Defender a indústria têxtil
Num jantar em Guimarães, no âmbito da campanha Portugal a Produzir, Jerónimo de Sousa afirmou que a indústria têxtil e do vestuário não tem que estar condenada. Mas para isso é necessário mudar de política.
Defender a indústria têxtil passa também por aumentar os salários
O jantar no salão do Grupo Cultural e Recreativo «Os Trovadores do Cano» culminou a jornada de Jerónimo de Sousa pelo concelho de Guimarães. À tarde, o Secretário-geral do PCP deu uma volta pelo centro histórico da cidade, que lhe permitiu contactar com muita gente e ouvir palavras de estímulo e incentivo, que prontamente retribuía.
À noite, perante largas dezenas de pessoas, o dirigente comunista salientou que o País não pode continuar a hipotecar o seu futuro. «Digam o que disserem os protagonistas da política de direita, sem mais produção, sem mais criação de riqueza, sem um forte crescimento económico não há solução para o problema do défice das contas públicas, nem do emprego, nem solução para o pagamento da dívida externa.»
Estando em Guimarães, concelho com forte implantação da indústria têxtil e de vestuário, Jerónimo de Sousa chamou a atenção para o definhamento quotidiano desta indústria. Salientando como explicação a «dinâmica conjugada de um patronato agarrado ao modelo de mão-de-obra barata», que perdeu segmentos importantes da cadeia de valor (como a fiação e a tecelagem), com uma política de «claudicação nacional ao serviço dos interesses dos grandes consórcios industriais europeus».
Consórcios esses que, para garantirem a entrada dos seus produtos, de elevadíssimo valor acrescentado, abriram as fronteiras às importações de países que apostam na produção massiva, para melhorar as condições de vida dos seus povos, como é o caso das economias emergentes. Jerónimo de Sousa lembrou em seguida que o PCP alertou para os prejuízos para a indústria nacional da entrada de Portugal na então CEE e do desmantelamento da protecção aduaneira dos têxteis a partir do ano 2000. Avisos estes que reafirmou depois, ao propor o accionamento de uma cláusula de salvaguarda aos têxteis nacionais – rejeitada pelos outros partidos.
Um crime
Para o Secretário-geral do Partido, é um «crime» o que está a ser praticado contra as pequenas e médias empresas nacionais. Estas empresas, realçou Jerónimo de Sousa, vêem o acesso ao crédito dificultado e, quando o obtêm, é com condições incomportáveis. Tudo isto, acusou, para «garantir os lucros monstruosos da banca».
Mas também os preços da energia são dos mais elevados da Europa, de que o recente aumento do preço do gás industrial entre 10 a 20 por cento é um «triste exemplo». Também neste caso para «assegurar que a EDP e a GALP tenham lucros obscenos de centenas de milhões de euros todos os anos».
O Secretário-geral do PCP referiu-se ainda às tarifas do tratamento de efluentes «desajustadas da realidade»; ao anúncio de fixação de uma «tarifa nacional para a água sem ter em conta as implicações na tesouraria das empresas»; à passagem para as autarquias da cobrança de taxas ambientais e à introdução de portagens nas SCUT como outras medidas que dificultam a existência da indústria têxtil naquela região do País.
Jerónimo de Sousa lembrou ainda que foi aprovado no Parlamento Europeu o acesso ao mercado da União Europeia de 13 categorias de produtos têxteis do Paquistão, apesar dos sucessivos alertas feitos pelos deputados comunistas. Índia e China também viram mais produtos seus serem autorizados a entrar no mercado europeu. Segundo industriais do sector, esta medida agravaria ainda mais a concorrência que já impõem à indústria têxtil europeia em geral e à portuguesa em particular, lembrou o dirigente do PCP.
Aumentar a produção
Chamando a atenção para a campanha do PCP Portugal a Produzir, Jerónimo de Sousa afirmou que ela é, também, uma «veemente denúncia da destruição a que o aparelho produtivo tem sido sujeito nas últimas décadas, pelas políticas de direita». Mas serve, também, para afirmar que «só com o aumento da produção nacional, substituindo as importações e alargando as nossas exportações, será possível dar resposta à difícil situação a que PS, PSD e CDS nos conduziram».
No sector têxtil, isso significa «intervir ao nível dos custos do crédito, da energia, dos transportes e da logística, de forma a melhorar a competitividade da indústria», propôs Jerónimo de Sousa. Acrescentando que tal implica, como o PCP defende, nacionalizar a banca comercial e a energia, «para as colocar ao serviço da economia nacional, dos trabalhadores e do povo». E também reverter a decisão de introduzir portagens nas auto-estradas até aqui isentas de pagamento.
Jerónimo de Sousa lembrou, a terminar, que defender a produção nacional e a indústria têxtil é «indissociável da defesa dos direitos dos trabalhadores e desde logo do aumento dos salários, do combate à precariedade e às baixas qualificações». Aumentar os salários não só é «socialmente justo» como é necessário para «alargar o mercado interno e a necessidade de as empresas produzirem». Assim, o PCP vai bater-se pelo cumprimento do acordo do aumento do salário mínimo para 500 euros em 2011, com o objectivo de atingir os 600 em 2013.