obrigações europeias «E-bonds» para contrariar a pressão dos...

Suíça viola direito internacional

A norma aprovada por referendo na Suíça que prevê a expulsão automática de estrangeiros condenados pela justiça foi considerada contrária ao direito internacional pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). Em conferência de...

O empobrecimento e a integração europeia

A gravidade da situação social do País, o empobrecimento crescente dos trabalhadores e da maioria da população, o aumento das desigualdades, não podem ser desligados da integração de Portugal na União Europeia. Em Janeiro próximo completam-se 25 anos...