Dançam a música que o capital toca

João Frazão

Sócrates foi a Espanha falar com empresários para, segundo alguns órgãos da comunicação social, valorizar as potencialidades do nosso país, afirmando-o como um país moderno, com as reformas essenciais já feitas.

Pelo meio, e depois de ter feito umas gracinhas quanto ao seu «portunhol», explicou aos ditos empresários que «para dançar o tango são necessários dois e antes não tinha par», mas houve um «cambio» na oposição e agora já tem par.

Já nessa manhã o Ministro da Defesa, Luís Amado, tinha dedicado uma parte da entrevista que deu ao Diário Económico à temática da contradança que espera concretizar com o PSD, afirmando àquele matutino que «sem uma grande coligação formal ou informal, as reformas ficarão em banho maria».

Dá a ideia que os dois governantes andam um pouco desencontrados com a música. Por duas razões essenciais.

A primeira porque coligação sempre houve. Aliás, se alguma coisa se pode dizer dos últimos 34 anos, é que nunca faltou, nem ao PS nem ao PSD, par no Vira do «ora agora danças tu, ora agora danço eu». E que também nunca lhes faltou a contribuição do CDS, a bailar muito alinhadinho pela direita extrema.

E a vida confirma que, um e outro, sempre acertaram o passo no Baile Mandado que tem sido a política de direita, que tem feito andar o povo português num verdadeiro Corridinho.

A segunda é que, ao contrário do que diz Sócrates, não será a música da Argentina, imortalizada pelas vozes de Carlos Mardel ou Astor Piazzolla, a ser dançada pelo primeiro ministro e pelo líder do PSD, Passos Coelho.

A música que embala os passos dos dois é aquela que o capital tocar em cada momento. E os acordes que se ouvem no momento presente, são de origem alemã, pelo que é previsível que os encontremos a dançar alguma Valsa de Merkel.

Ou, como dizia a canção, a Valsa da Burguesia.

O que conta é que os trabalhadores e o povo, dia 29 de Maio, Avenida da Liberdade abaixo, mostrarão como se dança a Marcha da indignação, do protesto e da luta.

 



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