Contra a exploração capitalista Contra o roubo do salário

Armindo Miranda (Membro da Comissão Política)

Não foi há muito tempo que foram justificados sacrifícios então pedidos aos portugueses com a necessidade de, entre outras razões, reduzir o défice público, tornar a nossa economia mais competitiva e mais à frente melhorar as condições de vida dos portugueses. Ao mesmo tempo, foram colocados à disposição dos banqueiros, vinte mil milhões de euros.

É muito claro o conteúdo de classe das políticas do Governo PS

Na mesma altura, o PCP avisou que essas medidas apenas levariam ao aumento da exploração dos trabalhadores e correspondente aumento dos lucros do grande capital. Passados cerca de três anos – e para mal dos trabalhadores, dos reformados e pensionistas e de muitos milhares de micro e pequenos empresários que, entretanto, foram à falência – verificamos que mais uma vez a vida nos deu razão: a vida dos portugueses piorou de forma dramática e particularmente daqueles que têm como única riqueza a sua força de trabalho em permanente desvalorização e, no caso de 700 mil, nem conseguem sequer vendê-la.

Fazem parte do exército de reserva de desempregados que tanto jeito dá ao capital, que o usa como chantagem, na negociação dos salários. A situação económica do País sofreu um preocupante agravamento. Só os grupos económicos, os grandes capitalistas – que em alguns casos duplicaram mesmo a sua fortuna – e os banqueiros é que ganharam com estas medidas: os principais bancos tiveram em 2009, e continuaram a ter no primeiro trimestre de 2010, cerca de cinco milhões de euros por dia de lucro.

Neste mesmo período aumentou o número de portugueses a viver no limiar da pobreza e, de forma ainda mais dramática, cresceu o número daqueles que sofrem as consequências do mais vil atentado contra os direitos humanos – a fome. Muito claro o conteúdo de classe da política do Governo PS.

E, como se tudo isto não fosse já suficientemente cruel e desumano, aí estão eles de novo, a pretexto da especulação financeira provocada por eles, da crise económica gerada e agravada por eles, da instabilidade dos mercados instigada por eles (não são os trabalhadores, os reformados e pensionistas que jogam na bolsa!), a exigirem novos sacrifícios e a esmifrarem ainda mais os já depauperados bolsos dos mesmos de sempre – os trabalhadores e o povo português.

É o aumento dos impostos, e de forma particular o IVA, que vai provocar o aumento dos preços, nomeadamente dos artigos de primeira necessidade, castigando assim os que menos têm. É o roubo nos salários, com a criação de um novo imposto, e no subsidio de desemprego. Mais uma ofensiva contra os direitos sociais, particularmente com o aumento das despesas da saúde para os utentes. E, como não podia deixar de ser, mais benefícios para os capitalistas com as privatizações.


Esclarecer e mobilizar


Conforme concluiu o Comité Central do PCP na reunião realizada na passada segunda-feira, tudo ao contrário daquilo que o País precisa – de um projecto nacional de desenvolvimento e crescimento económico, onde a produção nacional e a consequente criação de riqueza, nas diversas componentes da nossa economia, seja o eixo fundamental da politica económica, podendo mesmo levar à taxação de algumas importações para abrir espaço à produção nacional; onde o aumento dos salários e pensões e o consequente aumento do consumo não seja visto como um inimigo mas sim como um aliado do desenvolvimento económico; em que seja aplicada uma nova política fiscal, no sentido de uma mais justa distribuição da riqueza; e onde o Estado tenha em seu poder as alavancas que lhe permitam recuperar a autoridade democrática e constitucional para decidir dos destinos do País (e não os grupos económicos, como acontece agora).

São os sectores estratégicos da economia, motor fundamental da concretização deste patriótico e necessário projecto de desenvolvimento ao serviço dos trabalhadores, do povo e do País. Provocar a ruptura com a política de direita é um passo decisivo para concretizar este caminho.

Participar no dia 29 na manifestação nacional convocada pela CGTP-IN é estar na luta contra este roubo dos salários levada a cabo pelo capital, PS e PSD, mas também contra esta política de desgraça nacional e por uma outra, justa e solidária. Até lá, a principal tarefa de cada militante e simpatizante do Partido é, por isso mesmo, esclarecer e mobilizar toda a gente a participar nesta grande jornada de luta.

 



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