Hospital de São José

Limpeza à parte

As luzes do Natal iluminaram mais um episódio de discriminação do pessoal de limpeza, a agravar o quadro de trabalho no Hospital de São José ao serviço da Iberlim.

Pedir desculpa por fazer greve dá «recompensa»

«As mulheres da limpeza já podem vir almoçar» - o «convite» para o almoço de Natal do Hospital de São José, em Lisboa, na passada sexta-feira, chegou por volta das três da tarde, por telefone, à «casinha» que funciona como local de trabalho de cerca de 200 funcionárias. Estas trabalhadoras da limpeza hospitalar, que passaram para os quadros da Iberlim há pouco mais de um ano, fazem ali o serviço que, em muitos casos, já faziam há vários anos por conta de outras prestadoras externas.
O episódio de discriminação, iluminado com as luzes do Natal, é apenas mais um traço no negro cenário em que realizam o seu trabalho.
Já se sabia que as trabalhadoras e trabalhadores da Iberlim - empresa do grupo Trivalor que é uma das maiores no sector - ganham salários baixos e que, mesmo os 470 euros que resultaram de uma portaria de extensão, em 2008, não são pagos a quem se declara associado do sindicato da CGTP-IN, o STAD. Este, aliás, foi um dos motivos das várias greves e protestos, que ocorreram em Maio e Junho de 2008 e ao longo de 2009, abrangendo a Iberlim e outras empresas. Após essas lutas, em que foram exigidos «serviços mínimos» sem razão, seguiram-se retaliações contra o sindicato e contra alguns trabalhadores. Esta situação foi abordada pelo presidente do Grupo Parlamentar do PCP, que apresentou, no início de Dezembro, uma pergunta à ministra do Trabalho.
Após a greve de 8 de Maio deste ano, por exemplo, vários trabalhadores foram «castigados» com processo disciplinar ameaçando despedimento. Poucos meses depois (e antes de mais uma semana de paralisações parciais, em Julho), foi colocada à disposição desses trabalhadores uma carta de resposta à nota de culpa da empresa. Aí, é sugerido a cada trabalhadora ou trabalhador que reconheça que foi «mal informado» pelo STAD sobre os serviços mínimos e que peça desculpa por ter causado algum incómodo à Iberlim.
Além de retirar o «castigo», a assinatura de tal missiva pode ter ainda como recompensa o pagamento do salário segundo o valor legal mínimo dos 470 euros, se for concretizado o abandono do sindicato da CGTP-IN.
Resistindo a estas pressões, as trabalhadoras da limpeza do Hospital de São José sofrem ainda outras gritantes discriminações, inexplicáveis, mesmo pelos superiores hierárquicos que as fazem valer. Ao refeitório do hospital não podem ter acesso, excepto aos domingos. Também estão proibidas de usar o bar do hospital, no piso acima do refeitório. No outro bar, concessionado e com preços mais caros (o que conta muito, para o pessoal mais mal remunerado do hospital), podem tomar refeições... mas só em pé, não lhes é permitido sentar-se à mesa.
O curioso é que, após a última greve, foi organizado no mesmo refeitório um «lanche» para quem não aderiu à luta, com a participação de Teresa Ribeiro, representante da administração do hospital para a área da limpeza, o que torna esta administração conivente com as práticas da Iberlim.
O descontentamento cresce, quando a tudo isto se somam as muito deficientes condições de higiene, segurança e saúde no trabalho a que as trabalhadoras da limpeza estão sujeitas. A «casinha» - onde «picam o ponto», vestem a roupa de trabalho, tomam refeições, usam instalações sanitárias... - está a servir também de arrecadação. Mostraram-nos fotografias com armários muito degradados e com o uso do chuveiro e da sanita impedido por baldes, sacos, caixotes...
Terá havido uma acção inspectiva, há uma ou duas semanas, mas a ACT não contactou a estrutura sindical.
A resposta dos trabalhadores, asseguram-nos, vai continuar a ser a mesma: resistir e lutar, com a razão que lhes assiste e sob formas que vão continuar a analisar em cada momento concreto.

DM


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