Contas da crise

Carlos Gonçalves
A «mensagem de Natal» do Eng.º Sócrates, em substância, expressou duas ideias - a de que, agora sim, está a chegar a «retoma» e a de que o Governo PS vai prosseguir as mesmas políticas no Orçamento de Estado(OE) de 2010. A «instabilidade institucional» foi omitida.
A mensagem foi comentada por Aguiar Branco do PSD, que aderiu à tese do fim da crise em 2010 e referiu o «desejo» e «fé» num «primeiro passo» do Governo PS no OE, para a sua viabilização pelo PSD. O CDS fez saber que pretende «medidas» que encaixem nos «nichos eleitorais» que tem privilegiado.
O PR Cavaco Silva, em substância, disse, dias antes, que enquanto primeiro ministro sem maioria na AR foi capaz de aprovar dois OEs, que o PS viabilizou.
M. Rebelo de Sousa há mais de dois meses que faz campanha para que o OE do PS seja viabilizado pelo PSD. Rui Machete, há 22 anos(!) Presidente da Fundação Luso-Americana, fez saber que apoia um acordo PS/PSD no OE. Os senhores do dinheiro, pelo que disseram há pouco e hoje calam - para não atrapalhar -, deixam evidente que querem um OE viabilizado, que leve ainda mais longe esta política.
E estamos conversados. Pese embora a vitimização e dramatização do PS – muito conveniente para ocultar responsabilidades actuais e futuras nesta política de declínio do País -, pese embora a «instabilidade institucional», real e virtual, instigada pelos objectivos e agenda política de PS, PSD e PR, facto é que há um monte de soluções para viabilizar um OE 2010 que dê continuidade à política de direita - por abstenção, por um queijo limiano, ou pelo que quer que seja.
Passada a fase em que o PS dizia combater o neoliberalismo (que sempre venerou ao serviço do capital financeiro e da concentração da riqueza), a questão relevante do OE é agora a de saber até que ponto avança a política de direita relativamente ao défice orçamental. Daniel Bessa, ex-ministro PS, propõe cortar 10 000 milhões de Euros no défice em 2010(!). Mesmo que não vão tão longe, é evidente o endereço da factura aos trabalhadores e às populações laboriosas.
A crise, essa não está para acabar - só na roleta da bolsa e nos lucros da banca e das grandes empresas -, está para ficar e agravar-se, no desemprego, no ataque aos direitos, na dívida externa, na divergência com a UE, nos défices estruturais, na destruição do tecido produtivo...
As respostas não estão no OE e nas políticas da crise, de PS e PSD. Estão na luta, na ruptura e na alternativa.


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