Documentos oficiais divulgados pela wikileaks

A ponta do iceberg dos crimes no Iraque

O site wikileaks divulgou cerca de 400 mil documentos secretos que confirmam que os EUA encobriram a tortura no Iraque e ocultaram a morte de civis. Os arquivos secretos são a ponta do iceberg dos crimes imperialistas no país.

 

«Os documentos revelam apenas uma parte da história»

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De acordo com os documentos oficiais – cujo conteúdo o governo norte-americano se recusa a comentar, apesar do Pentágono ter formado uma equipa de mais de uma centena de «especialistas» com o objectivo de avaliar as consequências do seu conhecimento público –, as forças armadas norte-americanas terão ignorado as práticas de tortura levadas a cabo por forças iraquianas e subcontabilizaram o número de mortos civis resultantes da ocupação.

Os dados reportam-se ao período entre 1 de Janeiro de 2004 e 31 de Dezembro de 2009, e indicam que pelo menos 109 mil pessoas, dos quais mais de 66 mil civis iraquianos, foram mortas pelos ocupantes e seus aliados locais.

O total de vítimas nos postos de controlo é um exemplo de registo por baixo, mas os relatórios difundidos pela wikileaks também reportam vínculos do governo títere de Nuri al-Maliki com os esquadrões da morte, execuções sumárias por parte do exército norte-americano e novos casos de assassinatos perpetrados por empresas de segurança privada como a Blackwater, sintetizou a al-Jazeera.

O fundador da página de Internet, Julian Assange, lembrou em entrevista a uma cadeia de televisão dos EUA que o conteúdo dos documentos não é, de facto, uma novidade para a administração norte-americana, mas para o resto do mundo confirma a responsabilidade das mais altas esferas políticas e militares dos EUA.

Face à publicação dos documentos, o governo da Suécia, país onde está alojado o servidor da wikileaks, recusou a autorização de residência e trabalho a Assange. No Verão, quando o australiano divulgou um acervo semelhante relativo à guerra do Afeganistão, duas cidadãs suecas apresentaram queixas por violação e abuso sexual. Assange desmentiu-as e, pouco depois, as queixas foram retiradas.

 

Apelos à investigação

 

Reagindo à disponibilização online dos relatórios, o vice-primeiro-ministro britânico, Nick Clegg, considerou as acusações «muito graves» e instou Washington a «investigar tudo o que leve a pensar que as regras de base da guerra foram violadas ou que a tortura pudesse ser de alguma maneira tolerada».

Também a ONU, através do relator especial contra a tortura, Manfred Nowak, exortou os EUA a esclarecerem o sucedido. Nowak afirmou mesmo que Barack Obama tem a obrigação moral de promover um apuramento dos factos, nomeadamente a cumplicidade dos militares norte-americanos com as torturas.

Para Nowak as informações mostram «claras violações da convenção da ONU contra tortura». O artigo 3 do tratado proíbe os países de entregarem prisioneiros a forças de segurança que constituam uma ameaça à sua integridade.

No mesmo sentido pronunciou-se o Conselho de Cooperação do Golfo Pérsico (CCGP). Os seis países árabes pediram aos EUA que averiguem os abusos denunciados, nomeadamente o envolvimento das forças armadas norte-americanas e a omissão de mortos civis em postos de controlo.

O Pentágono veio reiterar que não tem intenção de investigar os abusos.

 

Gota no oceano

 

Os textos disponíveis na rede virtual são anotações diárias feitas por militares norte-americanos. Apesar de confirmarem os crimes cometidos pela guerra e ocupação imperialista no Iraque, revelam, apenas uma parte da história.

Importa considerar que, apesar do esforço da wikileaks, os documentos são informações acumuladas pelo invasor, useiro e vezeiro na ocultação e transmutação da realidade sobre os acontecimentos no país. São relatos de soldados instruídos para calarem a verdade, por exemplo, contabilizando mortos civis como guerrilheiros.

Para além da fonte destes textos ser o exército norte-americano, acresce que carece ouvir e difundir a versão do povo iraquiano sobre as consequências da guerra e ocupação do seu próprio país, e cotejar estes testemunhos com os documentos oficiais.

Vale ainda a pena insistir que os EUA não se limitaram a «olhar para o lado» perante as torturas praticadas por forças iraquianas. Foram os norte-americanos que desmantelaram as forças armadas autóctones e colocaram no seu lugar novos militares por si instruídos.

Acresce que os documentos revelados pela wikileaks nada dizem sobre os primeiros nove meses de invasão e guerra (porventura dos mais sangrentos); os assaltos criminosos a cidades como Fallujah ou Samarra; os bombardeamentos indiscriminados ou os mortos em consequência do uso de urânio empobrecido ou fósforo branco.

Estamos, assim, perante a ponto do iceberg da guerra imperialista no Iraque.

 



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