Terrorismo de Estado
Daí a importância de não faltar, dia 2, à concentração de protesto junto à Embaixada de Israel, em Lisboa
A notícia chegou cedo na manhã de segunda-feira. Israel havia atacado militarmente a missão humanitária multinacional que navegava em direcção à Faixa de Gaza, provocando dezenas de mortos e feridos.
Trata-se de mais um crime ignominioso do regime sionista de Tel Aviv a juntar a um rol extenso de rotineiras atrocidades e à mais brutal e sistemática violação dos direitos humanos exercida, há décadas, por Israel nos territórios árabes ocupados e dentro das suas fronteiras.
Ao lançar os seus comandos assassinos contra os activistas e tripulantes indefesos da «Frota da Liberdade», Israel não só incorreu em mais um inaudito acto de terrorismo de Estado e de pirataria, cometido em plenas águas internacionais – e que seria passível de deixar assombrado o mais intrépido dos mediáticos grupos de pirataria a actuar ao largo das costas somalis e do Corno africano.
Mais além da confirmação do zelo canino em manter o férreo e cruel bloqueio a Gaza e a ocupação da Palestina, cerrando a mais ténue fresta negocial que possa ser vislumbrada, o governo israelita da «coligação negro-cinza» de Netanyahu, Barak, Lieberman & Cia assume, com esta pérfida acção, a responsabilidade premeditada de um salto na escalada e desestabilização de toda a situação no Médio Oriente.
Nem o facto de o assalto israelita ter sido efectuado pela calada da noite nem o apertado cerco informativo imposto pelas forças israelitas até ao momento em que estas linhas são escritas, podem ocultar a sanha particular em «castigar» a Turquia que a investida armada da madrugada de segunda-feira também revela.
Precisamente quinze dias antes do massacre em águas do Mediterrâneo, os EUA, a UE e o acólito sionista haviam perdido a compostura face ao acordo tripartido assinado entre o Irão o Brasil e a Turquia, que objectivamente «desarmava» a lógica das soluções da força por si advogadas contra os direitos soberanos do Irão, em torno da chamada «questão nuclear».
A reacção imperialista àquela que foi tomada como uma intolerável intromissão de países que representam as chamadas potências emergentes foi quase fulminante. Em menos de 48 horas os EUA pressionaram o anúncio, actuando como «porta-voz» dos países permanentes do CS da ONU mais a Alemanha, de um novo pacote de sanções contra o Irão que, entre outras medidas, prevê a realização de inspecções extraterritoriais de cargas «suspeitas» provenientes ou com destino ao Irão. Obama telefonou ao aliado turco da NATO, para dar conta ao primeiro-ministro Erdogan do forte descontentamento com a veleidade de Ancara. E Washington pulou do trapézio diplomático no relacionamento com Brasília. Hillary Clinton «chamou o seu a seu dono» ao afirmar, há dias, que o relacionamento do Brasil com o Irão torna o «mundo mais perigoso».
Registe-se, ainda, que horas antes da brutal agressão contra o comboio de solidariedade que rumava a Gaza, Netanyahu rejeitara a participação do seu país na implementação do acordo saído do encerramento, dia 28, da conferência de revisão do Tratado de Não Proliferação (TNP)da ONU. Aprovada por 189 países, a declaração traça, pela primeira vez, o objectivo da criação de uma zona livre de armas nucleares no Médio Oriente e faz uma tímida referência à incorporação no TNP de Israel – que é o único país na região que detém a arma nuclear.
A acção do governo sionista não deixa de ser um acto de fraqueza. A tentação do irracionalismo e a saída da fuga para a frente afirmam-se perigosamente na actual complexa e volátil situação internacional. Israel não se pode dar ao luxo de continuar a porfiar no seu padrão de iniquidades, sem o apoio das grandes potências imperialistas e antes de mais do «amigo americano». Há que redobrar a vigilância face ao partido da guerra neste nosso tempo em que a estagnação e a crise capitalistas ameaçam afundar o mundo no abismo. Daí a importância de não faltar, dia 2, à concentração de protesto junto à Embaixada de Israel, em Lisboa.