A Moral comunista
A noção moral da intervenção comunista é indissociável da sua própria filosofia de acção. Os comunistas intervêm nos problemas da comunidade criticando, denunciando e propondo alternativas, com coragem e sempre falando com um só discurso impregnado nos princípios do marxismo-leninismo. Dizia K. Marx numa das suas cartas: «É repelente encontrarmo-nos sob um jugo, mesmo em prol da liberdade; é repelente darem-nos alfinetadas, em lugar de se andar à espadeirada. Estou farto da hipocrisia, da grosseira arbitrariedade, aborrece-me ter de me adaptar, de ter que ter em conta o mínimo reparo...». Esta atitude de conservar a liberdade pessoal mas de respeitar, simultaneamente, as linhas-mestras da luta de classes é moral e profundamente comunista.
A este aspecto básico que conjuga liberdade, determinação e disciplina política, juntam-se muitos outros valores que na sua totalidade traduzem a filosofia ética do marxismo-leninismo. Valores morais, no sentido da práxis, como honestidade, frontalidade, verdade e coragem. Escreveu W.I. Lenine: «A sinceridade em política ou seja, a sinceridade num domínio das relações humanas em que já não se trata de indivíduos mas de milhões de seres humanos, significa perfeita correspondência entre as palavras e os actos».
Em termos de História contemporânea, teremos de reconhecer que se muito se transformou na forma como os elementos políticos se combinam, muito pouco se alterou no fundo das relações entre as forças em presença. Os capitalistas continuam a mentir cinicamente e a jurarem em vão. Os comunistas conservam integralmente o seu projecto final de uma sociedade humana – universal e sem classes. São cada vez em maior número aqueles que tomam consciência da gigantesca trapaça capitalista e dos roubos grosseiros que praticam impunemente e o povo anónimo é obrigado a suportar na sua pele e no seu magro bolso.
Todo esse povo sabe agora que a sua luta contra as oligarquias capitalistas e religiosamente fanáticas terá necessariamente que endurecer.
E sabem ser sua a vitória final.
Os malabaristas da História
Nos relatos dos meios de comunicação social, o calendário da História parece desfolhar-se devagar. Na verdade não é assim. A História caminha a uma velocidade vertiginosa. Os ricos são cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Os mais ricos são relativamente cada vez menos numerosos mas muito mais ricos. E os pobres e os muito pobres representam incontáveis multidões de esfarrapados. Esta situação universal alastra vertiginosamente.
A súbita fortuna gera a sobranceria, o total egoísmo, o exibicionismo e a violência dos fortes sobre os fracos. A redução dos homens à miséria conduz ao desespero, à fome e à violência que a grande pobreza necessariamente desencadeia. Sobre estas realidades mais do que nunca actuais, falta fazer-se um mundo de revelações. Refira-se simplesmente uma delas, de forma superficial, tal como inevitavelmente questões tão profundas terão de ser abordadas num reduzido espaço. Aliás, retomaremos este tema logo que possível: enriquecimento prematuro, intervenção da doutrina, combate à pobreza e alastramento mundial da miséria. Eis o caso de que hoje se trata.
Os «Legionários de Cristo» são considerados no mundo católico como ponta de lança dos grupos eclesiásticos mais conservadores. Fundada há 60 anos e inscrita na linha do Opus Dei, a Ordem dos LC dirige actualmente, em vários países do mundo, 15 grandes universidade e outras 48 de dimensões menores. As universidades mais importantes formam politicamente os sacerdotes que depois ingressam nos níveis dirigentes da «sociedade civil», no alto clero e nas estruturas do Estado capitalista. Os outros colégios, quase todos situados no México, são frequentados por classes populares. Tal como o Opus Dei, os «legionários» aceitam, em cursos e programas diferentes, homens e mulheres como alunos. E, tal como o Opus Dei, veneram a figura do «fundador»: o padre Maciel tem para os LC a mesma aura de santidade que Escrivá de Ballaguer detém no OD.
A Ordem foi fundada pelo padre Maciel há 60 anos. Foi fundada durante a crise de 60 como arma de combate às ideias da Teologia da Libertação e no âmbito da contenção do comunismo. Diz combater a pobreza, mas dos seus bens actualmente conhecidos refere-se 63 universidades, 177 colégios e centenas de hectares de floresta virgem no Amazonas. Dispõe de um corpo docente de 3450 sacerdotes que dão ensino, anualmente, a 133 mil alunos. O seu braço laico principal é o «Reino de Cristo», com 75 mil membros organizados em células.
Durante a «guerra fria» (falsamente dada agora como encerrada) a LC fez-se notar pelo incondicional apoio que recebeu de Franco e de todos os ditadores que combatiam as crescentes ideias comunistas entre os fiéis católicos. «São ponta de lança da Igreja mais conservadora. Não permitem concessões nem perdem tempo... É pecado!», afirma-se num interessante artigo publicado no El País (curiosamente, também ele ligado à Igreja espanhola).
Eis um tema de interesse para as nossas reflexões futuras.