A encruzilhada da luta
As celebrações oficiais dos 25 anos da assinatura do tratado de adesão de Portugal à então CEE, apesar da tentativa de pompa que os governantes actuais e antigos fizeram, passou ao lado da generalidade da população, dadas as circunstâncias em Portugal e noutros países da União Europeia. Vivemos um dos momentos mais agudos da luta de classes, desde que iniciaram o processo de integração capitalista na Europa, como contraponto ao processo de desenvolvimento socialista, após o fim da II Guerra Mundial, há mais de 50 anos. Como sabemos, tudo começou com uma CEE de seis países, depois sucessivamente alargada, para a qual Portugal entrou, em Janeiro de 1986, depois da assinatura do Tratado de adesão, em Junho de 1985, em simultâneo com a Espanha e, pouco depois, da Grécia.
As posteriores alterações aos tratados, com destaque para o Tratado de Maastricht, que aprovou a criação da união económica e monetária, origem da zona euro, acompanhadas dos sucessivos alargamentos, e, recentemente, do Tratado de Lisboa, culminaram na actual UE27, muito diferente da CEE a que Portugal aderiu.
Entretanto, chegámos à situação de crise actual, consequência das políticas que têm sido praticadas, o que foi ampliado pela crise do capitalismo, para a qual contribuíram os líderes da UE, com o endeusamento dos mercados, a prioridade dada à livre concorrência, à liberalização do comércio internacional, à livre circulação dos capitais, à financeirização crescente da economia, aos subsequentes ataques aos direitos sociais e laborais e a que a criação e alargamento da zona euro, com os critérios irracionais do Pacto de Estabilidade, deu a sua ajuda, completada pela liberal Estratégia de Lisboa..
Para falar só dos últimos dez anos, os próprios dados do Eurostat demonstram que somos um dos países com mais elevada taxa de desemprego oficial (10,8%, o que mais do que duplicou a taxa existente em 2000), de pobreza (18%) e de desigualdades na distribuição do rendimento, enquanto também aumentámos a divergência relativamente à média do crescimento económico na União Europeia, passando de um rendimento per capita em Portugal de 78% da média comunitária, em 2000, para apenas 76% em 2008, agravando a dependência externa e a dívida pública, o que demonstra bem a razão da oposição do PCP à adesão à zona euro.
Para quem tinha dúvidas sobre a caracterização da construção da União Europeia como um instrumento do capitalismo, agora pode constatar como estas políticas facilitaram a acumulação e centralização capitalista, abriram caminho a que os grupos económicos e financeiros aumentassem os seus lucros e tenham, hoje, com o desemprego e a pobreza, maiores possibilidades de agravar a exploração.
É possível a alternativa
Contra estas políticas intensificam-se em diversos países as lutas dos trabalhadores e das forças progressistas e revolucionárias, onde se destaca a grande manifestação de 300 mil pessoas em Lisboa, na resposta à convocatória da CGTP, no passado dia 29 de Maio, e as lutas noutros países, com o apoio das forças progressistas e revolucionárias. Teremos, este fim-de-semana, as acções de rua e manifestações que o PCP convocou para Lisboa, Évora e Porto, contra estas políticas do PEC em Portugal, que são a concretização das orientações e políticas da União Europeia.
Este é também um momento importante para uma campanha ideológica de denúncia do capitalismo e de apresentação da alternativa económica e social que é possível, o que permitirá ir criando as condições para a alternativa política que faça a ruptura e avance no sentido previsto no preâmbulo da Constituição da República Portuguesa, o caminho do socialismo.
As mudanças operadas no mundo, designadamente na América Latina, com o Brasil a obter taxas de crescimento previstas, para 2010, na ordem dos 7% do PIB, acompanhadas da criação de dois milhões de novos postos de trabalho, ou da Venezuela e da Bolívia, onde a pobreza e as desigualdades sociais diminuem paralelamente com a intervenção e o controlo crescente dos sectores estratégicos da economia pelo Estado, permitem tornar claro que, apesar das dificuldades, um outro mundo e uma outra Europa são possíveis, na base da solidariedade, do respeito do princípio da igualdade entre países soberanos, garantindo os direitos dos trabalhadores, apostando na produção e no emprego digno, promovendo serviços públicos de qualidade, respeitando o direito soberano dos povos a escolherem a sua opção em termos de organização económica, social e política, na defesa da paz e da cooperação com os povos de todo o mundo.