Terrorismo de Estado

Luís Carapinha

Daí a im­por­tância de não faltar, dia 2, à con­cen­tração de pro­testo junto à Em­bai­xada de Is­rael, em Lisboa

A no­tícia chegou cedo na manhã de se­gunda-feira. Is­rael havia ata­cado mi­li­tar­mente a missão hu­ma­ni­tária mul­ti­na­ci­onal que na­ve­gava em di­recção à Faixa de Gaza, pro­vo­cando de­zenas de mortos e fe­ridos.

Trata-se de mais um crime ig­no­mi­nioso do re­gime si­o­nista de Tel Aviv a juntar a um rol ex­tenso de ro­ti­neiras atro­ci­dades e à mais brutal e sis­te­má­tica vi­o­lação dos di­reitos hu­manos exer­cida, há dé­cadas, por Is­rael nos ter­ri­tó­rios árabes ocu­pados e dentro das suas fron­teiras.

Ao lançar os seus co­mandos as­sas­sinos contra os ac­ti­vistas e tri­pu­lantes in­de­fesos da «Frota da Li­ber­dade», Is­rael não só in­correu em mais um inau­dito acto de ter­ro­rismo de Es­tado e de pi­ra­taria, co­me­tido em plenas águas in­ter­na­ci­o­nais – e que seria pas­sível de deixar as­som­brado o mais in­tré­pido dos me­diá­ticos grupos de pi­ra­taria a ac­tuar ao largo das costas so­malis e do Corno afri­cano.

Mais além da con­fir­mação do zelo ca­nino em manter o férreo e cruel blo­queio a Gaza e a ocu­pação da Pa­les­tina, cer­rando a mais ténue fresta ne­go­cial que possa ser vis­lum­brada, o go­verno is­ra­e­lita da «co­li­gação negro-cinza» de Ne­tanyahu, Barak, Lieberman & Cia as­sume, com esta pér­fida acção, a res­pon­sa­bi­li­dade pre­me­di­tada de um salto na es­ca­lada e de­ses­ta­bi­li­zação de toda a si­tu­ação no Médio Ori­ente.

Nem o facto de o as­salto is­ra­e­lita ter sido efec­tuado pela ca­lada da noite nem o aper­tado cerco in­for­ma­tivo im­posto pelas forças is­ra­e­litas até ao mo­mento em que estas li­nhas são es­critas, podem ocultar a sanha par­ti­cular em «cas­tigar» a Tur­quia que a in­ves­tida ar­mada da ma­dru­gada de se­gunda-feira também re­vela.

 

Pre­ci­sa­mente quinze dias antes do mas­sacre em águas do Me­di­ter­râneo, os EUA, a UE e o acó­lito si­o­nista ha­viam per­dido a com­pos­tura face ao acordo tri­par­tido as­si­nado entre o Irão o Brasil e a Tur­quia, que ob­jec­ti­va­mente «de­sar­mava» a ló­gica das so­lu­ções da força por si ad­vo­gadas contra os di­reitos so­be­ranos do Irão, em torno da cha­mada «questão nu­clear».

A re­acção im­pe­ri­a­lista àquela que foi to­mada como uma in­to­le­rável in­tro­missão de países que re­pre­sentam as cha­madas po­tên­cias emer­gentes foi quase ful­mi­nante. Em menos de 48 horas os EUA pres­si­o­naram o anúncio, ac­tu­ando como «porta-voz» dos países per­ma­nentes do CS da ONU mais a Ale­manha, de um novo pa­cote de san­ções contra o Irão que, entre ou­tras me­didas, prevê a re­a­li­zação de ins­pec­ções ex­tra­ter­ri­to­riais de cargas «sus­peitas» pro­ve­ni­entes ou com des­tino ao Irão. Obama te­le­fonou ao aliado turco da NATO, para dar conta ao pri­meiro-mi­nistro Er­dogan do forte des­con­ten­ta­mento com a ve­lei­dade de An­cara. E Washington pulou do tra­pézio di­plo­má­tico no re­la­ci­o­na­mento com Bra­sília. Hil­lary Clinton «chamou o seu a seu dono» ao afirmar, há dias, que o re­la­ci­o­na­mento do Brasil com o Irão torna o «mundo mais pe­ri­goso».

Re­giste-se, ainda, que horas antes da brutal agressão contra o com­boio de so­li­da­ri­e­dade que ru­mava a Gaza, Ne­tanyahu re­jei­tara a par­ti­ci­pação do seu país na im­ple­men­tação do acordo saído do en­cer­ra­mento, dia 28, da con­fe­rência de re­visão do Tra­tado de Não Pro­li­fe­ração (TNP)da ONU. Apro­vada por 189 países, a de­cla­ração traça, pela pri­meira vez, o ob­jec­tivo da cri­ação de uma zona livre de armas nu­cle­ares no Médio Ori­ente e faz uma tí­mida re­fe­rência à in­cor­po­ração no TNP de Is­rael – que é o único país na re­gião que detém a arma nu­clear.

 

A acção do go­verno si­o­nista não deixa de ser um acto de fra­queza. A ten­tação do ir­ra­ci­o­na­lismo e a saída da fuga para a frente afirmam-se pe­ri­go­sa­mente na ac­tual com­plexa e vo­látil si­tu­ação in­ter­na­ci­onal. Is­rael não se pode dar ao luxo de con­ti­nuar a por­fiar no seu pa­drão de ini­qui­dades, sem o apoio das grandes po­tên­cias im­pe­ri­a­listas e antes de mais do «amigo ame­ri­cano». Há que re­do­brar a vi­gi­lância face ao par­tido da guerra neste nosso tempo em que a es­tag­nação e a crise ca­pi­ta­listas ame­açam afundar o mundo no abismo. Daí a im­por­tância de não faltar, dia 2, à con­cen­tração de pro­testo junto à Em­bai­xada de Is­rael, em Lisboa.



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