Comentário

Razões acrescidas

Maurício Miguel

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A França e Grã-Bretanha reuniram-se a 2 de Novembro para a sua XXXI Cimeira, onde, entre outras coisas, assinaram um «tratado de cooperação em matéria de defesa e de segurança». Foi em 1998, em Saint-Malo, na sua XXI Cimeira, que as duas maiores potências militares da UE deram o primeiro passo para a sua militarização, cuja definição e contornos seriam concretizados alguns meses depois com a realização da Cimeira da NATO, em Washington, em Maio de 1999, constituindo-se o pilar europeu da NATO.

A França e a Grã-Bretanha procuram agora marcar de novo o ritmo e apontar novos desenvolvimentos para a militarização da UE, no quadro da NATO. O documento reafirma que a NATO se mantém como «o garante essencial da segurança na Europa» e que ambos os países partilham os mesmos objectivos para a próxima cimeira da NATO que se realizará em Lisboa a 20 de Novembro. Para os que podiam ver neste tratado uma autonomização em relação aos EUA, David Cameron, primeiro-ministro britânico, tranquilizou-os, afirmando em conferência de imprensa: «No que se refere à relação que temos com Washington, que é obviamente uma forte relação – é uma relação especial – eles querem que países europeus como a França e a Grã-Bretanha nos juntemos e partilhemos recursos para termos maiores capacidades.» A forma como as duas maiores potências militares da UE querem implicar os restantes países fica clara quando no documento se afirma: «Nós encorajamos todos os membros da UE a desenvolver as suas capacidades militares, civis e civis-militares, a fim de serem mais eficazes em matéria de segurança e de gestão de crises.» E mais: «Nós encorajamos uma cooperação mais estreita e a complementaridade entre a UE e a NATO». É evidente que as duas potências militares querem vincular mais os países da UE com a NATO e com o seu «novo conceito estratégico» que será decidido em Portugal, para mais guerras e militarização das relações internacionais, procurando rebocar os países que não são membros desta estrutura militar para dentro da sua estratégia. Esta decisão configura igualmente uma afirmação de força de Paris e Londres, pela via do seu poderio militar, no quadro da partilha de poderes dentro da UE, buscando um reequilíbrio no braço de ferro com a Alemanha, a grande potência económica, o país que hoje marca as grandes decisões da integração capitalista na UE.

França e Grã-Bretanha contam com mais de metade das despesas militares dos 27 países da UE e ambos possuem armas nucleares. Os dois países decidiram «cooperar» nas tecnologias ligadas à gestão dos seus arsenais nucleares, a fim de garantir a sua «capacidade de dissuasão». Acordaram também sobre a constituição de uma força conjunta de intervenção, «adaptada a uma série de cenários, incluindo operações de alta intensidade». Comprometeram-se a desenvolver um plano comum com vista à utilização das suas futuras frotas de aviões de transporte, a cooperação em matéria de investigação e tecnologia, consagrando cada país 50 milhões de euros, valor que deverá ser «aumentado» posteriormente. Comprometem-se com o desenvolvimento conjunto de novas gerações de «drones» (aparelho voador não tripulado – responsável pela morte de milhares de civis inocentes em vários países, nomeadamente no Iraque, Afeganistão, Paquistão e Iémen).

O complexo militar-industrial deu as boas-vindas às decisões tomadas. As empresas Dassault AviationBAE Systems (Grã-Bretanha) afirmaram em declaração conjunta que as decisões tomadas são «cruciais para que os dois países possam permanecer como actores reais neste sector estratégico» e que os «drones» são de «importância crítica» para o futuro da indústria. A Airbus, por seu lado, afirmou: «As condições para a cooperação com a indústria francesa nunca foram melhores.» (França) e a

Fica aqui evidente a quem serve o «tratado»: ao grande capital que se alimenta da indústria da guerra, que tem as mãos sujas com a morte de inocentes. O imperialismo, mostra de forma gritante a sua natureza agressiva e reaccionária perante a rearrumação de forças no plano mundial, desenvolvendo planos para intensificar o seu domínio sobre recursos naturais e mercados e acções com vista a sufocar as aspirações e a luta dos povos, pelo progresso social, a independência e soberania nacionais. Estas são razões acrescidas que justificam a participação de todos os defensores da paz na manifestação convocada pela campanha «Paz Sim! NATO Não!» para Lisboa a 20 de Novembro.



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