Protestos na Irlanda contra austeridade

Jovens rompem silêncio

Num momento em que o governo irlandês se prepara para apresentar um novo orçamento restritivo, os estudantes realizaram um poderoso protesto, no dia 3, contra os cortes efectuados na Educação e os novos aumentos das propinas e redução das bolsas.

Irlanda anuncia novos cortes na despesa

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Foram mais de 40 mil a manifestar-se ruidosamente nas ruas da pacata capital, Dublin. Escoltados pela polícia montada, os jovens enfrentaram corajosamente as cargas dos destacamentos de intervenção, sentando-se no chão e resistindo às brutais bastonadas dos agentes.

As cenas de violência, raramente vistas no país, acentuaram o descrédito popular do governo do Fianna Fail e seus aliados, que dispõem de uma curta maioria parlamentar. Um sinal desse desgaste foi a demarcação do principal partido da oposição, Fine Gael, ao anunciar, no domingo, 7, que não apoiará o próximo orçamento do Estado, exigindo eleições antecipadas.

A manifestação dos jovens agitou o marasmo social, em grande parte proporcionado pelas posições conciliatórias dos sindicatos. Nas t-shirts amarelas que envergavam lia-se: «Education, not emigration», um slogan que traduz a única perspectiva de futuro para a maioria – emigrar para encontrar trabalho, tal como fizeram sucessivas gerações dos anos 60 e 70.

Segundo o instituto irlandês ESRI (Economic and Social Research Institute), até 2015 deverão emigrar 150 mil pessoas. Os jovens são naturalmente os primeiros candidatos ao êxodo, já que um em cada três está desempregado e muitos terão de interromper os seus estudos por falta de meios.

Caso as medidas previstas sejam aprovadas, as propinas universitárias passarão dos actuais 1500 euros para três mil euros. Ao mesmo tempo o valor das bolsas de estudo será reduzido em dez por cento.

A tudo isto os jovens respondem: «No more cuts» (basta de cortes), «Daddy won’t pay» (o pai não pagará). Nos panfletos que distribuíram era explícito o apelo ao protesto social, e as manifestações em França realçadas como «um exemplo para todos na Europa».

 

Cortes e recessão

 

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Depois dos cortes orçamentais de 2009, que implicaram reduções dos salários e prestações sociais e aumentos dos impostos, provocando uma recessão de 7,5 por cento do Produto Interno Bruto, o governo irlandês anunciou, dia 4, um novo «ajuste» de seis mil milhões de euros do défice público em 2011.

O anúncio surpreendeu pela dureza, já que representa o dobro do esforço anteriormente previsto. O próprio ministro das Finanças, Brian Lenihan, reconheceu que a vida será ainda mais difícil para os irlandeses e que o crescimento económico será afectado de forma significativa, mas «os gastos e as receitas têm de estar mais alinhados».

E sobre este aspecto, as notícias não poderiam ser piores. O défice público atingirá este ano o valor recorde de 32 por cento do PIB, segundo confirmou o ministro. Mas como também esclareceu, esta taxa astronómica reduz-se para um pouco mais de um terço (11,9%) se se excluírem as ajudas do Estado à banca.

Só a «salvação» do Anglo Irish Bank, em Setembro passado, custou às finanças públicas cerca de 50 mil milhões de euros. Com tais despesas, não admira que um pequeno país com 4,5 milhões de habitantes e um PIB de 160 mil milhões de euros, esteja à beira da falência.



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