Os «marretas» da política de direita

Carlos Gonçalves

Antes do muppet show, série televisiva norte americana, já em português corrente os «marretas» eram teimosos, repetitivos e maledicentes, mas ganharam notoriedade com Statler e Waldorf, personagens muito próximos e parecidos, cuja intervenção, nos episódios da série, consistia em dizer mal, e estar quase sempre em «desacordo» mútuo, mas afirmando cada um deles, com frequência, o inverso do que antes dissera, mantendo-se assim em permanente «oposição», que lhes permitia a real convergência de posições face aos acontecimentos e factos diversos. Será talvez nos «marretas» que J. Sócrates/PS e P. Coelho/PSD assentam o paradigma da sua «oposição», para consumo mediático e clientelar, que é garantia da sua profunda identificação na política de direita.

Apenas dois exemplos que o espaço é curto – Sócrates foi a Mangualde, não para repor a justiça laboral contra a exploração e o desrespeito sistemático da lei na PSA - Peugeot Citroen, ou para dinamizar políticas agro-florestais que previnam a calamidade dos fogos na Serra da Estrela, mas para verberar as malfeitorias do projecto de revisão constitucional do PSD, que visa «a liberalização nos despedimentos», o «fim do serviço nacional de saúde e do sistema público na educação» e do «princípio constitucional do imposto progressivo». Com essa declaração «à esquerda» Sócrates fez do «ataque» ao PSD o pretexto para esconder que a sua política efectiva, no concelho e no país, é liberalizar os despedimentos, fechar serviços de saúde e escolas públicas e carregar nos impostos de quem menos pode.

Por sua vez P. Coelho exigiu no Pontal o corte na despesa pública, quando sabe que está em marcha no Governo PS a decisão da Comissão Europeia nesse sentido, e mistificou um «ultimato» com o não aumento de impostos, quando acabou de os aprovar no PEC. Com esta declaração «à direita» faz do «ataque» ao PS o pretexto para esconder o seu apoio efectivo à política prosseguida.

PS e PSD apoiam e vão persistir no apoio à política de direita – e por condição e opção de classe vão continuar bem juntinhos o «baile mandado» dos grandes interesses e do federalismo.

E tal e qual os «marretas» Statler e Waldorf, estão tão afinados na sua mútua «oposição» e maledicência, que não só apoiam e defendem a política de direita, como ambos se aproveitam da encenação. Alguém conhece o director artístico dos «marretas»?



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