29 de Maio

Quatro notas e um compromisso

Paulo Raimundo (Membro da Comissão Política)

Mais de 300 mil pessoas manifestaram-se em Lisboa contra a política de desastre nacional do PS e PSD, uma massa imensa de indignação, protesto e luta que respondeu ao apelo da CGTP-IN e realizou a maior manifestação das últimas décadas.

A luta desenvolvida mostra que é possível alcançar vitórias

 

1. Luta nas empresas – batalha decisiva

 

A manifestação do passado sábado não é um acontecimento isolado, resulta da intensa luta desenvolvida em centenas de empresas e por diferentes sectores assumindo diferentes expressões. A sua dimensão resulta pois de um amplo processo de luta, da ligação do movimento sindical unitário aos trabalhadores e da realização de centenas de plenários e acções. Resulta da justeza das reivindicações dos trabalhadores que, aquando das grandes jornadas do 1.º Maio, tinham já mais do que razões para intensificar a luta.

 

2. O significado político

 

Na jornada de luta participaram homens, mulheres e jovens de todo o País, trabalhadores do sector privado e público, desempregados, trabalhadores precários, gente que há anos sofre as consequências de uma política desastrosa, que ataca direitos, destrói serviços públicos, vende a soberania nacional e mantém intactos todos os privilégios ao capital. Gente que veio a Lisboa protestar contra a injustiça que a politica de direita instalou no País, gente que nas ruas de Lisboa reafirmou a justeza das razões da moção de censura que o PCP apresentou na Assembleia da República.

Mas a jornada de dia 29 de Maio fica também marcada pela disponibilidade e determinação das centenas de milhares de pessoas que nela participaram de continuar a luta e concretizar a mudança de rumo político. Estes elementos ganham particular importância no quadro da brutal chantagem a que os trabalhadores e as populações têm sido sujeitos em centenas de declarações de condicionamento ideológico de comentaristas bem pagos, apelando à chamada «paz social», para que tudo fique na mesma. Esta jornada é, pois, uma enorme bofetada de luva branca em toda essa gente, uma vitória contra a chantagem, a resignação e o conformismo, aqui residindo o maior perigo para o PS/PSD, o capital e a sua politica de direita.

 

3. A resposta apressada do Governo

 

O Governo, pela voz ministra do Trabalho, veio rapidamente afirmar que não comentava números de manifestantes e, pasme-se!, que a situação não é compatível com contestação mas sim com a concertação e o diálogo. Será que a ministra se referia a esse diálogo que há mais de 30 anos vem impondo diversos PEC? O diálogo do Código de Trabalho, da legalização da precariedade, do roubo dos salários, do encerramento de escolas, centros de saúde, da venda do património público? Será que a ministra se refere ao diálogo que se apressou a retirar as pontuais medidas sociais de apoio aos desempregados e que dois dias depois reafirmou manter todos os apoios ao sector financeiro, esse sector profundamente prejudicado com a crise, que apenas teve 5,5 milhões de euros de lucro por dia no primeiro trimestre de 2010? Bem pode a ministra apelar ao diálogo. O que não consegue esconder é o facto de o PS há muito ter optado com quem dialogar e concertar.

 

4. O futuro

 

As medidas dos PEC constituem uma nova fase da ofensiva da política de direita mas há muito que o capital e os seus apoiantes tentam a sua implementação. Coloca-se assim como questão decisiva para derrotar as intenções da política de direita travar cada uma das suas medidas nas empresas e locais de trabalho, em cada terra e localidade.

Cada conquista salarial, cada derrota imposta ao patronato, cada acção popular assume-se como um importante contributo para a derrota da política de direita.

A ofensiva é de grande dimensão e está longe de ter chegado ao fim, logo a luta dos trabalhadores será necessariamente dura, persistente e prolongada e terá de assumir em cada momento as formas que se coloquem como necessárias e possíveis. No entanto, e no seguimento da grandiosa jornada do passado sábado, é o aumento da luta sectorial, nas empresas e locais de trabalho, a mais urgente batalha a continuar.

Não escamoteando dificuldades reais, o poder do inimigo de classe dos trabalhadores, a dimensão da chantagem, da pressão e do medo instalado e, acima de tudo, não esquecendo o momento de resistência em que nos encontramos, a luta desenvolvida por milhares e milhares de trabalhares neste início do ano revela que é possível derrotar as intenções do Governo e do patronato, alargar e ampliar a frente social de luta e que, mantendo a pressão através da luta, é possível não só derrotar cada uma das medidas dos PEC como ter vitória concretas.

 

O compromisso

 

Os trabalhadores e as populações terão sempre no PCP um partido que tudo fará para os esclarecer, animar e mobilizar para as suas lutas. Terá um colectivo de homens, mulheres e jovens profundamente empenhados na defesa dos direitos de quem trabalha e na construção de um País soberano e independente. O povo conta e contará com este Partido que não vergará em momento algum e cujos militantes sempre se encontrarão, como até agora, na primeira linha de todos os combates justos e contra a política de direita.

Hoje mesmo, enquanto na Assembleia da República se discute mais um conjunto de medidas de um plano de exploração concreto para os mesmos de sempre, os jovens comunistas desenvolvem em vários pontos do País diversas acções de esclarecimento, de luta e protesto contra as medidas do PEC. Ou seja, PCP e JCP não baixam os braços! Confiam nos trabalhadores, nas populações e na juventude e são o factor central de esperança e de confiança no futuro!



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