Sergey Rachmaninov (1873-1943)


 

Sergey Rachmaninov (refira-se, como muitas vezes acontece com a transcrição de nomes russos, há variantes; neste caso, é frequente ver-se escrito também Rachmaninoff ou Rakmaninov), vivendo a maior parte da sua vida num século de vanguardas e rupturas, teve o atrevimento de se assumir como último representante da grande tradição romântica, e triunfou. Tal como Liszt no séc.XIX, ele foi indiscutivelmente o mais notável pianista-compositor da sua geração. Mesmo que nunca tivesse escrito uma única nota, ficaria na história da música como tendo sido, em absoluto, um dos mais admiráveis tangedores de piano. Disso há comprovativos fonográficos. Não é pois de estranhar que boa parte das obras que compôs tenha sido para o instrumento que mais admirava: o piano. Muitas vezes peças de curta duração. Mas legou-nos também outras criações, incluindo sinfonias e uma ópera(Aleko). Sempre se dedicou intensamente à carreira de virtuoso, interpretando amiúde partituras de sua lavra.

Filho e neto de militares de alta patente, criado no seio de uma família abastada, parecia estar destinado à carreira de oficial do exército russo. Isto até o dia em que seu pai destruiu toda a fortuna familiar, abandonando o lar. Feliz infortúnio, pois a ele se deve em primeiro lugar o fenómeno Rachmaninov que aqui nos traz. Face à crise, seu primo Siloti, já então conhecido pianista e maestro, apercebendo-se dos talentos de Sergey enviou-o para Moscovo onde beneficiou do decisivo impulso pedagógico de N.Zverev, bem como, depois, do apadrinhamento do grande Tchaikovsky que tanto o inspirou.

Em consequência da Revolução de 1917 exilou-se no ocidente, tendo vivido na Suíça, França e nos EUA, onde morreu sem nunca ter conseguido atenuar as saudades da Rússia natal e do seu povo, alimento sonoro da sua música, como ele próprio afirmou.


Concerto N.º 2
3.º Andamento


Senhor de uma obra
quase integralmente realizada no século da atonalidade, Rachmaninov manteve-se entrincheirado num idioma musical oitocentista, fiel à tradição personificada em Tchaikovsky, mestre que tanto o incentivou no início da carreira. Prova de que o gesto criativo deve ser libérrimo não dependendo a sua excelência do recurso a idiomas musicais em voga ou a qualquer tipo de modernismos ou modas. Disso mesmo é paradigmático exemplo o concerto para piano e orquestra nº2. Grande obra romântica a que nenhum ouvinte pode ficar indiferente. O 3º andamento é o último, de acordo com a forma concerto clássica. Neste caso ele apresenta variadíssimos tempos, desde o alegro scherzando inicial, muito virtuosístico e exigente de grande técnica pianística, até o maestoso risoluto conclusivo. Neste andamento final é retomada a arrebatadora melodia principal, surgindo primeiro nos instrumentos de corda e passando depois para o piano. Uma melodia pungente que seduziu todo o tipo de melómanos, incluindo artistas de outras áreas, como o realizador Sir David Lean que a utilizou como banda sonora de uma obra-prima da 7ª arte, Breve Encontro (Brief Encounter - 1945), contribuindo assim para uma ainda maior popularidade da peça.

Rachmaninov sofreu em vários períodos da vida de profundas crises emocionais e depressivas. Depois do fracasso da sua Sinfonia nº1, em 1897, passou por uma grave crise e foi paciente do psiquiatra Nikolay Dahl que conseguiu restituir-lhe a autoconfiança viabilizadora desta magnífica partitura para piano e orquestra. Por essa razão, e muito justamente, o concerto nº2 é dedicado a Dahl, facto que é raramente referido.



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