OIT apela a mudança de paradigma político

Desemprego para ficar

Mais de 40 milhões de pessoas podem ficar definitivamente arredadas do mercado de trabalho caso não sejam tomadas medidas apropriadas ou se retirem prematuramente medidas já adoptadas, afirma a Organização Mundial do trabalho.

A crise lançou 20 milhões no desemprego desde 2008

No «Relatório Mundial do Trabalho – A Crise Global e Perspectivas», a Organização sediada em Genebra alerta que o fim dos estímulos económicos poderá atrasar durante anos a recuperação do emprego e tornar «débil e incipiente» a retoma económica.
«A crise mundial de emprego não foi superada» e «a recuperação económica só será alcançada quando se restabelecer o emprego», afirmou Raymond Torres, Director do Instituto Internacional de Estudos do Trabalho e principal autor do relatório, apresentado no dia 7.
No mesmo sentido pronunciou-se Juan Somavia, Director-Geral da OIT: «Este relatório confirma que a menos que se tomem e se mantenham as medidas decisivas para apoiar o emprego, a recuperação genuína, com emprego, será desnecessariamente protelada. Esta e a crise anterior demonstram a necessidade de mudar o actual paradigma político por um que esteja centrado nas pessoas e no acesso ao trabalho condigno.»
Os autores do estudo acreditam que «a duração e o alcance da crise de emprego poderiam ser reduzidas» se as medidas de estímulo e as políticas em geral colocarem o «emprego e a protecção social no centro da resposta à crise».
Uma dessas medidas passa por incentivos fiscais orientados para a criação de emprego, o que, segundo a OIT, «aumentaria o emprego em cerca de sete por cento».

Perspectivas sombrias

O relatório afirma, com base nas estimativas do FMI, que nos países mais desenvolvidos o emprego não voltará aos níveis anteriores à crise antes de 2013, a menos que sejam tomadas medidas mais eficazes.
Já nos países emergentes e em desenvolvimento, a organização admite que o emprego poderá começar a recuperar a partir de 2010, mas não alcançará os níveis anteriores à crise antes de 2011.
Entretanto, a situação de milhões de desempregados é dramática já que só um terço dos países em desenvolvimento proporciona subsídios de desemprego ou algum tipo de protecção social aos trabalhadores que perdem o seu emprego.
O relatório assinala ainda que «milhões de trabalhadores» mantiveram os seus postos de trabalho graças a ajudas governamentais. Porém, a grande maioria está com jornada reduzida, desemprego parcial ou trabalho involuntário a tempo parcial.
Sem as actuais ajudas do Estado, cinco milhões destes trabalhadores perderiam de «imediato» os seus empregos nos 51 países analisados no estudo da OIT.
Outra projecção do relatório indica que mais de 40 milhões de pessoas que actualmente não têm trabalho, das quais pelo menos 20 milhões perderam-no desde Outubro de 2008, poderão ficar definitivamente excluídas do mercado de trabalho.
«Este risco é particularmente elevado no caso de trabalhadores pouco qualificados, imigrantes e trabalhadores com idades mais avançadas, bem como no caso das pessoas que procuram incorporar-se no mercado pela primeira vez», salientou Raymond Torres.
O estudo indica ainda que a percentagem de pessoas inactivas em idade de trabalhar começou a aumentar nos países desenvolvidos, enquanto nos países em desenvolvimento se perderam empregos de qualidade e os trabalhadores afectados procuram sobrevivência no sector informal ou fazem parte dos trabalhadores pobres.


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