Pelos salários e os direitos, contra a exploração

Trabalhadores começam ano em luta

O ano de 2010 iniciou-se com o regresso dos trabalhadores à luta, caminho que é a mais sólida resposta às investidas do capital, que procura fazer recair sobre quem produz a factura da crise, e, à boleia desta, aumentar a extorsão da mais-valia e espezinhar direitos.

A burguesia quer impor retrocessos económicos e sociais

Nos sectores privado e público, os trabalhadores enfrentam os ataques do patronato e dos governos ao seu serviço. Defendem salários e direitos, revoltam-se contra a exploração e exigem liberdade sindical e melhores condições laborais, procuram manter na esfera do Estado sectores estratégicos alvo da gula da burguesia.
As lutas que durante o mês de Janeiro se desenrolaram, um pouco por todo o mundo, confirmam a resistência dos trabalhadores e das suas organizações de classe às pretensões da burguesia, apostada em impor retrocessos económicos e sociais.
Na Índia, por exemplo, mais de 450 mil funcionários públicos da região de Caxemira realizaram uma greve de 48 horas pela equiparação dos respectivos direitos aos dos funcionários do Estado central, e pela regularização dos vínculos dos trabalhadores temporários, enquanto que em Gujarat os operários das fábricas de tijolos levaram a cabo várias acções de luta reagindo à recusa da associação industrial local em negociar as propostas sindicais para o sector. Os trabalhadores exigem receber pelo menos o salário mínimo nacional (cerca de 2 euros por dia), rejeitam horários de 12 e 14 horas, não abdicam das remunerações em atraso, e exigem fardamentos e equipamentos que garantam condições mínimas de segurança no trabalho, bem como água, electricidade e escolas para os filhos que os patrões deixaram de fornecer. Ainda na Índia, o pessoal não docente da Universidade de Patna mantém-se em luta, pela segunda semana consecutiva, em defesa do pagamento dos salários de Dezembro e da respectiva remuneração durante o período de protesto.
No Bangladesh, os trabalhadores portuários agendaram ocupações pacíficas de alguns portos depois do ministro da Marinha ter despedido mais de dois mil estivadores e subcontratado empresas para os serviços portuários - transferindo para a sua alçada os trabalhadores antes afectos à gestão pública daquelas infra-estruturas; e na Austrália, em Melbourne, os gráficos e operários do grupo editorial Fairfax pararam a laboração durante dois dias em defesa de um novo acordo de empresa. Os trabalhadores exigem aumentos de 9 por cento nos próximos três anos, mas os patrões pouco mais oferecem do que 2 por cento, exigindo, em contrapartida, aumentos de produtividade e flexibilidade laboral, menos três dias de férias e o não usufruto de um dos feriados nacionais.
No Egipto, os trabalhadores das finanças da província de Kafr el-Sheikh protestaram, junto ao Ministério, no Cairo, em defesa da equiparação das respectivas regalias, salários e direitos aos dos demais funcionários, ao passo que os trabalhadores da empresa de telefones da província de Helwan reivindicaram o pagamento de três meses de salários em atraso. Igualmente em África, mas na do Sul, os trabalhadores ferroviários da empresa que gere a rede suburbana de Joanesburgo estão em luta contra a alteração das respectivas escalas de serviço e exigem a reintegração dos 200 camaradas despedidos depois de um protesto anterior.

Orquestra de protestos

Nos EUA, até os músicos das orquestras protestam contra os cortes salariais nas filarmónicas de Seattle e Cleveland. Os artistas não acolhem os cortes de até 12,5 por cento aceites pelos colegas de Baltimore, Cincinnati, Filadélfia ou Atlanta.
Mais a Norte, no Canadá, os trabalhadores municipais de Montreal iniciaram um conjunto de jornadas de luta, agendadas para os próximos 40 dias, em defesa de um novo contrato, negado pelas autoridades locais desde 2007. Na mesma cidade, os 253 trabalhadores do Journal de Montreal mantêm há um ano um braço-de-ferro com a administração. Os patrões pretendem despedir 75 trabalhadores, aumentar a carga horária em 25 por cento e cortar 20 por cento dos benefícios contratuais.
Do outro lado do globo, na China, os trabalhadores da United Win Technology paralisaram a produção contra os cortes salariais, por condições de higiene e segurança no trabalho e em protesto contra o cancelamento, pelo segundo ano consecutivo, do pagamento dos bónus anuais, enquanto que no Camboja os operários de uma fábrica de sapatos no distrito de Choam Chao abandonaram a linha de produção em protesto contra o despedimento de três dirigentes sindicais e em defesa da liberdade de organização sindical na empresa.
Na Indonésia, os trabalhadores municipais voltaram aos protestos pela actualização do salário mínimo, que actualmente ronda os 90 euros, e no México, os pilotos da Aeromexico autorizaram a associação sindical a convocar uma greve contra o desrespeito por parte da administração de garantias contratuais, tais como o pagamento de seguros de saúde, despesas de medicamentos e baixas médicas, isto para além de não transferir para o sistema de previdência as tranches descontadas aos salários dos pilotos. Na capital, os trabalhadores afectos ao Sindicato Mexicano dos Electricistas acamparam por tempo indefinido na principal praça da cidade contra o desmantelamento da empresa pública de energia.


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