No limiar de uma nova década

Albano Nunes (Membro do Secretariado)
Estamos no limiar de uma nova década. Entramos nela com renovados motivos de confiança no projecto revolucionário do Partido e no papel insubstituível do PCP ao serviço dos trabalhadores e do povo. Mas também de sérios motivos de preocupação com o rufar cada vez mais alto dos tambores de guerra imperialista que os EUA, agora com o Iémen, estão a espalhar pelo mundo.

A luta de classes é uma realidade incontornável

Uma nova década... Os especialistas em cenários especulativos sobre a situação internacional que tanto gostam de datas simbólicas, aí estão uma vez mais com os seus iluminados vaticínios sobre a década que agora começa. Mas vê-se que estão inseguros e inquietos, que os abandonaram as «certezas» dos anos de ouro do capitalismo que se sucederam às trágicas derrotas do socialismo, vêem-se forçados a reconhecer que a evolução mundial não foi a que desejavam e anunciaram. Depois de uma «década perfeita», ou seja, de vertiginoso e violento avanço do imperialismo, a década passada foi, no dizer de dois conhecidos analistas do Público de 30 de Dezembro, uma «década imperfeita» ou mesmo uma «década perdida».
Mas se na marcha triunfante do capital surgiram dificuldades que não previram, o «fim da História» (vide triunfo incontestado do capitalismo), em lugar de desmentido e ridicularizado, ficou, a seu ver, apenas «adiado». Há por isso que manter firmemente o rumo. Mesmo se os EUA estão em declínio é em torno desta super-potência e sob a sua liderança que o imperialismo deve unir-se prosseguindo o reforço da NATO, o fortalecimento da União Europeia como bloco imperialista, a corrida armamentista, a intensificação do anticomunismo e dos ataques a liberdades e direitos fundamentais e as agressões a países soberanos. A insólita campanha desencadeada por Obama a pretexto do «atentado falhado» do dia de Natal vem certamente confortar o seu desprezo pelos valores da paz e da amizade entre os povos. É porém mais que provável que a vida lhes reserva novas decepções.

Afirmações de soberania

A luta de classes é uma realidade incontornável. Nunca e em parte alguma os trabalhadores e os povos se submeteram voluntariamente à ditadura do capital. Só a força bruta pode sufocar as aspirações de liberdade, justiça e progresso social, e mesmo assim só temporariamente e sem nunca conseguir apagar a chama libertadora que os comunistas e os seus ideais libertadores encarnam. A «década imperfeita» ou «perdida» que surpreendeu os apologistas do capital, não representou ainda, muito longe disso, uma viragem na situação internacional, mas comprovou que, mesmo sem o poderoso contra-peso que a URSS e o campo socialista representavam, é possível resistir, lutar e vencer.
A «nova ordem» imperialista totalitária que os EUA e seus aliados querem impor ao mundo está a ser seriamente questionada. Cresce a resistência dos povos à ocupação imperialista, como no Afeganistão. Há valiosas afirmações de soberania e mesmo avanços revolucionários, nomeadamente na América Latina. Está em curso, com o crescente papel internacional da China e de outros países, uma rearrumação de forças no plano internacional – que a Conferência de Copenhaga confirma – com uma forte componente anti-imperialista.
O movimento comunista, apesar dos atrasos e debilidades que persistem, deu passos importantes no sentido da sua recuperação como a grande força revolucionária da época contemporânea. E, não menos importante, a profunda crise estrutural e sistémica que se manifestou no sistema capitalista, tornou ainda mais evidentes as suas contradições e limites históricos, a exigência da sua superação revolucionária, a necessidade dos partidos comunistas e do seu projecto socialista e comunista.

Apontar a alternativa

Entramos num novo ano e numa nova década armados com a confirmação prática das análises do nosso Partido quanto à evolução da situação internacional e em particular quanto ao acerto da tese central de que, em tempos que são ainda de dura resistência e acumulação de forças, grandes perigos coexistem com grandes potencialidades de desenvolvimento progressista e revolucionário.
A exigência do socialismo é tão flagrante e o nó de contradições do mundo contemporâneo é tal que os comunistas devem estar política e ideologicamente preparados para rápidos e imprevisíveis desenvolvimentos, tanto de sentido reaccionário como progressista e revolucionário. O fundamental é que os comunistas estejam lá onde devem estar, com a classe operária e as massas, defendendo intransigentemente os seus interesses frente à ofensiva do capital e apontando uma clara alternativa.
É neste sentido que apontam as análises e orientações do XVIII Congresso do PCP e as decisões do Comité Central de 21 e 22 de Novembro a que estamos a dar vida. Com confiança de que a nova década em que agora entramos pode ser a da derrota das mais reaccionárias e perigosas pretensões do imperialismo e de viragem no sentido da soberania, da paz, do progresso social e do socialismo.


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